ALMA DE COWBOY | UM SENSÍVEL RETRATO DA SUBCULTURA DE COWBOYS URBANOS

Baseado no livro “Guettho Cowboy”, Alma de Cowboy, o novo filme da Netflix nos apresenta a um nicho de uma subcultura do estado da Filadélfia nos Estados Unidos, a dos cowboys urbanos e o faz através da relação entre um pai e um filho que se aproximam pela primeira vez.


Caleb McLaughlin (o Lucas de Stranger Things) interpreta Cole, um adolescente problemático que vive com sua mãe solteira em Detroit e após se envolver em mais uma briga na escola, é mandado para passar o verão com Harp (Idris Elba), seu pai com que nunca conviveu.


Chegando na casa de seu pai, Cole logo percebe que o local é diferente de tudo que já conheceu. Seu pai tem um cavalo em casa – e nenhuma comida na geladeira, a rua é tomada por estábulos e cavalos estão por toda parte.

O reencontro de Harp e Cole é frio e distante, mas o adolescente é bem recebido por Smush (Jharrel Jerome) um primo que não via desde sua infância, que o leva para conhecer outra parte da cidade, uma com mais carros e menos cavalos, mas com mais crimes também.


A comunidade (que existe na vida real e inspirou a trama) se apresenta como cowboys urbanos. Há dezenas de anos eles se mantêm na rua Fletcher, cuidando de seus cavalos e vivendo à margem da sociedade. É uma comunidade muito unida e apegada às suas raízes e sua cultura e, aos poucos, Cole passa a se integrar e compreender melhor esse estilo de vida.


A tensão na relação de Cole e Harp é muito bem representada por Idris Elba, que dispensa comentários e Caleb McLaughlin, que faz seu primeiro papel mais adulto e mostra que tem muito mais a mostrar além do que vimos em Stranger Things.

Ainda distante de seu pai, mas próximo da comunidade, Cole começa a trabalhar nos estábulos e a criar laços com os cavalos, aprendendo importantes lições em relação à responsabilidade, trabalho e comprometimento, mas todo seu desenvolvimento é colocado em risco por conta de seu relacionamento com Smush que, na tentativa de se desvincular à comunidade que ele considera sem futuro, segue em direção à uma vida criminosa, levando Cole junto.


A história dos cowboys urbanos é muito bonita e retratada com muita sensibilidade. Alguns dos personagens são vividos por reais moradores da comunidade, o que traz mais credibilidade à história e nos faz sentir as angustias dessas pessoas que lutam para manter vivas as suas tradições.

O filme em si tem um ritmo um pouco lento por vezes e acaba introduzindo mais subtramas do que o necessário, é uma história sobre a resistência de uma cultura sendo apagada pela modernidade, é uma história sobre a relação estremecida de um pai e um filho, é uma história sobre a vida honesta vs. vida no crime e etc., e alguns desses pontos não chegam a se desenvolver de fato e deixam o terceiro ato num nível um pouco abaixo dos dois primeiros.


Ainda assim, Alma de Cowboy é um belo filme, com atuações impecáveis e uma ótima trilha sonora, sobre uma cultura distante da nossa, mas merece atenção e reconhecimento.


Alma de Cowboy chega à Netflix em 02 de abril.

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