Ruim Pra Cachorro

Não sei ao certo o que eu estava esperando de “Ruim Pra Cachorro” (além de que o título não fosse um presságio da qualidade do filme), um filme de cachorro com classificação para maiores de 16 anos. Se você, assim como eu, está se perguntando o que cachorros podem fazer para receber esse tipo de classificação, a resposta é quase tudo. Esqueça a imagem de animaizinhos fofos, os cachorros aqui são adultos grosseiros, sem escrúpulos e com a boca muito suja, tanto que aqui no Brasil são dublados por comediantes de stand up. O filme é, obviamente, uma comédia e é o clássico humor de 5ª série. Dito isso, eu ri muito mais vezes do que gostaria de admitir.

O protagonista é Reggie, um cachorrinho cujo dono (ou tutor, se você preferir) tem uma relação conturbada com a namorada e só ficou com Reggie para incomodá-la. Apesar de ser constantemente maltratado, o cachorrinho ainda carrega aquela energia de filhote e é infinitamente otimista, interpretando todas as atitudes de Doug (Will Forte) como sinais de carinho, até mesmo quando Doug tenta se livrar de Reggie. Em uma dessas tentativas, Doug abandona Reggie em outra cidade, mas o cachorro segue determinado a voltar para casa. No caminho, ele conhece Bug, um desbocado cachorro de rua que já não tem a ilusão de Reggie em relação aos humanos e, junto com mais dois cachorros, Hunter e Maggie, partem para ajudar Reggie em sua jornada.

O filme é uma viagem tanto no sentido literal quanto figurado. É uma loucura pensar que alguém teve a ideia para esse longa, conseguiu vender a ideia para um dos maiores estúdios de Hollywood (Universal Pictures) e envolver grandes nomes para a dublagem original (Will Ferrell, Jamie Foxx, Randall Park, Isla Fisher, entre outros). Esqueça qualquer possibilidade de um humor minimamente “inteligente”, aqui reina o humor escrachado, as piadas de pênis e todas as classes de palavrão, mas isso não é algo necessariamente ruim. Em momento algum o filme tenta ser algo além do que é, abraçando por completo, e orgulhosamente, o gênero escolhido. Durante 90% da exibição é difícil acreditar que você está vendo, e principalmente ouvindo, as situações do filme, intercalando entre coisas tão absurdas (em um momento eles comem cogumelo e é mais uma viagem) que é inevitável não rir e outras tão absurdas que é impossível reagir com qualquer emoção.

Dentre todos os acontecimentos inesperados do filme, talvez o mais surpreendente seja o fato de que há uma mensagem real por trás desses cachorros xingando (entre outras coisas). A jornada de Reggie, além de física, é também emocional. Com a ajuda de seus amigos mais experientes, ele descobre a verdadeira natureza das atitudes de Doug até descobrir e entender que ele estava em um relacionamento abusivo e é realmente surpreendente como a direção de Josh Greenbaum conseguiu introduzir esse assunto de uma forma relativamente séria (na medida do possível) e realmente didática sem comprometer em nada a essência de “besteirol” e deixando claro que seu maior objetivo ainda é arrancar risadas.

O quanto você vai gostar e se divertir com “Ruim Pra Cachorro” está diretamente relacionada à sua capacidade de rir, ou ao menos tolerar, esse tipo de humor. Certamente não é um filme para todos, mas serve muito bem ao seu público alvo.

Por Júlia Rezende