A Garota Radiante | O retrato da juventude roubada pelo nazismo

Filmes com temáticas de guerra sempre buscam mostrar os efeitos que causam economicamente em um país e na vida das pessoas. E com certeza, a Segunda Guerra Mundial é marcada por afetar socialmente a vida de pessoas por sua cultura, religião e etnia.

No caso do longa francês, ‘A Garota Radiante’ (Une jeune fille qui va bien), que estreia na próxima quinta-feira (30), busca mostrar mais um recorte dos efeitos da guerra em uma família judia que mora em Paris, na França, focando na personagem Irène (Rebecca Marder), judia e francesa, que tem apenas 19 anos e sonha em ser atriz. Acompanhamos o seu cotidiano, onde a jovem divide seu tempo estudando teatro, trabalhando e também se divertindo com os amigos.

‘A Garota Radiante‘ está longe de ser um filme dramático e denso o tempo todo, é utilizado uma narrativa calma, que está mais preocupada em construir a relação do espectador com os personagens da história, se aprofundando em como eles agem em diversas situações cotidianas, por exemplo, ver a doce Irène se apaixonando ou estudando, algo que cria a sensação de familiaridade.

Esse laço de familiaridade tem a intenção do espectador se enxergar nos personagens, principalmente, sobre os descobrimentos que temos na juventude. Mas a trama causa o impacto ao nos puxar para a realidade, onde a história se passa nos tempos que o nazismo ganhava a cada dia mais força.

De forma sútil, o filme mostra as mudanças na vida de Irène e sua família, que vão perdendo direitos no país, como: atualizar os documentos especificando que são judeus; a entrega de aparelhos de comunicação e de mobilidade para as autoridades; e de precisarem costurar a “estrela de judeu” nas roupas como forma de identificação e discriminação.

Com isso, o tom leve do longa vai encaminhando para um arco mais dramático, algo que lembra o ótimo filme ‘Jojo Rabbit(2019) do diretor Taika Waititi, que é retratar a perda dos sonhos da juventude para um regime totalitário, que tira aos poucos os direitos de um povo até causar a sua desumanização.

O deslize do longa está em seu ritmo, que acaba passando um ar repetitivo que pode perder a atenção do espectador. As diversas cenas de contemplação ou a demora para o andamento da história pode prejudicar a experiência para algumas pessoas, principalmente, para quem não gosta de finais abertos para interpretações.

Por fim, vale destacar o grande trabalho da atriz francesa Sandrine Kiberlain, que marca a sua estreia como diretora com o filme ‘A Garota Radiante‘. Percebe-se como Kiberlain carrega muito conhecimento em elementos narrativos que moldam os sentimentos que a trama entrega. Além disso, existe uma presença estética do movimento Nouvelle Vague, que até hoje é tão importante para o cinema francês, e também a preocupação de um estudo histórico sobre o nazismo no país.

É um filme que retrata a vida de muitas Irènes. Meninas doces, amadas e cheias de sonhos, que perderam a sua liberdade e até sua vida para o nazismo. E é brilhante a resposta do filme com a cena final, onde Irène tenta continuar a sua vida mesmo usando a “estrela de judeu” em suas vestes, é claramente um ato de resistência sobre a sua existência.

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