As comédias românticas não são tão românticas assim…

Atualmente, a comédia romântica é o gênero mais comum de ser encontrado nas prateleiras das locadoras (se é que elas ainda existem) ou aquele que estará em cartaz em qualquer cinema. A quantidade de filmes lançados ano a ano não para de crescer, reforçando o surgimento de mais produções dessa categoria. Assim, muitos rostos conhecidos como Jennifer Lawrence, Julia Roberts, Cameron Diaz, dentre outros, estão sempre em evidência.

Ao assistir as comédias românticas, esperamos que o casal sempre alcance o “happy end”, mas, na prática, isso não é regra. Geralmente, nas histórias o casal é perfeito – exceto em alguns casos, como ‘Jogo de Amor Em Las Vegas’, em que os protagonistas se detestam, mas acabam se apaixonando -, levando a crer que todas as relações são imunes aos desastres e fracassos do cotidiano.

ogo de amor em las vegas‘Em Jogo de Amor em Las Vegas’, os protagonistas discutem em todo momento

Na maioria das vezes, os filmes mostram exatamente o que acompanhamos na realidade, e é nesse momento em que a “arte imita a vida”. Segundo um estudo realizado por uma especialista em gênero e sexualidade da Universidade de Michigan, as comédias românticas podem afetar a percepção feminina de abusos cometidos por homens.

A pesquisa mostrou como as mulheres se comportam quando um homem começa a agir como stalking – quando uma pessoa adota uma postura excessivamente persistente para com outra. Além disso, concluiu que mulheres que assistem a filmes que exibem comportamentos persistentes dos homens, mesmo que seja de maneira romantizada, tendem a encarar essas atitudes como aceitáveis.

Simplesmente amorO personagem de Andrew Lincoln exagera na conduta no longa ‘Simplesmente Amor’, de 2003

Desta forma, filmes como ‘Simplesmente Amor’, de 2003, são um prato cheio para esse tipo de discussão. Por meio dos filmes, é possível perceber uma mensagem subliminar e até um tanto educativa. No longa, o personagem de Andrew Lincoln revela-se apaixonado por Juliet (Keira Knightley), esposa de seu melhor amigo. Ele manifesta seus sentimentos por ela indo até a porta da residência do casal no meio da noite e exibe uma série de cartões com mensagens românticas. Esta realmente é uma atitude normal? Com certeza, não!

Nos últimos anos, as comédias românticas se enveredam pelo lado do realismo, entregando histórias de amor sem final feliz, uma proposta que inclui um profundo senso de desesperança misturado a personagens sendo péssimos uns com os outros. São filmes cuja proposta é válida, pois na vida real não é diferente. Acabou aquela ideia de que todos precisam ser felizes e que a vida será um “mar de rosas”.

Missão madrinha de casamento‘Missão Madrinha de Casamento’ mostra atitudes que não devem ser tomadas durante a vida

Em ‘Missão Madrinha de Casamento’, vemos quem nem tudo termina tão bem quanto pensamos. Lillian (Maya Rudolph) vai se casar e convida a amiga Annie (Kristen Wiig) para ser sua madrinha. Ela, que enfrenta problemas profissionais e amorosos, resolve se dedicar à função de corpo e alma. Só que, logo no primeiro evento organizado, Annie conhece Helen (Rose Byrne), uma bela e rica mulher que quer ser a nova melhor amiga de Lillian. As duas logo passam a disputar a proximidade da amiga, assim como o posto de organizadora do casamento e demais eventos pré-nupciais.

Contudo, o papel da arte também é o de desconstruir ilusões, mostrar que relacionamentos são difíceis e, às vezes, nos transformam em pessoas ruins. A desconstrução do papel do príncipe encantado ou das princesas das histórias de contos de fadas que estamos tão acostumados a ouvir desde crianças, é algo também que se pode observar nesses longas, principalmente em ‘Casamento do Meu Melhor Amigo’, de 1997.

O casamento do meu melhor amigoA personagem de Julia Roberts tenta separar o casal principal em ‘O Casamento do Meu Melhor Amigo’, de 1997

Julianne (Julia Roberts) é uma mulher determinada a acabar com o casamento de seu melhor amigo Michael, interpretado por Dermot Mulroney. O casal combinou que, se ambos continuassem solteiros quando completassem 28 anos, se casariam. Todavia, Michael a convida para ser madrinha de seu casamento com outra (Cameron Diaz) e Julianne aceita, mas com segundas intenções. O longa acaba por fazer uma analogia à vida de muitas pessoas por aí.

A comédia romântica é como um filme de faroeste, no qual existe uma fórmula a ser seguida. Entretanto, o resultado final só fica realmente aceitável se forem adicionadas pitadas de originalidade. Como diria o Homem-Aranha na narração inicial de seu primeiro filme: “toda história que vale a pena ser contada envolve uma garota”, e acredito que, de tudo, ele não estava errado.

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