Patriotismo. Sentimento profundo presente no cidadão americano desde sua nascença. Andar pelas ruas do país e não enxergar uma bandeira azul, vermelha e branca é quase impossível. As visões americanas sobre um país perfeito e superior aos outros fazem parte do sentimento de amor pela bandeira. Muito se deve às guerras, mas muito se fortaleceu após o ataque de 11 de setembro.
No último domingo, o ataque às Torres Gêmeas completou 15 anos. Nesse período, o cinema, principalmente o americano, passou a representar ataques terroristas com uma visão mais própria e convicta da verdade. Diante dos dois lados de uma guerra, ambos acabam perdendo muito.
Nos últimos 15 anos, filmes americanos trataram de representar o quão prejudicial foi o ataque, mas também mostrar o lado heroico americano. ‘As Torres Gêmeas’ (2006) procurou passar uma visão mais interna dos ataques, mostrando policiais e bombeiros soterrados. O drama procura passar todo o sofrimento e luta dos profissionais que fizeram de tudo para salvar vidas restantes e se salvarem. Com uma proposta um tanto quanto diferente, ‘Reine Sobre Mim’ (2007) também procurou passar o lado ruim do ataque, trazendo a história de dois colegas da faculdade, onde um tenta se recuperar da morte da mulher e filhas por consequência do ataque. “O ato de terrorismo é muito visto de forma maniqueísta, na qual o terrorista é malvado e quer fazer mal pra pessoas de bem”, disse o professor de atualidades e geografia da Oficina do Estudante, Daniel Simões, para o site UOL.
Com uma tentativa realista de mostrar uma história deixada um pouco de lado na época, “Voo United 93” (2006) e “Voo 93” (2006) trazem a história dos passageiros que salvaram a Casa Branca. Além das Torres Gêmeas, o Pentágono foi outro alvo do ataque e dentre os mais de mil aviões que estavam sob céu americano naquele dia, um atacaria a Casa Branca. A aeronave marcada para o ataque foi derrubada em uma afastada fazenda pelos próprios passageiros. Os dois longas aqui citados, um feito diretamente para a TV e outro para o cinema, traz a tensão e nervosismo dos passageiros do voo, além de toda sua bravura contra os terroristas ali presentes.
Conspirações não faltaram para tentar explicar o porquê do ataque, tanto que 15 anos depois, ainda existem especialistas estudando o caso e criando as mais diversas teorias da conspiração. Se a ficção tentou trazer o máximo de realidade às telas, a “verdadeira realidade” não foi o que o faltou. Documentários e mais documentários não deixaram de existir nos últimos anos, e muitos deles extenuaram pontos bem distintos. Talvez um dos documentários mais conhecidos, ‘Fahrenheit 9/11’ (2004) trata das causas e consequências dos atentados, fazendo referência à posterior invasão do Iraque, além de tentar decifrar segredos americanos, como um vínculo entre as famílias do presidente George W. Bush e de Osama Bin Laden. O diretor Michael Moore procurou trazer um ar mais realista e uma verdade que muitos procuravam esconder, ou quem sabe, não acreditar. Sua vitória em Cannes ajudou o documentário a ganhar notoriedade e reconhecimento no universo cinematográfico, além de gerar uma discussão política entre os americanos e no mundo todo.
‘11’09’’01’ (2002) é outro documentário, mas este reúne 11 diretores de países diferentes para refletirem sobre os ataques. Composto de curtas, o documentário reúne visões e explicações próprias, além de transmitirem o sentimento de cidadãos não americanos. ‘Inside 9/11’ (2005) e ‘102 Minutos que Mudaram o Mundo’ (2008) são outros dois documentários que tratam dos eventos, mas enquanto o primeiro procura focar mais no grupo terrorista, o outro passa o sentimento de terror e tensão do tempo do ataque.
Apesar dos Estados Unidos sofrerem o ataque mais significante de todos, não é só de Torres Gêmeas que vive o terrorismo, e muito menos o cinema. Spielberg levou aos cinemas no ano de 2005 ‘Munique’, obra que trata do ataque terrorista ocorrido durante as Olimpíadas de Munique em 1972. E não são só os filmes americanos que abordam a questão do terrorismo. ‘Sahid’ (2012) mostra o lado “injusto” da coisa. O filme mostra a história de Shahid Azmi, um ativista dos direitos civis e advogado que foi assassinado em 2010, acusado de ligações terroristas.
Não existe apenas um lado da história, por isso devemos nos questionar: e o outro lado? ‘Os Cavalos de Deus’ (2012) narra a história de quatro amigos que são seduzidos pelo Grupo Islâmico Combatente Marroquino (GICM), a aderirem às suas crenças religiosas e políticas. Assim, jovens cujas vidas estavam destinadas à pobreza e infortúnio são atraídos por uma religião que oferece a disciplina e a orientação de que precisavam. ‘Paradise Now’ (2005) é outro longa que passa uma visão do outro lado do muro, onde vemos os palestinos Khaled (Ali Suliman) e Said (Kais Nashef), amigos de infância recrutados para realizar um atentado suicida em Tel Aviv. Depois de passar com suas famílias o que teoricamente seria a última noite de suas vidas, e sem poder revelar a sua missão, eles são levados à fronteira. A operação não ocorre como o planejado e eles acabam se separando. Distantes um do outro, com bombas escondidas em seus corpos, Khaled e Said devem enfrentar seus destinos e defender suas convicções.
Obras como ‘Invasão a Casa Branca’ (2013), ‘A Soma de Todos os Medos’ (2002) e ‘O Ataque’ (2013) trazem aquele sentimento patriota e do heroísmo americano contra o suposto “mau”. Como já foi dito anteriormente, não existe um lado certo na guerra, nos ataques e nas batalhas, os dois perdem, apesar de sempre no final existir um suposto “vencedor” – geralmente aquele que conta a história. São suas famílias, são seus amigos e o seu país que saem perdendo. Então, até que ponto, exatamente, existe um vencedor ou um lado correto? Essa pergunta, é só para aqueles que sofreram as consequências.