As Trapaceiras é uma comédia em torno de duas golpistas de estilos completamente diferentes sendo obrigadas a conviver uma com a outra. Josephine (Anne Hathaway) é sofisticada e focada em seus golpes visando milionários na cidade de Beaumont-sur-Mer, no sul da França. Enquanto Penny (Rebel Wilson) é atrapalhada e aplica pequenos golpes em homens que conhece pela internet.

Na trama, Penny fica sabendo que Beaumont-sur-Mer é onde os ricos vão para passar as férias e decide tentar a sorte na Riviera Francesa, onde acaba cruzando o caminho de Josephine, que fez da cidade seu lar e meio de sobrevivência. Então, para resolver de uma vez por todas quem ficará na cidade, elas fazem uma aposta: a primeira que conseguir arrancar U$ 500 mil de um jovem milionário inventor de aplicativos (Alex Sharp) poderá ficar na cidade.

O filme é um remake de Os Safados (1988), estrelado por Michael Caine (e está aí o porquê do sotaque britânico de Hathaway) e Steve Martin. Por sua vez, o longa de 88 é um remake de Dois Farristas Irresistíveis (1964), estrelado por David Niven e Marlon Brando. E assim como nos filmes de 64 e 88, a nova versão da história tem como roteiristas os americanos Stanley Shapiro e Paul Henning.

Sim, é mais um remake do remake, e o longa segue a mesma estrutura do filme original, ainda que a mudança de gênero das protagonistas, em algum momento, seja usada como forma de trazer uma discussão de como os homens exploram e subestimam as mulheres. Este, por sua vez, é um recurso usado de forma superficial, que, por ser mal aproveitado não acrescenta nada de novo a trama, que se desenrola da maneira já vista antes.

Diferente de Onze Homens e um Segredo (2001) – que recentemente também teve sua versão estrelada por mulheres – aqui o foco não é o entusiasmo gerado pelo planejamento detalhado de um plano infalível e a expectativa se vão conseguir ou não o executar. A história acaba não sendo tão bem amarrada assim, é uma comédia pastelão onde os acontecimentos parecem aleatórios e o recurso são as situações ridículas, as quais em alguns momentos funcionam com harmonia, mas em outros não encaixam e são apenas momentos que não fazem o menor sentido.

E muito desse desalinhamento no longa se deve a dupla formada por Anne e Rebel, que parece nunca encontrar um terreno em comum, ainda que a diferença entre as duas seja o foco da comédia. A falta de entrosamento entre elas faz com que esses opostos impeçam a trama de engatar. Elas não só pertencem a mundos diferentes como parecem estar em filmes diferentes.

Rebel está no papel de sempre, o qual ela faz bem, e Anne varia entre os vestidos lindíssimos e os sotaques ridículos com maestria. As duas parecem estar nos papeis certos e seu comprometimento com seus personagens estrambólicos é evidente, mas ainda assim parecem deslocadas, o que faz com que desejemos que seu talento fosse melhor empregado.

As Trapaceiras é uma comedia que consegue arrancar um riso ou outro, mas em geral não consegue fazer com que o espectador caia no golpe do remake de um sucesso. Ainda que a dinâmica que deu certo no original seja mantida, a falta de coesão faz com que o filme não chegue a lugar algum. Esse é um daqueles filmes que podem ser esquecidos com facilidade, como se você sequer tivesse ido ao cinema.

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