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Paula Pimenta, indiscutivelmente, é um dos nomes mais aclamados da literatura infantojuvenil brasileira atualmente. Junto com Thalita Rebouças, ela conquistou um mar de fãs apaixonados por suas obras e personagens. E depois do sucesso do filme Fala Sério, Mãe (2017) e o recente lançamento de Tudo Por um Pop Star (2018) – ambos adaptações de livros de Thalita – , foi a vez de Paula ter um livro seu transportado às telas do cinema.

A escolha por Cinderela Pop foi feliz, principalmente pelo cenário cinematográfico disponível. O cinema sempre se mostrou aberto para interpretações ou atualizações de obras clássicas, como no recente O Menino Que Queria Ser Rei (2019) ou até em obras como Enrolados (2010) e Malévola (2014).

A busca por novas interpretações não existe só para dar um olhar atualizado para personagens que seguiam uma linha muito antiga para os olhares atuais, mas também para criar um vínculo com o público infantil de hoje. A felicidade em adaptar Cinderela Pop aos cinemas conversa justamente com isso. A obra de Paula Pimenta não só consegue trazer uma belíssima adaptação da clássica história da princesa, como atualiza de forma certeira. No entanto, por mais que a autora tenha sido feliz com sua obra, o filme ficou longe de encantar ou até mesmo trazer o espírito do conto infantil.

Por mais que Bruno Garotti tenha abraçado e entendido o seu público, realizando um adaptação honesta para a criançada, seu roteiro é tão infantil quanto. Cinema e literatura, por mais próximos que estejam no conceito de arte, trazem linguagens completamente diferentes. Há sim espaço para todo o tipo de texto, no entanto, o cinema exige muito da interpretação, algo que não possui na arte escrita. E isso é aparentemente incômodo no longa. As falas adaptadas por Garotti beiram o amadorismo e não trazem a naturalidade precisa – muito disso caminha junto com o estilo de atuação no Brasil. Pelo domínio da televisão em conteúdos audiovisuais, tudo é muito engessado, como nas novelas. São poucos os momentos que o filme consegue trazer naturalidade nas falas e na ação dos personagens.

Em sua essência, Cinderela Pop traz um conceito divertido e interessante quando trata da modernização das princesas clássicas, mas a atualização acabou ultrapassando um pouco do que seria o ideal. O constante uso de termos modernos por todos os personagens cansa rapidamente o espectador. Garotti não consegue se equilibrar em sua estrutura narrativa e escolhe a repetição de frases já compreendidas em primeira instância. São esses pontos que cansam a história boba do longa, incluindo o próprio público alvo.

O roteiro debilitado de Garotti dificilmente prende a atenção do público e fica longe de conseguir marcar de forma certeira com a nova versão. Por mais que o remake live action de 2015 não tenha feito o barulho que a Disney esperava, Cinderela Pop consegue estar tão longe de chamar a atenção quanto. O sucesso, então, não está na adaptação ou, muito menos, na história, mas sim no elenco. Não que as atuações sejam brilhantes, mas sim os nomes envolvidos na produção.

O público conquistado por Maísa é o principal espectador do longa. A jovem artista chama atenção com suas constantes participações nas redes sociais e consegue conquistar todos com seu carisma – muito bem apresentado durante a coletiva de imprensa. No entanto, a jovem está longe de se provar como atriz.

Maísa, por mais que seja a protagonista, é a que menos chama atenção em tela, com uma interpretação limitada, cheia de banalidades e expressões exageradas para situações simples. A principal força do filme consegue ser exatamente a sua vilã. Por mais que Fernanda Paes Leme mantenha sua linha tênue no mesmo patamar dos outros atores, sua personagem é a primordial força para a história caminhar. A maldade da então madrasta é o principal chamariz para o longa e consegue crescer a personagem principal, já que a jovem não consegue realizar isso sozinha.

Quem também chama a atenção do grande público é Filipe Bragança, que trabalhou com Garotti em Eu Fico Loko (2017). A atenção, por sua vez, não está em sua fraca performance como um cantor de sucesso de uma música só, mas principalmente na sua representação como o príncipe encantado que Paula Pimenta criou – tanto que a mesma confirmou na coletiva que Filipe foi a escolha perfeita para o papel.

A participação do jovem, no entanto, é o que causa o principal problema do longa. O roteiro altamente expositivo e banal reforça uma ideia sobre o amor e insiste nesse “conflito” entre seu personagem e o de Maísa. Todavia, o mesmo roteiro que tenta quebrar a ideia do romance clássico, trabalha justamente com isso. Ao invés de quebrar um recurso antigo e seguir a linha que o roteiro apresenta com os personagens, a jornada de todos em volta segue a linha clássica do romance, não fazendo jus ao que a própria história apresenta.

Nisso, temos um uso da modernidade de forma também vazia. Não só na questão de coadjuvantes buscarem a fama através da internet e constante falas modernas, mas também nas lições que ele passa. O único núcleo que realmente funciona dentro da proposta de Garotti é o da personagem de Bárbara Maia, que conversa diretamente com a personagem de Giovanna Grigio.

Neste ponto, temos uma menina ingênua e inocente sobre o que é o amor. A evolução da personagem faz com que ela passe a se amar e entender que não há a verdadeira necessidade de um príncipe idealizado para ser feliz – algo que deveria acontecer com a personagem principal ao invés da coadjuvante. Entretanto, por mais que o roteiro tenha se saído bem no conceito da narrativa, Garotti insiste em trazer diálogos recheados de pleonasmo, com falas sobre situações que acabaram de ser mostradas. O que só reforça a falta de coragem em trabalhar uma história mais madura com um público infantil.

Cinderela Pop, no fim, tenta fugir do clássico romance bobo, porém, em sua essência, apresenta os mesmos conceitos, fugindo da sua própria proposta de modernização. E não vai parar por aí. Durante a coletiva com o elenco e a autora, o produtor Rodrigo Montenegro confirmou mais sete filmes das princesas modernas de Paula Pimenta. Notícia ruim para quem clama por um cinema brasileiro mais maduro e melhor reconhecido. A verdade dói, mas fortalece.

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