Que a brasiliense Maeve Jinkings é boa atriz, isso não há como negar, e mostrou isso em diversos trabalhos. Porém, ultimamente ela vem interpretando as mesmas personagens; arrogante, estúpida, mal humorada, sem humildade e que gosta de humilhar e se desfazer das pessoas. Podemos ver estas características em “O Som ao Redor”, “Boi Neon”, “Amor, Plástico e Barulho” e recentemente em Aquarius”. Em “Açúcar” (ainda sem data de estreia), vemos Maeve fazer mais do mesmo e isso é notado logo no início, quando Betânia, sua personagem, recusa uma simples ajuda de um dos seus ex-funcionários ao retornar para o casarão onde morou.

Não apenas a atuação apática de Maeve deixa a desejar, mas o desfecho do filme, que por alguns momentos, compromete até mesmo a dramaticidade do enredo, que é suprida pelas cenas do conflito entre Betânia e Alessandra — sua faxineira. O argumento torna-se fraco pela falta de originalidade que faz o espectador levar a crer que teve como base a ótima obra literária, “Casa Grande e Senzala” do pernambucano Gilberto Freyre (o livro tem um extenso teor crítico social), enquanto “Açúcar” demonstra se apoiar nele, passando uma boa impressão de que promete. É uma trama sem surpresas que infelizmente decepciona, até porque, sua protagonista não salva o filme.

O velho e incansável clichê da desavença entre patrão e empregado é revisitado de jeito morno logo de cara no primeiro take, quando a câmera captura em primeiro plano, planos médios e closes, um barco em meio a um canavial. Neste barco encontra-se a insatisfeita Bethânia Wanderley, que não esconde sua frustração em ter que regressar ao antigo engenho de cana-de-açúcar que pertencera a sua família. O motivo de seu retorno não lhe agrada muito, uma vez que, ela se vê obrigada a permanecer no casarão para evitar que seus antigos funcionários se apropriem do lugar.

Além da decadência da aristocracia rural, Bethânia tem que engolir a seco Alessandra, uma garota das redondezas que passa a trabalhar para ela. Alessandra não se conforma com o jeito que é tratada sob as constantes humilhações. Como se não bastasse isso, Bethânia ainda tem que pagar contas atrasadas, com um surgimento de um ser que não se sabe se é humano ou um bicho, e ameaças dos antigos trabalhadores do engenho que reivindicam seus direitos. Ela não se dá conta de que, sozinha não consegue trazer de volta o prestígio do clã dos Wanderley que um dia foram prósperos latifundiários.

Apesar do racismo ser um interessante e ótimo ponto de partida para o filme, acaba mais parecendo uma variante de “Histórias Cruzadas”, que termina meio inconsistente. “Açúcar” realmente tinha tudo para ser um dos pouquíssimos filmes brasileiros a tratar este tema de forma delicada envolvendo também religião, mas infelizmente fica preso apenas com o espetáculo da linda fotografia. Ainda sim, com o seu argumento razoável deve-se reconhecer o esforço que Renata Pinheiro teve, porém, é um filme que não convence por causa de seu ponto de vista crítico (que é uma tentativa frustrada de se discutir o racismo) ou ético.

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