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Como alguém que cresceu lendo quadrinhos de super-heróis, ainda me surpreendo positivamente com os tempos atuais. Praticamente todos os heróis que acompanhei na infância – sejam da Marvel ou da DC – ganharam sua versão em live-action, tornando-se conhecidos por todos, além por aqueles que acompanhavam os gibis, como eu.
É uma era de ouro para quem cresceu naquele tempo. Nunca achei que um dia, personagens que eram meus velhos amigos – como Doutor Estranho, Pantera Negra, Viúva Negra, Homem-Formiga, Gamora, Nebulosa ou Drax seriam conhecidos do grande público, muitos deles estrelando filmes próprios. E fico ainda mais surpreso quando vejo ganhar essa fama e destaque um personagem, surgido no fim dos anos 80, que acompanhei desde o surgimento, que vi “nascer”, geralmente nas páginas das revistas em formatinhos publicadas aqui pela Editora Abril.
Já aconteceu com Deadpool, Arlequina, Cable… e agora Venom vem aí. Em uma realidade onde filmes de super-heróis enchem os cinemas, ainda é raro ver um vilão (ou anti-herói) ganhar um filme próprio. Mas não é sem sentido e nem desmerecido. Por isso, vamos mergulhar um pouco na origem do personagem para entender o porquê.
Venom, como o antagonista que conhecemos, surgiu em 1988. Mas para contar a sua história é preciso falar primeiro sobre a origem do uniforme negro do Homem-Aranha. Em 1984 rolou o primeiro grande evento da Marvel, Guerras Secretas (OK, o Torneio dos Campeões aconteceu antes, mas as proporções de Guerras Secretas foram muito maiores). Foi um evento grandioso que realmente mudou a indústria e até hoje é considerado como o “pai” das grandes sagas dos quadrinhos.
Concebida pelo editor Jim Shooter em um acordo com a Mattel, para produzir brinquedos e figuras de ação dos personagens da Marvel em uma época na qual bonecos dos heróis da DC e do He-Man já faziam um estrondoso sucesso. A Mattel tinha interesse em criar uma série de bonecos Marvel, mas para isso seria necessário que publicassem um evento com o nome da série de brinquedos, envolvendo todos os mais populares personagens da editora. E assim, surgiu Marvel Super Heroes Secret Wars, série publicada em 12 edições entre maio de 1984 a abril de 1985.
A ideia era que a série ecoasse nas revistas mensais e que todos os personagens envolvidos sofressem consequências reais. E possivelmente a mais relevante dessas consequências foi a criação de um novo uniforme para o Homem-Aranha! Um uniforme negro e alienígena que Peter Parker encontrou no Mundo Bélico, criado por Beyonder após seu uniforme original ser destruído durante o evento.
Um uniforme negro para uma era sombria, onde a tendência era tornar os personagens cada vez mais sombrios e violentos. O uniforme alienígena conferia ainda mais poderes ao herói aracnídeo, como um fornecimento infinito de teia e a habilidade de mudar a aparência física e se transformar em roupas civis. Mas o uniforme se revelou ser uma criatura inteligente com motivações e vontades próprias, um simbionte alienígena que absorvia a energia, tornava seu usuário mais violento e alterava sua personalidade. Peter Parker então enfrentou a criatura e a derrotou utilizando sua fraqueza ao som, empregando o sino de uma catedral contra ela.
Mas esse não seria o fim do simbionte alienígena. Unindo-se agora a um novo hospedeiro, Eddie Brock, um repórter rival de Peter Parker com sede de vingança, já que ele havia acusado uma pessoa errada de ser o assassino Devorador de Pecados e foi exposto quando o Homem-Aranha prendeu o verdadeiro.
A farsa custou seu emprego, carreira e vida social, deixando Brock entregue ao ódio e a depressão. Ao visitar a igreja onde o simbionte foi derrotado, a criatura alienígena sentiu o ódio do repórter e então se uniu a ele, conferindo poderes do mesmo nível ou superiores ao do amigo da vizinhança, incluindo superforça, agilidade e a habilidade de aderir às paredes, além das habilidades do próprio simbionte e seu conhecimento sobre a identidade secreta do Homem-Aranha.
Assim surge Venom, em 1988, pelas mãos do lendário escritor David Michelinie e o talentoso então jovem desenhista Todd McFarlane. O diferencial do personagem era que ele queria matar quem considerava culpado, mas nunca feriria inocentes, os quais ele também passou a defender.
O personagem foi um fenômeno. No início dos anos 90 sua popularidade explodiu, e ele passou a estrelar aventuras e títulos próprios, passou a ser utilizado não apenas como um vilão, mas também como um anti-herói em sua cruzada de punir os culpados e defender os inocentes. Ao longo da década de 1990, Venom consolidou-se como arqui-inimigo do Homem-Aranha, tornou-se o vilão mais popular da editora, estrelou revistas solo sendo mostrado como anti-herói, estampou camisetas, lutou contra – e ao lado – dos maiores heróis da editora, como Capitão América e Wolverine, e ganhou seus próprios vilões também, dos quais o psicopata Cletus Kasady, o Carnificina, facilmente se destaca. Não é exagero dizer que ele foi um dos maiores personagens editora durante os anos 90.
