SRA. HARRIS VAI A PARIS | UM FILME DESPRETENSIOSO E DIVERTIDO PARA AQUECER O CORAÇÃO

Feel-good movie é um termo em inglês para definir filmes de final feliz, mais do que isso, filmes que vão fazer você se sentir bem (essa é a tradução ao pé da letra), aqueles filmes que, por mais que tenham conflitos, eles não são absurdamente complexos ou devastadoramente tristes e situações não tão lógicas, mas satisfatórias adornam o enredo. “Sra. Harris Vai a Paris” é a perfeita definição de um feel-good movie. Uma protagonista generosa e ingênua, um sonho, Paris e romance, tem como dar errado? A resposta é não, mesmo quando parece que sim.

Inspirada numa série de livros do final dos anos 50, época em que se passa a história, a Sra. Harris (Lesley Manville) é uma diarista que acabou de perder seu marido na guerra. Ela leva uma vida muito simples e sem ambições, trata todos seus clientes como se fossem amigos, apesar de nenhum deles ter a mesma consideração com ela e sua diversão é ir a bailes do bairro com sua amiga e também diarista Vi (Ellen Thomas) e vez ou outra apostar em corridas com o agente e também amigo Archie (Jason Isaacs). Sua vida segue na monotonia de sempre, até que na casa de uma de suas clientes mais abastadas, Sra. Harris vê um vestido novo e fica absolutamente impressionada (ela trabalhava vez ou outra como costureira para complementar a renda), é um Dior e custou 500 libras. De repente, Sra. Harris tem um sonho: ir a Paris para comprar seu próprio vestido na Maison Dior.

Ela então começa a juntar dinheiro para a viagem e com umas boas coincidências – ou muita sorte – ela consegue fazer sua viagem, mas é claro que as coisas não são tão fáceis assim. Ela chega na sofisticada sede da Christian Dior, e é recebida por um choque cultural que ela não esperava. É claro que ela tem o dinheiro em mãos, mas para frequentar certos lugares é necessário muito mais do que só o dinheiro. Ela até que é bem recebida por quase todo mundo, aqui os franceses têm bom coração, boas intenções e parecem nunca terem encontrado alguém com a simplicidade de Sra. Harris em suas vidas, mas duas personagens preenchem o estereótipo de francesas esnobes, Claudine Colbert (Isabelle Huppert) é a diretora da Maison Dior e não aceita que uma diarista inglesa sem consciência de regras de etiqueta possa adquirir um item exclusivo da grande Dior, concordando com seu pensamento temos também a Madame Avallon (Guilaine Londez), que está determinada a ficar entre Sra. Harris e seu vestido dos sonhos.

Todos os outros personagens parecem encantados com Sra. Harris, que acaba sendo uma catalisadora de mudanças radicais e necessárias na vida de todos eles, principalmente de André Fauvel (Lucas Bravo), o contador da Maison Dior apaixonado por filosofia e cheio de vontade, mas não de coragem, para mudar os hábitos de Dior e a jovem modelo e aspirante a atriz Pamela Penrose (Rose Williams), que quer mais de sua vida além de ser valorizada apenas pela sua aparência. Já havia um interesse múltiplo entre eles, mas é só depois da chegada de Sra. Harris, que faz as vezes de fada madrinha, que os dois têm coragem de agir sobre seus sentimentos.

Muita coisa no filme vai parecer absurda ou difícil de acreditar – e realmente é, realismo não é o ponto aqui. O sonho de Sra. Harris não tem nenhuma grande motivação escondida, nem um propósito, ela quer o vestido porque decidiu que quer, nada além disso, mas é esse sonho que leva sua vida para frente após a morte do seu marido e esse espírito sonhador é o que encanta e motiva os franceses a sua volta, chegando ao ponto de incentivar os trabalhadores da Dior a lutar pelos seus direitos. A própria Dior é a personificação do sonho da diarista, inclusive todo o filme poderia ser considerado uma grande (e efetiva) propaganda para a marca de alta costura – nenhuma outra grife é sequer mencionada.

A máxima aqui é acreditar nos seus sonhos e investir sempre na bondade e compaixão, mesmo quando o mesmo não é oferecido para você. Pode ser um tanto quanto ingênuo e até mesmo superficial, como muitas coisas no filme de fato são, mas com a mistura de romance, comédia e um tiquinho de drama, o resultado é uma história pra aquecer o coração e se esquecer dos problemas reais, e muito mais complicados.

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