“Doutor Castor” ajuda a entender um pouco da história recente do Rio de Janeiro em viagem ao submundo.
No final do século XIX, na tentativa de superar uma crise financeira, o Barão João Batista Drummond dono do então Jardim Zoológico do Rio de Janeiro criou um sorteio para os visitantes, onde aquele que tivesse um bilhete com o animal do dia que seria um entre os 25 do parque que ficava coberto por um pano e só revelado ao fim do dia ganharia um prêmio.
A inocência da iniciativa no ano de 1892 não imaginava que essa loteria de fácil entendimento teria grande aceitação popular e cresceria tanto nas camadas mais populares da antiga capital federal.
Com a popularização do jogo e a formação de uma hierarquia entre Banqueiros, gerente e apostadores surgem figuras como Castor de Andrade, o personagem título da série documental da Globoplay “Doutor Castor”.
Uma figura popular na cidade do Rio, Castor herda da avó e do pai o posto no controle de ponto de venda do jogo Bicho e também como dirigente de futebol no Bangu Atlético Clube, tradicional time da Zona Oeste.
Com depoimentos de vários ex-jogadores e vasto material de arquivo da última fase gloriosa do Bangu nos anos 80 quando o time chegou a final do campeonato brasileiro se desvenda um bastidor folclórico e inacreditável de um mafioso que queria ser reconhecido e adorado e buscou isso através do futebol.
Uma expressão recorrente no meio do futebol, o “bicho”, uma espécie de bonificação individual por produtividade dos jogadores, tem a explicação devida através da série. A origem do nome está na origem do dinheiro, o jogo do bicho. Castor era generoso. Fazia questão de levar malas de dinheiro para atletas, de prometer premiações irreais para os clubes da época e até subornar árbitros.
O esporte é só ponto inicial para entender como Castor e outros bicheiros dividiram a região metropolitana do Rio em pontos de atuação do jogo, expandiram seus negócios através do Carnaval e do futebol, compraram agentes do estado com policiais civis e militares e até juízes. Com o fim da ditadura e as eleições diretas a influência comunitária de figuras como Castor passa a ser determinante para criar currais eleitorais e a formação de milícias.
O “Bicheiro Romântico” era carismático, ele torcia incansavelmente pelo clube e acima de tudo era vaidoso. Adorava dar entrevistas, estar cercado de celebridades e fazia questão de ter o símbolo de um castor no uniforme ou na bandeira da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel em alusão a ele mesmo. A direção corajosa de Marco Antônio Araújo, não tem receio de buscar personagens e arquivos que expõem a figura violenta por trás do simpático senhor que sambava na Sapucaí e as relações dele com executivos de TV, dirigentes de futebol e vários políticos.
Em quatro episódios de uma hora que se dividem em sua história com o Bangu, o Carnaval a Máfia do bicho e ruína de tudo quando ele e outros contraventores foram presos e condenados já no início dos anos 90.
A relação de poder dele era tão grande que mesmo preso bancou a reforma da cadeia onde esteve preso na Polinter, no Centro do Rio, em dos causos inacreditáveis que nos ajudam a entender um pouco da história recente do estado onde 5 ex-governadores foram parar na prisão nos últimos 10 anos.
E ainda só não teve o sexto, porque o processo e a investigação que pode punir o atual gestor eleito Wilson Witzel, ainda está em andamento. Fica claro neste documentário que toda essa onda de corrupção não aconteceu ao acaso.