Beau Tem Medo
Diretor
Ari Aster
Elenco
Joaquin Phoenix, Patti LuPone, Amy Ryan
Roteirista
Ari Aster
Estúdio
A24
Duração
179 minutos
Data de lançamento
20 de abril de 2023
Tem apenas 5 anos desde que Ari Aster lançou seu primeiro longa-metragem, mas os fatos de que sua estreia foi um grande sucesso com Hereditário e seu segundo filme, Midsommar, provou que esse sucesso não foi apenas sorte de principiante, fizeram com que Aster se tornasse um dos cineastas mais celebrados do pós-horror, consolidando sua carreira em tempo recorde. Seu terceiro projeto, em parceria com o estúdio A24 assim como os dois primeiros, era, naturalmente, muito aguardado tanto pelo público quanto pela crítica. Essa expectativa só aumentou quando foi anunciado que o protagonista seria interpretado pelo vencedor do Oscar Joaquin Phoenix e, em contrapartida, pouquíssimas informações foram dadas sobre o enredo.
Em uma entrevista a CNN, Ari Aster falou que preferia que as pessoas fossem aos cinemas para assistir ao seu filme sabendo o mínimo possível sobre ele. “Beau Tem Medo” é realmente um desses filmes que é melhor ir no escuro, mas a verdade é que, ainda que tivesse a intenção, é um filme extremamente difícil, quase impossível, de se explicar e o ideal é que nem se tente. É também um filme que só chegou aos cinemas por conta do status já alcançado por Ari Aster: não existiria a mínima chance de um estúdio comprar essa ideia de alguém que já não tivesse um nome estabelecido e isso não é porque o roteiro é ruim (esse definitivamente não é o caso), mas porque todas as três horas do filme contam uma aventura completamente insana, em todos os sentidos.
No melhor estilo “nem Freud explica” (mas ele certamente gostaria de tentar), o centro de “Beau Tem Medo” é uma relação bizarramente codependente entre mãe e filho. Esse tema, vamos chamar de “relações familiares problemáticas”, já foi tratado por Ari Aster em seus curtas-metragens, como “Munchausen” e “The Strange Thing About the Johnsons” (ambos disponíveis no Youtube) e, é claro, “Beau” que deu origem ao longa. Dessa vez, no entanto, os problemas são mais velados, ou talvez mais subjetivos e a experiência (e ousadia) adquirida por Aster em seus últimos longas é evidente em cada uma de suas escolhas cinematográficas. O humor, presente de forma mais tímida em suas obras anteriores, agora tem seu lugar cativo, seja nas situações propositalmente engraçadas ou nas tão absurdas que nos levam a risadas, de qualquer forma, sua direção nos leva a crer que qualquer riso é bem-vindo, mas não se deixe enganar, “Beau Tem Medo” está longe de ser seu típico filme de terror, mas ele ainda é inquestionavelmente um filme aterrorizante, ainda que vez ou outra a gente não saiba exatamente o que é que está dando medo – a sensação de que tudo está desconfortavelmente errado ou fora do lugar é o que dita o ritmo do filme.
Beau Wassermann é interpretado por um Joaquin Phoenix que nos mostra que nós estamos longe de conhecer todo o seu talento. A cada nova cena e novo absurdo, somos apresentados a uma nova faceta do ator, Beau é um homem de meia-idade que mais parece um menininho que cresceu fisicamente e só. Ele é tímido, apagado, passivo e ainda assim é estranhamente energético, uma nuance que Phoenix alcança e faz parecer natural no meio de um universo surreal. Sua jornada é longa, às vezes longa demais, mas recheada dos mais diversos e inimagináveis obstáculos. “Beau Tem Medo” é um filme diferente a cada medo enfrentado – e acredite, são muitos – mas de alguma forma Ari Aster consegue amarrá-lo numa unidade só ao mesmo tempo que a construção dessa realidade vai variar de acordo com o ponto de vista do espectador.
A relação entre Beau e sua mãe Mona (Patti LuPone) tem milhares de camadas e não existe a possibilidade de uma pessoa só entender todas elas, inclusive é difícil de acreditar que o diretor queira, de fato, que você entenda tudo. Sua imaginação correu solta para dar vida aos medos de Beau (em um momento ou outro passando um pouco do ponto e atrapalhando um pouco na imersão da narrativa) e ao mundo criado pela sua mãe ou ao menos refletido pela sua relação. Até que ponto as metáforas e simbologias presentes podem ser traduzidas para a realidade é impossível dizer, mas esse não é um filme para se explicar e sim para se sentir, seja lá qual for o tipo de sensação que ele pode te transparecer, as opções, assim como a criatividade de Ari Aster, são infinitas.
Por Júlia Rezende