[et_pb_section bb_built=”1″][et_pb_row][et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text _builder_version=”3.12.2″]
As relações humanas normalmente acontecem através de troca de favores. Seja na amizade, por dinheiro ou chantagem, mas a todo momento, acabamos realizando algum favor a alguém. E pelo menos uma vez na vida, isso dá errado. O que é normal, somos humanos e graças a isso temos a tendência de errar algumas muitas vezes. Nisso “Um Pequeno Favor” se relaciona bem com os espectadores, mas só em primeira instância.
Jessica Sharzer explorou sua habilidade de linguagem adolescente para adaptar a também história jovem da autora Darcey Bell. E como o cinema tem o prazer em realizar adaptações, Jessica já deu o primeiro passo certo, adaptando já logo desde a primeira página do livro de forma certeira. E isso conversa muito com a linguagem que o longa quer trazer à história e também da personagem.
Enquanto na obra literária de Darcey, Stephanie escreve para um blog, Anna Kendrick a interpreta como uma vlogger, exemplificando a qualidade da roteirista em conversar diretamente com o público jovem-adulto. Isso permanece até a última linha, com a história sendo contada de forma dinâmica e com um humor muitas vezes ácido e certeiro. Contudo, estamos falando de uma adaptação literária, portanto, os erros são bem presentes.
Não muito na história em si, mas principalmente em sua montagem. Isso porque Jessica já começa não sendo linear, mas no meio do filme, a linearidade aparece e mais pra frente são introduzidos flashbacks aleatórios só para apresentar algo importante, mas que ficou fora quando era preciso ser mostrado. O que reforça a bagunça do roteiro.
Entretanto, Jessica consegue estruturar uma história divertida e um suspense interessante devido a toda tensão criada e as constantes viradas, mas que, diferente de “Buscando…” (2018), são muitas vezes forçadas e outras muito previsíveis. Essas escolhas também provocam um incômodo, já que tudo é jogado para o último ato, deixando os últimos 30 minutos recheados de viradas.
Outro incômodo está no humor. Muito próximo ao estilo de Paul Feig, a comédia textual de Jessica tem seus ápices, mas no geral é um tanto infantil e genérico, sendo passageiro, com momentos de risos baixinhos, gargalhadas gostosas e silêncio vergonhoso. Mas, ao todo, ainda consegue ser divertido.
Muito disso também vai da presença de Feig da direção. Apesar de suas comédias padronizadas, que particularmente não me encantam em nada, “Um Pequeno Favor”, no geral, é um acerto. Muito também devido ao elenco. Anna Kendrick e Blake Lively se mostraram perfeitas em tela.
As duas foram primorosamente bem escolhidas para seus papéis, já que suas devidas personagens trazem uma personalidade que combinam com as atrizes. Por mais que não as conhecemos pessoalmente, é difícil explicar como isso acontece, mas é natural. No entanto, a direção de Feig segue o roteiro de Jessica e se há erro em um, há erro no outro. Feig, especificamente, não seguiu um padrão de direção e bagunça ainda mais o texto.
Tanto no ato inicial quanto no final, Feig entrega uma comédia divertida, mas no meio do filme, com mínimas justificativas narrativas, mantêm um padrão de suspense. Por mais que não exclua totalmente o espectador da história, transmite certo incômodo no tratamento, com um certo exagero em várias das cenas, principalmente nas dezenas de viradas nos minutos finais.
E o mesmo acontece com as personagens. Suas transformações tendem a ser naturais, mas passam por certa forçação com o passar do tempo. E na própria narrativa também, já que o longa começa do ponto de vista de uma delas, mas, no meio, o espectador passa a ver as coisas do ponto de vista da outra.
Isso quebra um pouco a intenção inicial e a escolha narrativa da personagem de Anna, principalmente. Enquanto no livro, Stephanie mantém as publicações no blog, no filme, seus vlogs aparecem quando, aparentemente, o roteiro tem vontade. No caso, o que deveria ser um fio condutor da narrativa – como aparenta ser no livro – acaba se tornando só uma característica não muito bem aproveitada e que justifica o final da personagem.
O exagero, no entanto, estraga muito da história. A narrativa consegue seguir um padrão, mas aos poucos vai crescendo situações desnecessárias e foge da proposta inicial.
Mas nada técnico quebra a diversão que “Um Pequeno Favor” fornece. Como entretenimento, o filme funciona bem e distrai durante suas duas horas, mesmo com diversas inconsistências e um padrão mal trabalhado. A importância, no caso, está em seu divertimento e na curiosa história de amizade e conflito em um roteiro não muito original, mas que entrega a história que o público jovem-adulto gosta de consumir.
[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]