A família Mitchell está longe de ser uma família perfeita. Apesar de unidos, muitas vezes falam línguas diferentes e não conseguem encontrar um ponto em comum. Rick, o pai, não sabe lidar com tecnologia e ama a vida na natureza, a mãe, Linda, é obcecada em ter a família perfeita, com fotos dignas de Instagram, o irmão mais novo, Aaron, não tem muitas habilidades sociais e só louco por dinossauros e, por fim, temos Katie, a nossa protagonista que sempre se sentiu deslocada entre as pessoas que conhecia e é movida por seu amor por fazer filmes.
A vida da família começa a mudar quando Katie consegue entrar na faculdade de cinema onde sempre quis estudar, na Califórnia. Assim que recebe a novidade já entra em contato com seus futuros colegas e percebe que, pela primeira vez, estará cercada de pessoas que compartilham dos mesmos interesses que os seus. Ansiosa para poder viver seu sonho, Katie está tão focada em encontrar seu novo lugar no mundo que se esquece daquele que está deixando para trás.
O ponto mais emocionante e também mais realista do filme é a relação entre Katie e seu pai Rick. É evidente que existe entre eles muito amor, mas a cumplicidade foi desaparecendo conforme Katia foi crescendo e seus interesses mudando. A menina passa todo o seu tempo fazendo filmes, quase todos com o cachorro da família (que é hilário) como personagem principal, e seu pai simplesmente não consegue entender seu senso de humor e desiste tentar, parando de mostrar interesse pelas produções da filha, chegando até a desencorajar seus sonhos, uma vez que acredita que ela esteja desperdiçando tempo e que toda essa coisa de “fazer filme” não será o suficiente para que ela faça dinheiro. Como os filmes são a vida de Katie, a atitude do pai acaba criando um abismo entre os dois, faltando paciência e compreensão de ambos os lados para reparar as diferenças.
Mesmo com o distanciamento em suas relações, o amor permanece, e numa última tentativa de se aproximarem mais uma vez antes que a menina fosse embora, Rick decide cancelar a passagem aérea da menina para California para que toda a família vá junto, todos no carro velho da família. Linda, a mãe, é a cola que mantém a família unida e concorda mesmo sabendo que a filha não ficará exatamente contente com a decisão – a viagem de carro faz garota perder toda a primeira semana de integração da faculdade – já Aaron concorda de bom gosto, já que tem uma relação incrível com a irmã e se agarra a qualquer possibilidade de passar mais tempo com ela.
Paralelamente à viagem de carro da família, uma super convenção da maior empresa de tecnologia está acontecendo para anunciar seu mais novo lançamento: um robô para servir a humanidade e fazer todas as tarefas domésticas, entre outras, no nosso lugar, mas a tecnologia se revolta e o caos é instaurado. A família Mitchell, que estava fora do alcance do sinal de internet em uma das paradas de sua viagem acaba se tornando uma das únicas sobreviventes e é aí que começa a batalha da família Mitchell contra as máquinas.
A animação da Netflix é dos mesmos produtores de Homem-Aranha no Aranhaverso e de Uma Aventura Lego, além de ter como criadores e diretores Michael Rianda e Jeff Rowe, que já se envolveram em produções como Gravity Falls e (Des)encanto, ambas animações aclamadas e de ótima qualidade. Esse currículo já chama atenção, mas consegue se consolidar ainda mais com A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas. Há muitos anos eu não assistia à uma animação desse nível, principalmente fora do eixo Disney-Pixar.
O filme realmente é um filme família, não só por ser uma animação, mas por entreter igualmente adultos e crianças, de todas as idades. As personagens e situações produzem desde o humor mais “pastelão”, que tem maior apelo com as crianças (mas que divertem os adultos também) até um humor com mais referências e mais direcionados aos adultos, sobretudo quando se tratando do nosso vício com tecnologia.
Todos os personagens que aparecem são extremamente cativantes e divertidos. O modo como a família é abordada na trama trabalha muito bem a questão das imperfeições e as individualidades de cada um e como o mundo é um lugar melhor quando aceitamos nossas diferenças ao invés de buscarmos todos a perfeição.
A revolução das máquinas nos faz refletir sobre como interagimos com a tecnologia hoje em dia, mas não o faz de forma acusatória e sim didática, sem ofuscar os humanos. É verdade que a guerra no filme é contra a tecnologia, mas esse certamente não é seu foco. A história deixa claro que o realmente importa são as relações humanas, inclusive o desenvolvimento da relação de pai e filha é muito bonito de se ver.
Seja pelo humor, pela família, pela crítica à nossa obsessão com tecnologia ou até mesmo pelo cachorro que é um show à parte, você com certeza vai encontrar um ponto para amar em Família Mitchell e a Revolução das Máquinas, que está disponível na Netflix a partir de 30 de abril.