Será que ‘50 Tons de Cinza’ “merecia” uma paródia? Um dos filmes (baseado no “best-seller” da autora inglesa E. L. James) mais criticados por especialistas e até pelos próprios fãs da obra escrita, será que poderia ser ainda mais zoado? O comediante americano Marlon Wayans, então, ao ver do que se tratava ‘50 Tons…’ e toda a repercussão não teve dúvidas de apontar e dizer que este também deveria ganhar uma versão de humor escrachada. Nasce, então, ‘50 Tons de Preto’; É claro.
Wayans aqui é roteirista, produtor e ator principal. Faz o belo, rico e pervertido ‘Christian Black’. A versão negra de ‘Christian Grey (Cinza)’. O roteiro segue tirando sarro do filme original quase que quadro por quadro. Black e Hannah (Kali Hawk) vivem o casal que se envolve em uma trama de sexo sadomasoquismo e submissão feminina… O primeiro encontro (a entrevista), as cenas de sexo, as conversas… Os ambientes, posição de câmera, cores… Tudo é copiado até que com bastante cuidado. Quem assistiu o verdadeiro não vai ter muitas surpresas aqui.
O problema é que 2016, quando o filme foi lançado, o mundo (e os Estados Unidos, neste caso, especificamente) passa por um momento bastante delicado politicamente por conta da questão de racismo. A falta de atores negros indicados a premiação do Oscar fez com que atores afro descendentes fizessem um boicote ao evento por conta do preconceito e da falta de oportunidade… Fora a violência sofrida pela população negra no dia a dia norte-americano.
Ao longo do filme, Marlon aborda o tema racismo, mas de uma maneira de gosto bastante duvidoso… Por várias e várias vezes, há a presença de “piadas” que ele mesmo faz em relação ao estereótipo de que negros são ladrões, possuem pênis grandes, etc. Mas, isso não vem de hoje. Desde o sucesso de ‘As Branquelas’ de 2004, ele vem repetindo algumas dessas piadas com a intenção de polemizar utilizando as próprias críticas que os negros recebem, mas ao próprio favor… Seria isso algo engraçado? Ou inteligente?
Os filmes de comédia dele descambaram para isso recentemente. Vide a série ‘Inatividade Paranormal’ (2013…2014). Sobrou até para os latinos. Esta “evolução” em forma de humor crítico ainda traz os elementos escatológicos e apelativos infantis em relação ao sexo (como nos primeiros ‘Todo Mundo Em Pânico’ de 2000 e 2001) e principalmente à busca pelo riso forçado com cenas repetitivas. Ou seja, prepare-se para sequências cansativas onde Marlon “passando meia hora” na mesma “piada” como, por exemplo, naquelas que envolvem graça física (bater a cabeça em alguma coisa várias vezes). Outro empecilho são as várias piadas internas americanas… Se você não tem contato com a cultura pop dos Estados Unidos ficará bem perdido com a quantidade de referências e nomes de artistas citados.
A crítica já massacrou o longa dando a ele notas (justas e) ridiculamente baixas. Um riso bobo pode ocorrer aqui e ali, mas é provável que seja mais de vergonha alheia por parte do público do que de graça por parte do filme. ‘50 Tons de Cinza’ já é ruim por si só (poderia dar 51 motivos para alguém inteligente e com o mínimo de auto estima não assisti-lo, pois é de fato uma tortura para o cérebro), mas perto de ‘50 Tons de Preto’ fica até “engraçadinho”…