7.7/10

O Brutalista

Diretor

Brady Corbet

Gênero

Drama

Elenco

Adrien Brody, Felicity Jones, Guy Pierce

Roteirista

Brady Corbet

Estúdio

Universal Pictures

Duração

214 minutos

Data de lançamento

20 de fevereiro de 2025

Em fuga da Europa do pós-guerra, o arquiteto visionário László Toth chega à América para reconstruir sua vida, seu trabalho e o casamento com sua esposa Erzsébet, depois da separação forçada durante a guerra por mudanças de fronteiras e regimes. Sozinho em um novo país estranho, László se estabelece na Pensilvânia, onde o rico e proeminente industrial Harrison Lee Van Buren reconhece seu talento para a construção. Mas poder e legado têm um custo muito alto.

“O Brutalista” é um filme desafiador por várias razões, a começar por sua longa duração. Num tempo em que prender a atenção dos espectadores é cada vez mais difícil, é louvável que um filme tenha a “coragem” de se estender por mais de 3 horas e meia, que se tornam quase 4 com o intervalo integrado de 15 minutos. Além de sua longa duração, “O Brutalista” é também um filme denso, carregado de uma simbologia ampla e emocionalmente exigente, personagens complexos e uma trama, em geral, devastadora. Através de mais de três décadas da vida de um imigrante, László Tóth (Adrien Brody), esse épico se desenrola de forma surpreendente e ousada. Brady Corbet, diretor e roteirista, preenche cada minuto de cena com os mais variados assuntos, arte, vício, guerra, capitalismo, família, amor, tudo isso embalado pelo American Dream

Com 10 indicações ao Oscar, incluindo Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme, a técnica do filme é intocável. Filmado em VistaVision, “O Brutalista” traz uma composição visual deslumbrante, utilizando a arquitetura, ofício de László, para aprimorar ainda mais a estética presente, aproveitando-se de ângulos, texturas e enquadramentos para complementar a jornada do imigrante – a primeira vez que vemos a Estátua da Liberdade em cena já é um grande indicativo do andar dessa trama. A trilha sonora também desempenha o papel de traduzir em música as diversas fases de László, da esperança à ruína. Talvez “O Brutalista” tenha maior êxito por sua forma do que por seu conteúdo, mas considerando a qualidade da técnica, isso está longe de ser uma crítica negativa. Ambientado num mundo pós Segunda Guerra, um judeu recém-saído de um campo de concentração busca axilo nos Estados Unidos para começar uma nova vida, poderia ser um história previsível, mas Brady Corbet deixa de lado o sonho americano para manter os dois pés no chão e nos conduzir em uma viagem extremamente humana e, supreendentente, universal.

Quando László chega em Nova York e é recebido por seu primo Attila (Alessandro Nivola), percebe que uma vida nova não necessariamente quer dizer uma vida boa. Antes da Guerra, László era um arquiteto de renome, respeitado no seu ramo, mas agora mora num quarto minúsculo na casa do primo, que vende móveis ordinários e trocou o sobrenome para Miller, para parecer mais americano e sua esposa Audrey (Emma Laird), que não está nem um pouco satisfeita com o novo hóspede. A única coisa que László pode fazer é trabalhar para tentar garantir sua existência, principalmente depois que descobre que sua própria esposa, que ele julgava estar morta, na verdade estava viva e acompanhada de sua sobrinha na Europa e László ganha a nova missão, e objetivo de vida, trazê-las em segurança para os Estados Unidos. 

Os eventos da vida de Lászlo se desenrolam de forma orgânica e convincente, ele deixa de ser apenas um marceneiro quando, à contra gosto, um cliente, Harrison Lee Van Buren (Guy Pierce) descobre seus talentos para arquitetura e o convida para ser responsável por um projeto tão ambicioso quanto o filme em si: a construção de um imenso centro comunitário. László se muda para o terreno onde se dará a construção, junto da mansão de Van Buren e sua família, o que lhe abre possibilidades inimagináveis e possibilita não só a vinda de sua esposa Erzsébet (Felicity Jones) e da sobrinha Zsófia (Raffey Cassidy), mas também o começo de sua ruína como homem, como profissional e como centro de sua família. Embora traga consequências diretas da Guerra, potencializadas pelo fato de László ser um judeu, “O Brutalista” também tece experiências e sentimentos comuns a todos nós. Os altos e baixos da vida do arquiteto são repletos de angústia, desespero e injustiça, mas também de lampejos de esperança e amor. Em sua vida, nada acontece como o esperado e essas nuances, aliadas a perfomances impressionantes de todo o elenco (com destaque para Adrien Brody) são o que mantêm o filme interessante em todos os seus atos, ainda que a primeira metade, antes do intervalo, possa ser mais dinâmica. “O Brutalista” é um filme grandioso em seu minimalismo e denso no retrato das relações, talvez não seja um filme para todos, desafiador e nada reconfortante, mas garante sua importância através de sua ousadia e storytelling poderoso.

 

Por Júlia Rezende

9.5

Missão cumprida

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