O sucesso de um filme – pelo menos quando se trata da bilheteria – muitas vezes depende da publicidade que ele recebe antes ou assim que estreia nos cinemas. Quase sempre essa publicidade antes do filme traz resultados positivos e embora ainda não saibamos se “Não Se Preocupe, Querida” irá bem nas bilheterias, todas as polêmicas por trás dos bastidores certamente aumenta a expectativa da qualidade do filme ao mesmo tempo em que já deixa seus espectadores com um pé atrás. Caso você não tenha ficado sabendo e esteja com preguiça de jogar no google, o filme que marca o segundo trabalho de Olivia Wilde como diretora esteve cercado de diversas polêmicas, desde a mudança de elenco, quem deveria ter feito o papel de Jack era o Shia Labeouf, que diz ter pedido pra sair da produção, enquanto Olivia Wilde diz ter demiti-lo, até o romance de Olivia com o Harry Stiles (que substituiu Shia Labeouf), passando pelas alegações de que Olivia e Florence Pugh tiveram desavenças e que a atriz recebeu menos que Harry Stiles, ainda que seja a protagonista. O que se passou exatamente por trás das câmeras, nós provavelmente jamais saberemos e ainda levantou mais uma dúvida: o filme será tão interessante quanto às polêmicas que saíram sobre ele? A resposta simples é não, mas ele não é ruim como poderia se esperar.
Em “Não Se Preocupe, Querida”, Alice (Florence Pugh) e Jack (Harry Stiles) são o casal perfeito, que leva uma vida perfeita em sua casa perfeita dentro da vizinhança perfeita e muito cedo já fica óbvio que as coisas são perfeitas demais para serem verdade. A vida em Victory, uma cidade meticulosamente planejada em meados dos anos 50, é simples – e perfeita. Os homens, todos bonitos e bem arrumados, saem para trabalhar em seus carrões no mesmo horário todos os dias, o trabalho fica numa área da cidade que as mulheres não podem visitar e ninguém sabe ao certo o que os homens fazem lá, mas é tudo tão lindo que ninguém tem vontade de questionar. Enquanto os maridos trabalham, as mulheres ficam em casa, fofocam com as vizinhas, fazem compras, aulas de ballet ou cuidam dos filhos.
Jack e Alice formam um casal feliz e realizado. Eles optaram por não ter filhos e aproveitam a vida de casal como ninguém, frequentam festas com os amigos, fazem sexo no meio do dia bem em cima da mesa de jantar, estão sempre rindo e sempre juntos, isso até Margaret (KiKi Layne), uma das vizinhas de Alice, passar a ter comportamentos estranhos depois de chegar perto da área proibida da cidade. Nenhum dos outros habitantes parece se importar muito com Margaret, mas suas atitudes erráticas servem como um gatilho para Alice, que começa a notar certas coisas que antes passavam desapercebidas e sua realidade passa a apresentar algumas rachaduras.
Até esse momento, toda a premissa é muito interessante, os personagens intrigantes e a atuação de Florence Pugh, intensa como em Hereditário e eletrizante do começo ao fim, prendem nossa atenção formam um belo arco para o ato final, mas é aí que o filme começa a cometer alguns deslizes que comprometem sua excelência. Muito se esperava de Olivia Wilde como diretora, principalmente depois de sua estreia no incrível Fora de Série, e mesmo que ela não tenha se superado em seu segundo filme, ainda faz um bom trabalho que prova sua competência como diretora, com exceção de uma ou outra cena que aparece mais por extravagância do que para avançar a trama e o excesso de referências a outros filmes do gênero. O que realmente prejudica o longa é o roteiro, que peca no ritmo da distopia e decepciona no clímax que não entrega tudo que promete, nem explora tão bem quanto poderia os seus pontos mais fortes, se mantendo raso até em suas maiores tentativas de crítica social.
Além de Florence Pugh, que segue mantendo seu nível lá em cima produção após produção, Chris Pine, vivendo o enigmático Frank e Gemma Chan, que faz sua esposa Shelley também chamam a atenção como o casal com um ar de vilanesco que comanda Victory com um clima de ceita. Olivia Wilde, que além de dirigir, atua como Bunny, vizinha do casal protagonista, faz um bom trabalho na frente das câmeras também. Já Harry Stiles, de quem muito se especulava, permanece num limbo, ele faz um Jack um tanto quanto apático e pouco expressivo e fica a dúvida se essas são apenas características do personagem ou uma falha do cantor, mas é evidente a discrepância de talento quando ele contracena com Pugh nas cenas mais viscerais e fica basicamente apagado, no entanto não ser tão bom quanto Florence Pugh, uma das melhores atrizes de sua geração, não significa automaticamente que ele não é um bom ator. Seus próximos trabalhos provavelmente nos dirão.
Caso tivesse sido encarado apenas como um novo filme a ser lançado, sem todo o buzz por conta das controversas do elenco nos bastidores, muito provavelmente seria mais bem recebido – tanto pela crítica quanto pelo público. É um filme bom, ainda que não muito original e provavelmente continua valendo a ida ao cinema, pelo menos por uma vez.