Qual o segredo da bilheteria estrondosa de 2012 para Magic Mike, diga-se de passagem, a maior de uma produção dirigida por Soderbergh? Talvez sejam dois fatores: Inteligência e empatia. Uma por parte do próprio Steven em aproveitar o início real da carreira de Channing Tatum como stripper, e por realizar um filme ligeiro, objetivo e com sua marca pessoal. Uma fotografia chapada em um sépia elegante, uma trilha sonora indie noventista e uma edição sem firulas. O carisma de Channing e do elenco, Matthew McConaughey (Dallas) e outros reforçaram a ideia de um filme sobre strippers masculinos. Coisa que excluiria boa parte do público, o que na verdade não aconteceu, pois o que se via eram caras tentando levar a vida com o que tinham, aparência e ilusão.
O roteiro de Reid Carolin garantiu uma história sobre o quê fazer com o restante da juventude em estado final, e sobre a futilidade deste universo da sedução. O que acontece nesta sequência com a vinda do elenco, fora o próprio Soderbergh que deixou a batuta para Gregory Jacobs, é justamente seu contra-senso. Michael Lane (Tatum) deixou seus companheiros “Reis de Tampa” (Flórida) para dar vazão a seu negócio com móveis planejados, o que dá um início promissor para o filme que aproveita o humano do personagem em uma vida difícil de ser levada, até ser chamado a uma festa de despedida por seus amigos. Uma convenção, um último show, pois Dallas os abandonou. Daí por diante temos uma aberta comédia roadmovie inconstante, pois oscila entre o escatológico, com cenas impagáveis, como a dança de ‘Richie Bem Dotado’(Joe Manganiello) a uma atendente de caixa para reafirmar seu talento no negócio, e cansativos diálogos existenciais que lá pela décima vez, e com aparecimento de múltiplos personagens e um par romântico de Magic Mike, Zoe (Amber Heard) sanduichado no trajeto do food truck, tornam a experiência forçosa.
Com infinitas referências ao filão do estilo como ‘Priscila – A rainha do Deserto’ (1994), Magic Mike XXL é irônico, menos seria mais. Não que ele não imponha um estilo próprio, mas aí está justamente seu calcanhar de Aquiles. Não se pode ter um filme que critique e celebre ao mesmo tempo, pois assim fere-se a fonte original.
Participações como de Jada Pinkett Smith (ótima), ainda são prejudicadas por excessos cometidos no caminho, pois parece que aqui o filme claramente se direciona às mulheres, apelando para cenas dispensáveis e de dança, e mais piadas baseadas no carisma de cada personagem. Com trinta minutos a menos e um caminho mais bem traçado entre trama e narrativa, teríamos uma continuação competente e sem esquizofrenia.
Quando falei em estilo, me referi às opções nos diálogos com planos abertos seguros e sem edição, bem naturalistas, como se o filme se levasse a sério, mais um minuto depois temos mais descontrole nas piadas sexuais, o que baixa o nível da sequência e não permite que saia ilesa. O melhor exemplo está em uma cena que envolve a personagem de Andie MacDowell e suas amigas de meia idade frustradas com seus casamentos e aconselhadas pelos caras, engraçado, mas desnecessário. Espero que este feche o ciclo, ao invés de uma trilogia.