Adão Negro é a grande aposta da DC de colocar seu universo cinematográfico nos trilhos depois de muitas tentativas frustradas. As comparações com a Marvel, que conseguiu alcançar seu status atual e suas bilheterias bilionárias justamente por conta de seu universo compartilhado, são inevitáveis e cobram cada vez mais da DC uma unidade fílmica que defina em termos mais claros cada fase de seus filmes. As franquias do Batman sempre fizeram sucesso (umas mais que outras), O Esquadrão Suicida e Aves de Rapina também conversam muito bem entre si, o Coringa de Joaquin Phoenix é um sucesso completamente à parte, e outros filmes de heróis independentes (Super-Homem, Mulher-Maravilha, Shazam) também funcionam bem sozinhos, mas sempre falta ou alguém que trabalhe como uma cola para juntar e dar um rumo em comum para todas essas produções.
É difícil dizer se “Adão Negro” sozinho será capaz de suprir essa lacuna da DC, mas tanto o personagem quanto o filme em si deixam uma boa abertura para o que pode vir a ser uma nova – e boa – fase do DCU, resgatando uma fórmula “raiz” para filmes de super-herói, mas que vai bem com o novo clima e personalidade trazidos por The Rock para esse personagem que faz sua estreia nas telonas.
Adão Negro, cujo nome original é Thet-Adam, era um habitante escravizado de Kahndaq milhares de anos atrás que se tornou, ainda àquela época, uma espécie de deus superpoderoso que libertou seu povo e entrou em estado de inércia, mas prometendo estar disponível sempre que precisassem dele. Nos tempos atuais, Kahndaq se vê numa situação parecida com a do passado e, como prometido, Thet-Adam retorna em toda sua glória, mas ele não tem os mesmos conceitos que essa sociedade de hoje em dia, muito menos se vê como um herói – e nem tenta agir como um. Seu objetivo é acabar com o mal e os fins que justifiquem os meios. Isso quer dizer que ele bateria de frente com o Batman, por exemplo, já que não pensa duas vezes antes de matar, sem cerimônias, qualquer um faça ou esteja do lado inimigo. Esse traço da personalidade do personagem talvez seja a parte mais acertada pela DC, ele traz uma dualidade que eles já tentarem imprimir no Super-Homem, mas nunca com essa segurança.
É difícil olhar para Adão Negro e imaginar outro ator nesse papel – até mesmo impossível, eu diria. Já tem anos que Dwayne “The Rock” Johnson tenta fazer o personagem acontecer e agora é evidente que ele estava certo o tempo todo. Ele tem o equilíbrio perfeito entre o que se espera de um super-herói padrão visualmente falando, mas também o carisma natural que faz com que ele seja “gostável” apesar do seu comportamento com tendências mais violentas, encaixando perfeitamente na nova atmosfera que a DC parece pretender desenvolver.
Enquanto temos The Rock brilhando independente das falhas do filme (que está longe de ser perfeito), os demais atores não têm tamanha sorte – não que seja culpa deles, são todos talentosíssimos, sem exceção, mas é bem claro que seus personagens não são bem estruturados, pelo menos não ainda. Em teoria, a Sociedade da Justiça é uma ótima adição, mas essa sua primeira aparição com o time completo mostra que ela ainda não está pronta para alcançar todo seu potencial. Dentre seus membros estão Noah Centineo como Esmaga-Átomo e Quintessa Swindell como Ciclone, os dois têm um papel menor em relação aos outros e são responsáveis pelo alívio cômico (que é bem pouco), até o momento eles são bem unidimensionais e a impressão que fica é a de que eles são cópias de outros personagens bem conhecidos do público (você vai saber imediatamente quando assistir) e pouco acrescentam à história, tanto com suas personalidades quanto com seus poderes. Quem salva a Sociedade de ser um tédio são Pierce Brosnan como Senhor Destino e Aldis Hodge como Gavião Negro, que embora não tenham personalidades exatamente originais, ainda são interessantes o suficiente para fazer uma boa oposição a Thet-Adam, já que são defensores do “comportamento de herói” e repudiam os modos violentos e pouco humanitários dele.
Tanto a estrutura do filme, quanto sua direção (Jaume Collet-Serra) e enredo mostram o caminho que “Adão Negro” busca trilhar, um bem diferente da Marvel, e com um olhar muito mais “tradicional” do que é fazer um filme de super-herói. Ao mesmo tempo, há muito da DC presente na história, tanto nos personagens (novos e velhos) quanto em suas jornadas, cenas de luta e CGI, fazendo um aceno positivo aos filmes que vieram antes de todo o frenesi começado pela Marvel com filmes de heróis sendo lançados aos montes, não que isso seja um problema, já que muitos deles são de ótima qualidade, mas é possível perceber a vontade da DC de enriquecer seu universo próprio, mesmo que ainda se apoie (às vezes até demais) em personagens e histórias que se estabeleceram antes.
“Adão Negro” é um filme com muita ação, cenas de luta com slow motion, alguns personagens fortes e outros nem tanto. O roteiro está cheio de clichês e bem, bem longe de ser perfeito. Certamente não é tudo que a DC esperava que fosse, mas ainda é uma peça importante para o que a DC pretende se tornar, além de ser um bom entretenimento, principalmente para os fãs da DC, do The Rock ou de super-heróis no geral. Sem contar com a cena pós-créditos, que é um espetáculo à parte.