Contra o Mundo
Diretor
Moritz Mohr
Elenco
Bill Skarsgård, Jessica Rothe, Michelle Dockery
Roteirista
Tyler Burton Smith e Arend Remmers
Estúdio
Lionsgate
Duração
111 minutos
Data de lançamento
25 de abril de 2024
“Contra o Mundo” não é do tipo de filme que agrada a todos, seu universo particular e ultra violento mistura ação, comédia, família e crítica social num amontoado energizado de cenas. Bill Skarsgård é um menino sem nome, só chamado de Boy, mudo e surdo (e muito traumatizado) com habilidades físicas absurdas, mas não exatamente naturais, isso porque ele foi criado por um mestre de artes marciais justamente para desenvolver essas habilidades e procurar sua vingança, já que teve sua infância roubada por um governo distópico totalitário e inescrupuloso.
Dentro do universo de “Contra o Mundo” há um evento aprovado (e até mesmo patrocinado) pela sociedade que, no melhor estilo “Jogos Vorazes”, junta criminosos numa transmissão televisiva para que eles lutem até a morte. Em uma edição desse evento, idealizado por uma família fascista, encabeçada por Melanie Van Der Koy (Michelle Dockery), Boy viu sua irmãzinha ser assassinada na sua frente e esse evento ditou sua vida desde então – até no presente, já um adulto, Boy ainda é visitado pelo fantasma de sua irmã (Quinn Copeland) a todo momento.
Embora seja evidente a vontade de criticar sistemas autoritaristas e a influência da mídia, o que se sobrepõe a todo o resto no filme é o uso da violência para embalar a narrativa, tendo como fonte de inspiração as lutas de videogames clássicos. “Contra o Mundo” traz um nível de gore que só pode ser páreo para filmes de terror slasher. O excesso de violência, aqui, não é necessariamente algo negativo, inclusive, o filme encontra seu ápice nas cenas em que as lutas – e consequentemente a violência – são levadas com ritmo frenético e movimentos de câmera fora do comum.
Nada é sutil, nada é deixado nas entrelinhas. Até mesmo Boy, que é surdo e mudo, não deixa nada passar: seus pensamentos são verbalizados por uma narração caricata típica de videogames, mas adequada para a trajetória de Boy. Os percalços e motivações de Boy são igualmente escancarados e as únicas coisas que parecem “escondidas”, também parecem mais furos de roteiro do que qualquer tentativa de nuance ou de adicionar camadas à uma história majoritariamente branda em suas tramas, o oposto de suas ações. Para sustentar esse enredo, a presença de cena de Bill Skarsgård é absolutamente essencial; sem a voz, suas expressões e esforço físico são suas armas e Skarsgård entrega o esperado e nos convence da inocência desse personagem mesmo quando ele é responsável por diversas mortes brutais.
Dizer que “Contra o Mundo” é uma obra-prima, ou um grande roteiro, seria um equívoco. Os plot-twists que dão força ao terceiro ato são convincentes, mudam o destino do protagonista, mas pouco influenciam a visão do espectador. A espetacularização da violência de forma exacerbada é a característica marcante do filme e se essa é a sua praia (junto com cenas de ação e mortes criativamente violentas), você certamente não vai se decepcionar. Moritz Mohr, o diretor, nem sempre sabe como trabalhar o roteiro bagunçado, mas consegue prender a atenção e não deixa a energia cair, o que se espera de um filme de ação.
Por Júlia Rezende