Após estourar com o grande sucesso de “Carrie – A Estranha” (1976), que fora adaptado da obra de Stephen King, Brian De Palma investiu em um projeto no qual poderia, além de dirigir, escrever. Como muitos diretores, Brian criou seu estilo através de referências de outros grandes nomes do cinema. Um exemplo bem presente em seus filmes é o clima de suspense e suas “belas fatais”, que o inglês Alfred Hitchcock imortalizou em vários clássicos nas décadas de 40 a 60. O curioso é que De Palma, ao copiar um estilo ou referência, nunca se preocupou necessariamente em fazer melhor que o “homenageado”, como é o que acontece em Vestida Para Matar, onde o diretor pega emprestado a embalagem do “mestre do suspense”, mas se esquece de dar a mesma importância ao conteúdo, e com isso cria um estilo próprio de filme ruim, mas extremamente atraente (nitidamente referenciando Psicose, entretanto, sem perder sua identidade particular). Eu diria – e entendam isso da maneira mais carinhosa possível – que os filmes de De Palma, com exceção de grandes clássicos, como “Scarface” ou “Os Intocáveis”, são a nata dos filmes “B”.
Com seu estilo polêmico, o trabalho de De Palma sempre dividiu ferrenhamente opiniões. Tanto que a jovem Nancy Allen pelo filme “Vestida Para Matar” foi indicada ao Globo de Ouro de “Nova Estrela Feminina do Ano” e também ao Framboesa de Ouro como “Pior Atriz”, na primeira edição do evento que surgiu para coroar os piores filmes do ano. Além de Nancy, Michael Caine e Brian De Palma também foram indicados ao Framboesa, como “Pior Ator” e “Pior Diretor”, respectivamente. Na história, conhecemos uma mulher loira, casada e sexualmente frustrada chamada Kate Miller (Angie Dickinson). Ela visita seu psiquiatra Dr. Elliott (Michael Caine), principalmente para reclamar de sua vida sexual insatisfatória e acaba dando em cima do doutor, que calmo e centrado a rejeita, por ser um homem casado. Note que De Palma não tem pudor algum em mostrar nudez e sexo de forma explícita, agindo sempre em favor do seu estilo, e impressionando o espectador através de imagens claras e diretas.
Após fazer um sexo inusitado e satisfatório com um desconhecido, Kate descobre que este lhe passou uma doença venérea. E retornando ao apartamento do homem, um assassinato horrível acontece no elevador. Enquanto a vítima ainda dava seus últimos suspiros de vida, uma prostituta também loira chamada Liz (Nancy Allen), identifica a assassina, uma mulher (adivinhe!) loira que mata a vítima com uma navalha. Devido a falta de credibilidade da testemunha, a policia investiga o caso tratando-a também como uma suspeita, fazendo a moça unir forças com o filho da vítima para tentar parar a psicopata, entretanto, a garota passa a ser o próximo alvo da assassina.
O filme conta com a excelente trilha sonora do italiano “Pino” Donaggio, que também faz referência às trilhas “hitchcoquianas” do mestre Bernard Herrmann (dos clássicos Psicose (1960), Os Pássaros (1963) e que havia composto a trilha original de “Trágica Obsessão” (1976) para o próprio De Palma). Donaggio, que já havia se destacado na trilha de “Inverno de Sangue em Veneza” (1973) e de “Carrie, a Estranha” (1976), também para De Palma, utiliza violinos histéricos nos momentos de tensão e melodias sensuais para ilustrar o “sex-appeal” de suas mulheres fatais. Não fosse sua trilha instigante, Vestida Para Matar seria puramente visual e um primor na técnica de como se fazer um filme de suspense, que certamente serviu de inspiração (ou base) para outros grandes nomes que vieram posteriormente, e eu arriscaria a dizer (parece absurdo, mas conceitualmente é aceitável) nomes como “O Silêncio dos Inocentes” e “Pânico”, além de estar bem à frente do seu tempo, como se anunciasse uma geração de dramas eróticos que surgiriam entre meados da década de 80 e 90.
Obviamente nem tudo são flores, pois certamente tem problemas estruturais e de roteiro, além de ser um filme que ficou datado no tempo por seu figurino, violência gratuita e tom de sensacionalismo em alguns momentos, mas a habilidade cinematográfica de De Palma transcende qualquer problema. E o final, ah o final espetacular! Goste ou não do diretor, fica difícil não admitir seu brilhantismo neste “thriller” psicológico ao melhor estilo Hitchcock. Defeitos, encontramos aos montes, mas conforme a história avança, fica impossível abandoná-la sem querer saber seu desfecho, e como grande cineasta que é, De Palma sabe disso e recompensa o espectador de forma absolutamente gratificante, com cenas e sequências de dar “borboletas no estômago” até o último minuto de película. Vestida Para Matar é uma obra obrigatória, que foi inspirada por grandes filmes e inspirou outros tantos na mesma proporção.
Trailer do Filme:
UMA CARREIRA EM 24 FRAMES: BRIAN DE PALMA
Uma das colunas mais queridas do Pipoca de Pimenta finalmente está de volta e em melhor formato! A partir deste mês, toda a equipe do site irá analisar a filmografia de um diretor homenageado e criticar seus principais filmes.
Durante muito tempo, a indústria cinematográfica usou a definição de 24 frames por segundo para mostrar filmes com fluidez satisfatória, alegando que nossos olhos não conseguiriam ver diferença com taxas mais altas. Embora tal teoria já tenha sido ultrapassada, serviu de inspiração para este quadro chamado: “Uma carreira em 24 frames”.
Este mês vamos homenagear a filmografia de um diretor que concebeu vários clássicos e filmes icônicos ao longo de três décadas. Embora não tenha obtido o devido reconhecimento por seu trabalho na época em que estava no auge, hoje em dia é difícil não admitir a influência de suas obras para a Sétima Arte.
O aniversariante do mês nasceu em Newark, New Jersey em 11 de setembro de 1940. Brian de Palma é filho de um cirurgião e chegou a estudar física, enquanto se dedicava fazer alguns curta-metragens. O jovem diretor começou a se destacar depois de produzir por conta alguns filmes que dirigia. Apaixonado por suspenses com belas e perigosas mulheres, o estilo misterioso de De Palma seria sua marca registrada e o acompanharia durante toda sua carreira. Habituado a trabalhar com roteiristas de grande calibre, como David Koepp (O Pagamento Final, 1993), Paul Schrader (Trágica Obsessão, 1976), John Farris (A Fúria, 1978), Oliver Stone (Scarface,1983) e David Mamet (Os Intocáveis, 1987), De Palma adaptou também o clássico do terror “Carrie, a Estranha” em 1976, do prestigiado escritor Stephen King.
Principais filmes realizados:
Paixão (2012)
Guerra sem Cortes (2007)
Dália Negra (2006)
Femme Fatale (2002)
Missão: Marte (2000)
Olhos de Serpente (1998)
Missão: Impossível (1996)
O Pagamento Final (1993)
Síndrome de Caim (1992)