Ainda na mesma década, sua popularidade saiu das páginas dos quadrinhos e explodiu em outras mídias. Ele apareceu em diversos vídeos games dos quais destaco: Spider-Man and Venom: Maximum Carnage (1994), do SNES, e a consagrada série Marvel vs. Capcom (1998), ambos exemplos onde Venom foi um personagem jogável.
Apareceu também no já clássico desenho animado do Homem-Aranha (1994) e viria a aparecer em todas as séries subsequentes do cabeça de teia em animação, assim como nas séries animadas de outros personagens, como Vingadores, Hulk e Guardiões da Galáxia.
Com o fim da década e do auge de sua popularidade, modificações drásticas foram realizadas nos quadrinhos. Venom teve diversos outros hospedeiros, incluindo o ex-bully do colégio Flash Thompson, o vilão Mac Gargan (o Escorpião) e a ex-mulher de Brock, Anne Weying. Mas Eddie Brock continua sendo o mais popular dos hospedeiros e sem dúvida o mais relevante. Apenas recentemente, Brock voltou a se unir ao simbionte em tempo para seu primeiro filme solo.
No cinema, Venom fez sua estreia em 2007, como um dos vilões de Homem-Aranha 3, o terceiro e último filme da trilogia de Sam Raimi, estrelados por Tobey Maguire como o herói título. O filme é quase unanimemente reconhecido como o mais fraco da saga.
Eddie Brock nessa versão foi interpretado pelo franzino Topher Grace, uma escolha que sempre pareceu estranha aos olhos dos fãs, por ser muito diferente do corpulento Brock dos quadrinhos. Porém esse estava longe de ser o maior problema do filme, que sofreu com a dose exagerada de super vilões (além de Venom, o Homem-Areia e o segundo Duende Verde também deram as caras) e de histórias paralelas.
Contar toda a saga do simbionte alienígena em um filme já seria uma tarefa difícil; fazer isso e ainda apresentar mais dois outros vilões de forma convincente seria quase impossível. Tentaram encaixar elementos demais em apenas um filme e o resultado ficou bem aquém aos dois filmes anteriores. Foi o fim do reinado de Raimi com o Homem-Aranha, mas o recomeço para Venom. Um filme solo foi cogitado, e um primeiro rascunho de um script até foi escrito, mas o projeto não decolou.
A franquia do herói aracnídeo passou então por seu primeiro reboot, com a estreia de O Espetacular Homem-Aranha (2012), com Andrew Garfield assumindo o clássico uniforme vermelho e azul. Em sua sequência, de 2014, o simbionte faz uma aparição especial.
A Sony anunciou então seus planos para um “Aranhaverso” com filmes próprios para Venom e o Sexteto Sinistro como spin-offs da atual saga. Esses planos foram cancelados depois do acordo da Sony com o Marvel Studios, da Disney. Agora o Aranha retornou para seus legítimos donos e passou a integrar o Universo Cinematográfico Marvel.
Ele poderia contracenar com os Vingadores e fazer parte do universo ao qual sempre pertenceu nos quadrinhos. Era o sonho realizado para muitos fãs, mas isso significa um novo reboot. E assim, Tom Holland assumiu como o amigão da vizinhança, trazendo o herói mais próximo de suas origens, como um adolescente do Queens. Holland fez sua estreia no papel em Capitão América: Guerra Civil (2016) e estrelou seu primeiro filme solo com o apropriadamente chamado Homem-Aranha De Volta Ao Lar (2017).
Porém, a Sony continua sendo a dona dos direitos sobre o universo do personagem e muitos de seus personagens. Ela anunciou que continuaria com os planos de um universo estendido para personagens relevantes do universo do Homem-Aranha.
Venom então seria o primeiro filme desta nova saga adjunta ao Universo Cinematográfico Marvel. O filme será dirigido por Ruben Fleischer, e estrelado por Tom Hardy como o anti-herói Eddie Brock/Venom e Michelle Williams como a já mencionada neste texto, Anne Weying.
Com a proposta de ser mais sombrio e violento que a média, cheio de elementos de terror, inicialmente especulou-se que teria censura “Rated R” (Restrita) – a exemplo de Deadpool e Logan – mas acabou ficando com censura de 13 anos mesmo, como a maioria dos filmes de super-heróis.
A história narrará mais uma vez a saga do agora protagonista e como se uniu ao simbionte. Com mais espaço para desenvolver e explorar o personagem e sua relação única com o simbionte, o filme promete ser a melhor versão do Venom fora dos quadrinhos. Porém, com o escasso material de divulgação disponível, ainda permanece uma grande incógnita para a maioria dos fãs.
Quão relacionado ou separado do Universo Cinematográfico Marvel ele será? Teremos personagens dos quadrinhos fazendo aparições surpresa? O Carnificina realmente aparecerá? O filme será mesmo mais sombrio? Podemos esperar a mesma qualidade de um filme do Marvel Studios? Teremos todas essas respostas nos cinemas no dia 4 de outubro de 2018.
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