7,9/10

Até que a Música Pare

Diretor

Cristiane Oliveira

Gênero

Drama

Elenco

Cibele Tedesco, Hugo Lorensatti, Nicolas Vaporidis

Roteirista

Cristiane Oliveira, Gustavo Galvão

Estúdio

Pandora Filmes

Duração

90 minutos

Data de lançamento

03 de outubro de 2024

Depois que o último filho sai de casa, Chiara, matriarca de uma família descendente de italianos, decide acompanhar o marido em suas viagens como vendedor pelos botecos da Serra Gaúcha.

“Até que a Música Pare”, estreia nesta quinta-feira, dia 03 de outubro, nos cinemas brasileiros, com um olhar delicado e profundo que explora temas como o luto, envelhecimento e, de maneira sutil, as divisões políticas e ideológicas que afetam muitas famílias brasileiras.

Dirigido pela gaúcha Cristiane Oliveira, o longa segue Chiara (Cibele Tedesco), uma matriarca descendente de italianos que enfrenta a perda de um filho. Desolada, ela decide acompanhar o marido Alfredo (Hugo Lorensatti), um vendedor, em suas viagens pela Serra Gaúcha, em busca de uma nova forma de lidar com o vazio que tomou conta de sua vida.

A atuação de Cibele Tedesco como Chiara é um dos grandes destaques da obra. Sua performance intensa e silenciosa lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Gramado deste ano, um reconhecimento merecido pela maneira como explora as camadas emocionais de uma mulher que, em meio à dor, busca um novo sentido para sua vida. Ao lado de Hugo Lorensatti, que interpreta Alfredo, Tedesco entrega uma atuação sutil e comovente, onde o silêncio e os pequenos gestos dizem muito sobre o estado emocional de seus personagens.

A fotografia do filme capta com precisão a grandiosidade melancólica das paisagens da Serra Gaúcha, contrastando com o isolamento emocional de Chiara. No entanto, o longa enfrenta alguns problemas técnicos, especialmente na captação sonora, o que pode dificultar a compreensão de alguns diálogos.

Além da questão pessoal e familiar, o filme aborda, de forma subjacente, o impacto das divisões políticas. O conservadorismo de Alfredo remete diretamente a muitas famílias brasileiras que, com a ascensão do bolsonarismo, se afastaram por diferenças ideológicas. O personagem representa a rigidez de valores e crenças tradicionais, muito ligados à religião cristã. Alfredo, assim como muitas figuras conservadoras na vida real, se apega a uma ideologia que promete proteger os valores familiares, mas que, na prática, reforça o isolamento e as tensões dentro de sua própria casa.

Enquanto Alfredo permanece rígido em suas convicções, Chiara busca novos caminhos, inclusive ao explorar ideias budistas para tentar ressignificar sua vida após a perda do filho. O contraste entre esses dois personagens reflete a realidade de muitos lares, onde as diferenças ideológicas se tornam barreiras emocionais difíceis de superar.

O filme é quase todo falado em talian, uma variante da língua vêneta falada no Brasil, sobretudo nos estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. A língua do filme serve narrativamente como metáfora sobre esse casal, que parecem deslocados dos tempos modernos por falar uma língua “antiquada”. Além disso, outro simbolismo é a tartaruga, que surge ao longo do filme, simbolizando o tempo e a lentidão dos processos de cura, mostrando que superar a perda não é imediato, mas uma jornada.

A beleza de “Até que a Música Pare” está na sua capacidade de emocionar com simplicidade e profundidade, encontrando espaço para discutir questões pessoais e políticas sem perder o foco na humanidade de seus personagens.

7

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