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“Mal posso esperar para ver você crescer. Mas acho que precisamos ser pacientes, porque ainda temos um longo caminho à frente, muito o que remar. O caminho é longo, mas por enquanto, para atravessar a rua, segure minha mão. A vida é o que acontece, enquanto você está ocupado fazendo outros planos. Lindo, lindo, lindo, menino lindo”. O trecho, escrito em 1980 por John Lennon (em tradução livre) para a canção Beautiful Boy é uma importante reflexão do que é a história da relação entre David Sheff e o seu filho Nic, retratada em Querido Menino.
Pela primeira vez em produção americana, o belga Felix Van Groeningen – indicado ao Oscar em 2014 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro pelo Alabama Monroe – chama a atenção com uma direção mais comedida em comparação ao longa de 2014, provando seu amadurecimento cinematográfico, ainda mais dentro de um mercado diferente do europeu. A principal felicidade de Groeningen, além de conseguir trabalhar com um elenco poderoso, está na escolha de sua adaptação ao lado de Luke Davies.
Os dois escolheram adaptar não só um, como dois livros. No caso, Beautiful Boy, escrito por David e Tweak, escrito por Nic. A felicidade existe pelo longa conseguir trabalhar de maneira equilibrada dois pontos de vista de uma mesma história, e dubiamente emocionantes.
Inicialmente parecendo um filme de drama pessoal pela visão de um pai preocupado com um filho rebelde e viciado em metanfetamina, logo se transforma em uma discussão sobre controle, e como o exagero dele leva ao descontrole. Além do tema ser muito trabalhado no roteiro – ganhando até momentos expositivos – Groeningen explora isso de maneira inteligente com sua direção. Há momentos em que o diretor coloca Steve Carell em posições dominantes e em outros Timothée Chalament, dando novamente o equilíbrio dos dois, mas também mostrando que não há um controle único na história.
O cineasta belga trabalha isso durante todo o longa. Nos momentos de ponto de vista de Carell, há um início controlado, mas tudo é questão de tempo para perdê-lo. Por mais que, aparentemente, o estilo direcional escolhido por Groeningen seja repetitivo, ele conversa diretamente com a narrativa dos dois personagens. Principalmente do lado de Nic, que busca a melhora e a volta do autocontrole, mas da mesma forma que acontece com seu pai, é só uma questão de tempo para voltar ao descontrole. E a conclusão de uma história assim acontece quando os dois percebem a necessidade um do outro, reforçando o trecho citado no início do texto, o que faz do final de Querido Menino algo muito cru e real para uma realidade dolorida de milhões de jovens americanos e do resto do mundo.
Ainda assim, é inevitável dizer que a narrativa do belga segue a fórmula pronta do Oscar, com seus momentos de ápice dos personagens prontos para chamar a atenção da Academia. No entanto, o filme acabou sendo – injustamente – esnobado na premiação que acontece no próximo domingo (24).
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Ao todo, Querido Menino não se revela uma obra prima, porém é muito maduro diante sua escolha narrativa e entrega uma história honesta com atuações poderosas, principalmente da dupla principal. A cada drama, Carell se demonstra cada vez mais um ator que merece respeito, no ponto de vista dramático. Principalmente depois de sua indicação ao Oscar por Foxcatcher – Uma História Que Chocou o Mundo (2014). Da mesma maneira que no filme de cinco atrás, Carell oferece uma atuação mais comedida e muito interna. No entanto, aqui, seu personagem exige momentos de estouro, o que entrega um conflito poderoso da história de David, principalmente no momento exato de uma difícil escolha. O americano apresenta um controle forte diante da difícil realidade do filho, lindamente interpretado por Chalamet.
Enquanto Carell há anos vem demonstrando atuações maduras em comédias e lutando para demonstrar o mesmo potencial em dramas, o jovem francês já conseguiu esse título. Principalmente pela também indicação ao Oscar por Me Chame Pelo Seu Nome (2017). Mas desde a curta participação em Interestelar (2014), Chalamet vem chamando a atenção e chegando cada vez mais aos holofotes, mostrando-se o queridinho da vez. Mas não de forma desmerecida. Além das belas atuações em outras obras, Chalamet atua com um amadurecimento tão poderoso quanto o de Carell e tão comedida quanto.
A vantagem disso está principalmente no fato da obra fugir das fórmulas de filmes com jovens usuários, como Diário de um Adolescente (1995) e Trainspoitting (1996), por exemplo, que exigem muito do exagero e de um momentos psicodélicos. O controle da direção de Groeningen é muito bem representado exatamente nesses momentos. Ele exige de Chalamet um controle. O jovem não precisa de um visual físico “estragado” ou exagerado diante o uso das drogas. Isso acontece justamente pelo controle em grande parte do longa, chegando até o momento do descontrole. Nisso, Groeningen, traz um resultado mais limpo para sua obra em comparação aos dois citados anteriormente, o que pode parecer uma romantização do uso da droga.
Porém, o roteiro não escolheu tratar exclusivamente dos resultados físicos do uso, mas como ele afeta as relações sociais e te faz, justamente, não ter mais controle sobre aquilo que você achava que tinha.
E do mesmo modo que a montagem equilibra muito bem o ponto de vista dos dois, há, consequentemente, um equilíbrio sobre os personagens. Ou seja, só porque Nic usa drogas, não faz dele o único a não ter o controle sobre sua vida, já que David e as personagens de Amy Ryan e Maura Tierney também não possuem a mesma habilidade. Esse é o amadurecimento do roteiro de Groeningen e Davies, diante daquilo que já foi várias vezes adaptado aos cinemas. Não há o discurso simples de “não use drogas, isso é errado”, mas há uma análise mais aprofundada diante o que o uso dela pode afetar no social e não só no individual, passando a lição da necessidade de união e confronto com a realidade, mesmo que ela seja a desistência.
Inclusive, mesmo que seja uma história real, o roteiro foi corajoso em trazer essa pauta em discussão, fortalecendo o argumento de ser uma demonstração mais crua e realista de uma dolorosa realidade.
O que provoca sentimentos negativos diante o longa é a trilha sonora. Não pelas músicas escolhidas, mas pela maneira como foram encaixadas. Por mais que a montagem de Nico Leunen funcione de maneira positiva, algumas das músicas não oferecem o mesmo resultado das demais técnicas, e ainda que sejam momentos que não provocam tanta emoção, os erros conseguem tirar o espectador de todo o clima. No entanto, ele é compensado com o restante da obra e com as belíssimas atuações, além de uma emocionante leitura do poema Let It Enfold You (Deixe-me Envolver Você, em tradução livre), do poeta, contista e romancista Charles Bukowski, realizada pelo próprio Nic Sheff.
Neste ponto, Querido Menino, por mais que siga uma estrutura que procurou muito pelas premiações, é uma obra honesta consigo mesma e que entrega uma maturidade ao tratar de um tema delicado. Nisso, o cineasta belga não carrega o espectador pela mão para dar a solução do problema, mas sim reflete sobre como o controle absoluto leva a falta dele caso não haja compaixão e união.
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