O cinema palestino vem ganhando muita visibilidade nos últimos anos por retratar para o mundo a realidade dos conflitos entre Palestina e Israel. E o novo longa-metragem, “A 200 Metros”, do diretor palestino Ameen Nayfeh, tem a intenção de mostrar o drama contemporâneo que várias familias passam diariamente. Indicado pela Jordânia para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2021, “A 200 Metros”, chega às plataformas digitais no Brasil em 17 de setembro.
Estruturado como um road movie (filme de estrada), o longa conta a história de Mustafa – interpretado por Ali Suliman, um dos atores palestinos mais reconhecidos da atualidade – um pai que mora a 200 metros de distância de sua família. Ele e a esposa (Lana Zreik) vivem separados pelo muro que divide Cisjordânia e Israel. Quando recebe uma ligação de que seu filho sofreu um acidente e está internado, Mustafa tenta atravessar a fronteira, mas é impedido. Inconformado com a situação e com a recusa dos oficiais israelenses, ele parte em uma odisseia de 200 quilômetros com o objetivo de reencontrar a sua família.
É durante a trajetória de Mustafa, que usa um meio de transporte ilegal para atravessar a fronteira, que conhecemos diferentes personagens e as razões para se arriscar nesta viagem, como o menino de 18 anos, Rami, que procura por um emprego para ajudar sua família; a cineasta alemã Annie, que tem como foco entender mais o conflito que acontece na região; e Kifah, um artista e ativista palestino. E mesmo de maneira sutil, o roteiro trabalha a transformação e impacto dessa viagem na vida de cada um.
O mais interessante é como o longa foge de cenas de violência física extrema, que é o esperado para este tipo de enredo, e ao invés disso, ele opta por transmitir a sua mensagem através de diálogos fortes e certeiros, que abre a reflexão sobre esse conflito eterno entre Palestina e Israel.
Assim como no longa, o diretor Nayfeh passou por uma separação, já que sua mãe pertencia a uma aldeia palestina.” ‘A 200 Metros’ é a minha história e a de milhares de palestinos. Posso dizer que talvez 99% dos palestinos tenham de passar por uma jornada semelhante à do filme para superar os obstáculos diários. A ideia do filme e a distância de 200 metros surgiram como um acúmulo de experiências pessoais e coletivas”, explica.
E é visível essa intimidade do diretor com a obra, que está presente em todos os aspectos da produção, seja a fotografia intimista, a trilha sonora tão bonita e a química inexplicável do elenco. Com tudo isso, a conclusão é de que o filme trata, acima de tudo, o amor familiar.