A Cor Púrpura
Diretor
Blitz Bazawule
Elenco
Fantasia Barrino, Taraji P. Henson, Danielle Brooks
Roteirista
Marcus Gardley
Estúdio
Warner Pictures
Duração
141 minutos
Data de lançamento
08 de fevereiro de 2024
Depois de Meninas Malvadas ganhar uma nova versão musical baseada no musical da Broadway baseado no filme, chegou a vez de A Cor Púrpura. A primeira versão, dirigida por Steven Spielberg e lançada em 1985, ganhou status de clássico ao longo dos anos e inspirou uma montagem para os palcos em 2005 e um revival em 2015, ambas muito bem recebidas pela crítica. Tive a oportunidade de assistir a montagem em 2015 e dentre as estrelas do elenco, estava Danielle Brooks no papel de Sofia Johnson. Para os cinemas, Danielle Brooks foi escolhida para reviver a personagem e essa escolha rendeu a única indicação do filme ao Oscar, um indicativo claro do que o filme tem de melhor: seu elenco.
Numa história como essa, pautada na emoção e nos sentimentos (negativos em sua maioria), um elenco capaz de elucidar todas essas sensações se faz essencial e nisso A Cor Púrpura tem êxito. De ponta a ponta os personagens são interpretados por atores – e cantores, o que é ainda mais difícil – extremamente talentosos, em atuações marcantes. A protagonista Celie é interpretada por Fantasia Barrino que entrega uma performance tão densa quanto a história de Celie pede, da sua postura que passa por uma transformação tão sutil e doída para então chegar num tipo de catarse, é um trabalho complicado, principalmente considerando as passagens de tempo. Colman Domingo (outro indicado ao Oscar, mas por outro filme) também impressiona como o “vilão” Mister, tendo que dosar monstruosidade com humanidade em proporções extremamente diferentes dependendo de cada momento. Vale ressaltar também a atuação de Taraji P. Henson como a fabulosa Shug Avery, ela é responsável por um contraponto muito importante nessa nova roupagem definida por Blitz Bazawule, trazendo brilho e glamour para um enredo que inspira justamente o contrário.
A abordagem do diretor Blitz Bazawule mescla elementos clássicos da primeira versão do filme com elementos dos palcos, mas é fácil identificar sua própria marca na produção. Por se tratar de um musical, algumas características são inerentemente distintas do primeiro filme, mas difere também da versão dos palcos até mesmo nas músicas – a grande maioria é original ou adaptada e, assim como todo o resto, isso levanta prós e contras. É proveitoso ver uma mesma história sendo contada sob um novo prisma, num ritmo diferente e, de certa forma, genuinamente inédito dentro dos parâmetros estabelecidos, é ainda melhor que ela seja interpretada com tamanho talento, mas o cerne da narrativa continua sendo de superação, mas com muita dor e expondo pontos polêmicos, tópicos sensíveis e desafiadores, transcendendo aspectos culturais, raciais e temporais. Celie é uma mulher que passa por tantas adversidades quanto se pode passar, mas se mantém em pé, muitas vezes por ser dona de uma compaixão que a impede de ver o mal, mesmo quando está bem na sua frente. Ainda assim, os pontos de vistas abordados nas versões anteriores da obra (sobretudo o musical) seguem um uma narrativa mais “séria” diante das situações enfrentadas por Celie, salvo alguns poucos alívios. A versão de Bazawule não deixa de ser séria, ou de emocionar (a história por si torna o contrário impossível), mas em mais de um momento os números musicais grandiosos, com coreografias elaboradas e coro parecem deslocados da história sendo contada.
Como fã de musicais em geral, eu (quase) nunca sou contra um grande número musical, mas é absolutamente essencial que ele se encaixe na narrativa. Assim como tudo no cinema, eles têm seu momento “certo” para acontecer sem destoar. Não é que isso ocorra com tanta frequência no novo A Cor Púrpura, mas as poucas vezes que aconteceram foram suficientes para causar um certo incômodo. Talvez seja parte da proposta de tornar o gênero musical mais atrativo para o público geral, mas em muitas ocasiões o talento vocal seria o bastante. De qualquer forma, como mencionado, esses pequenos percalços não invalidam a nova versão que, eventualmente, se torna um caso de “nem melhor, nem pior, apenas diferente”, certamente haverá aqueles que amam, assim como aqueles que odeiam, ou ao menos preferem as outras versões, a boa notícia é que elas continuam a existir.
Por Júlia Rezende