A Garota da Vez
Diretor
Anna Kendrick
Elenco
Anna Kendrick, Daniel Zovatto, Tony Hale
Roteirista
Ian McDonald
Estúdio
Diamond Films
Duração
95 minutos
Data de lançamento
10 de outubro de 2024
No final da década de 70, um homem chamado Rodney Alcala foi um dos participantes de um programa de namoro na TV, disputando com dois outros homens por um encontro com uma mulher. Seria uma história perfeitamente comum, se Rodney Alcala não fosse um serial killer ativo nessa mesma época. Esse é o evento que inspirou o filme “A Garota da Vez”, a estreia de Anna Kendrick como diretora, que também vive a protagonista Sheryl, a garota solteira que participa do programa de namoro justamente na vez de Rodney. Com uma história interessante, o roteiro e a direção tomam decisões que fogem do convencional dos filmes de true crime e acabam marcando mais pela forma do que pelo conteúdo em si, mas ainda garantem um resultado positivo.
No filme, Sheryl Bradshaw é uma inspirante à atriz tentando sobreviver em Los Angeles, mas nenhuma audição vinga, principalmente por conta do machismo ainda mais escancarado naquela época. Quase desistindo de sua carreira para voltar para sua cidade natal, surge a oportunidade de participar de um programa de namoro, Sheryl é reticente, mas sua agente garante que é uma boa oportunidade de visibilidade e Sheryl acaba aceitando. Intercaladas com a história de Sheryl, temos cenas em que conhecemos Rodney Alcala e seu modus operantis. Para atrair suas vítimas, ele usa a seu favor sua boa aparência e, principalmente, a lábia. Como vamos descobrindo junto com Sheryl e o público do programa, Rodney sabe exatamente a coisa certa a se dizer para cada pessoa e sabe impressionar, aparentemente sem grandes esforços.
Deixar que a aparência fale mais alto é a crítica mais evidente do filme e da direção de Anna Kendrick. Assim como aconteceu com outros serial killers, como Ted Bundy, a “normalidade” da aparência de Rodney o colocava num local de credibilidade e confiança, acima de qualquer suspeita, até mesmo de Sheryl, que apesar de se provar uma mulher muito consciente, também acaba acreditando na imagem de Rodney. A mensagem é clara e extremamente válida, mas poderia ter sido passada de uma forma menos expositiva. Uma cena em específico, durante o programa de televisão, Sheryl tem um diálogo com um dos participantes que, mesmo sendo divertido de se presenciar, parece forçado o suficiente para te fazer desviar da narrativa do filme.
Embora não tenha um enredo exatamente impactante, o filme tem a seu favor uma coisa muito interessante e pouco vista em filmes do gênero: apesar de ser um filme de serial killer, ele não é sobre um serial killer. Em momento algum há a tentativa de humanizá-lo (ou demonizá-lo), não vemos flashes do seu passado e das coisas que ele passou em sua vida, o que acompanhamos é um retrato do que ele fez com suas vítimas, em que a história das vítimas é o foco. Em um momento em que se discute a ficcionalização de crimes reais e até que ponto é possível fazer isso sem desrespeitar as vítimas ou glorificar os criminosos, o modo como “A Garota da Vez” escolheu para mostrar os crimes parece não só uma boa decisão, mas também um bom exemplo a ser seguido.
Por Júlia Rezende