Produzido por Mark Wahlberg – que declarou que a série lembra vagamente sua trajetória em Los Angeles -, além de Stephen Levinson e Rob Weiss, quatro anos após “Entourage” chegar ao fim, a Warner lança a versão cinematográfica dos amigos com o título nacional de “Entourage: Fama e Amizade”. É importante avisar que o filme mantém basicamente todos os elementos da série original e em momento algum esconde o fato de que foi feito para os fãs – semelhante ao que aconteceu no ano passado com o bom “Veronica Mars”.
A história do filme se inicia um pouco após o final da série, quando o ex-agente Ari Gold (Piven) está com sua esposa na Itália. Agora chefe de estúdio e tentando se estressar menos no trabalho a pedido da companheira, Ari convida seu ex-cliente Vince (Grenier) para estrelar seu próximo filme, uma espécie de “O Médico e o Monstro” do futuro. Vince concorda, mas impõe uma condição: ele quer dirigir e estrelar o projeto. Apesar de saber manter as aparências como poucos, Ari e a imprensa sabem que o estúdio está em uma situação delicada que não pode arriscar ter uma grande perda, mas em consideração ao amigo, acaba concordando. A maneira como os personagens são apresentados é rápida e direta, pois como eu havia dito, o filme é direcionado ao público que acompanhava a série, mas isso não quer dizer que quem esteja assistindo pela primeira vez tenha dificuldades em entender o que se passa, o que é um ponto positivo.
O problema é que após um ano de projeto, todo o orçamento de $100 milhões já foi usado e o jovem diretor continua pedindo mais ao chefe do estúdio, sob a alegação de que quer fazer um filme perfeito, mas não mostra o andamento do trabalho para ninguém. Seria ele um gênio ou um fracasso? Nós, como espectadores, também não sabemos e esse é outro ponto positivo. Um filme tem que ter uma história que intriga. A curiosidade é o que move o ser humano, pois até para comer aquele bolo de aniversário é preciso estar curioso, querer saber o gosto que tem. Se a todo momento você conseguisse adivinhar passo a passo dos personagens, a experiência ficaria monótona e desinteressante. Então, mesmo no escuro, Ari visita o investidor do filme (interpretado por um contido Billy Bob Thornton) para pedir mais dinheiro. Só que o filho e futuro herdeiro do milionário (um quase irreconhecível, porém bem confiante Haley Joel Osment) impõe a condição de só liberar mais dinheiro, caso goste do filme e seu gosto cinematográfico é bastante duvidoso, diga-se.
Seja na sua parte estética como na sua estrutura narrativa, Entourage mais parece um episódio estendido da série. A grande quantidade de artistas interpretando a si mesmos (cameos) e aparecendo o tempo todo, sempre quebra a “seriedade” do momento, evitando que o filme se aprofunde no drama de algum personagem em específico. Interessante, pois apesar de transitar no mesmo tema da obra-prima “O Jogador” (1992, de Robert Altman) – os bastidores de Holywood -, assume uma postura totalmente diferente, ficando sempre na superfície. Em outras palavras, “Entourage” exalta a ostentação (e um pouco de machismo, é verdade), ao invés de tentar mostrar para o público que este estilo “vazio” (e muitas vezes absurdo) de viver seja uma coisa ruim.
A direção do também criador da série Doug Ellin, assim como seu roteiro, não apresenta nada de impressionante, mas também não há erros significativos. Todo o elenco está em forma, o que não quer dizer muito também, pois ficaram praticamente uma década interpretando os mesmos papéis. Exceto Piven, seu personagem Ari Gold cai como uma luva para o ator que já é bem engraçado e faz como poucos o papel de “imbecil” ou egocêntrico (vide “Dias Incríveis”, de 2003). Apesar de o filme ser inofensivo, seu tom superficial não será bem aceito ao público mais conservador quanto ao seu humor politicamente incorreto. Confesso que algumas piadas são apelativas e bobas, mas se tratando de uma comédia escatológica (pastelão, besteirol), Aristóteles já havia ensinado que os protagonistas deste tipo de filme não precisam ser complexos e nobres, mas inocentes e simpáticos, para aprenderem com seus próprios erros.
Portanto, esse retrato simplório de Hollywood, cheio de referências internas, tem tudo para agradar os fãs que sentiam falta das confusões dos quatro amigos, e como eles resolvem seus problemas à sua maneira. Os produtores mencionaram que, dependendo da aceitação popular, mais um ou dois filmes poderiam surgir em breve e o diretor declarou que adoraria fazer uma trilogia. Entretanto, nos resta aguardar para saber o que irá pesar mais: as críticas de quem achou o filme “misógino” e suas piadas ofensivas ou os elogios dos fãs nostálgicos que sabem que o cinema é imenso e tem espaço de sobra para todos os tipos de humor, inclusive este.
Trailer do Filme: