Dois jovens que inicialmente não se entendem bem, mas acabam descobrindo novas perspectivas de vida juntos e acabam se apaixonando. A fórmula não é nova quando se trata da literatura e do cinema, mas parece funcionar bem quando o gênero em questão é um romance, com uma boa dose de drama e um toque de comédia.
O filme ‘Como Eu Era Antes de Você’, adaptação do romance best-seller homônimo de Jojo Moyes, sobre o qual escrevi aqui, aposta em elementos bem desenvolvidos na produção para atrair os espectadores, muito além das lágrimas para as quais já esperam dentro das salas de cinema. Sua fotografia é intensa, cheia de elementos cênicos e de encher os olhos, com belas locações do interior do Reino Unido. As cores são intensas, fazendo até mesmo com o que o frio retratado pareça acolhedor com suas boas tomadas de jardins, flores, gramados e até do castelo, que serve como cartão-postal da história.
O roteiro adaptado pela própria escritora segue fiel à sua obra. Obviamente, carece da riqueza de detalhes e das reflexões profundas e sentimentalistas que caracterizam o livro. Alguns elementos-chave, como o relato profundo de um abuso sexual e a presença rebelde da irmã de Will, que eu acredito serem fundamentais para o desenvolvimento de boas cenas, ficaram de fora. Ainda assim, a história se desenvolve bem quanto à relação conturbada e envolvente dos dois personagens principais, resultando em uma análise sobre o que realmente são as escolhas dos seres humanos, como experiências traumáticas podem ser diferentes para cada indivíduo e de como as coisas nem sempre terminam como realmente desejamos.
Além do drama e do forte apelo emocional da história, sobre o caso de amor da cuidadora atrapalhada e que se veste de um jeito excêntrico (o figurino, aliás, é um show à parte!) com um jovem rico e imobilizado por uma cadeira de rodas, que não aceita bem a reviravolta de sua vida anteriormente agitada, a direção bem feita pela inglesa Thea Sharrock recorre a expressões e situações cômicas que quebram um pouco o peso provocado pela proposta principal do roteiro. Emilia Clarke, conhecida pelo seu papel intenso como Daenerys Targaryen de ‘Game Of Thrones’, até exagera nos trejeitos de sua personagem – o que acaba caindo bem. Sua química com Sam Clafin, que dá vida a Will Traynor, também dão um bom resultado, ainda que algumas cenas careçam um pouco de uma lentidão maior na troca de olhares e nos diálogos. Mas ainda assim, a escolha dos protagonistas pareceu o ideal.
Indo adiante, o elenco do filme aposta em bons nomes. Matthew Lewis, conhecido por seu papel como Neville Longbottom, é o namorado pouco atento e super convencido de Lou no início. Jenna Coleman, por sua vez, é uma boa surpresa como Treena, irmã bem centrada da protagonista. Steve Peacocke, por sua vez, traz uma imagem completamente diferente do que pode ser imaginado por alguns do cuidador principal, Nathan, tornando-se uma figura mais forte. Charles Dance (mais um nome de ‘GOT’) e Janet McTeer, pais de Will, trazem a frieza esperada de um casal rico e pouco afeiçoado a sentimentos, mas que tentam fazer o possível para que seu filho retome a vontade de viver e desista da ideia de um suicídio assistido como solução. Janet, aliás, mostra muito da fragilidade de uma mãe que não sabe mais o que fazer e recorre a uma máscara impenetrável na maior parte do tempo. Camilla Traynor é, afinal, um ser humano fragilizado debaixo de uma postura impecável.
São as cenas familiares, inclusive, as responsáveis por trazer uma dose do sempre ótimo e ácido humor inglês, que dão um diferencial ao filme diante dos típicos romances norte-americanos e não deixam com que ele caiam no lugar-comum do velho conhecido “água com açúcar”. Os pais de Lou, Bernard e Josie, bem interpretados por Brendan Coyle e Samantha Spiro, mostram o melhor que uma família suburbana pode ter, ainda que as aparências sejam muito melhores e pouco revelem sobre suas reais condições financeiras.
Por fim: apesar de não trazer grandes novidades para o gênero, o filme é bem executado. Aqui, o que fica mais em foco é a questão de respeitar as escolhas dos indivíduos e fazer o melhor para que elas sejam encaminhadas da melhor forma possível. A existência humana é, afinal, cheia de complexidades que nem sempre estão dentro do nosso entendimento.
Sua trilha sonora, composta por nomes como Ed Sheeran, Imagine Dragons, Cloves e X Ambassadors, é um dos seus elementos mais atrativos e casa bem com cada uma de suas cenas. O ponto mais acertado do longa metragem!