Sidney Lumet sempre se preocupou com a posição do homem em relação ao mundo em que vive. Parece clichê usar uma frase desta no início de um texto sobre seu filme mais perfeito, mas ‘Rede de Intrigas’ que em Novembro completará 40 anos, é realmente a síntese de sua carreira como um diretor preocupado com problemas sociais norte-americanos. Como um filho da Filadélfia, encontrou seu verdadeiro sentido na vida com a produção artística de uma Nova Iorque bem diferente da que conhecemos hoje. Com uma multiplicidade de etnias em condições econômicas injustas, e com um berço de intelectuais e artistas que pensavam mais em mudar o mundo com sua arte do que se garantir em milhões de dólares numa vida privilegiada.
Seguindo esta paixão dirigiu em mais de 50 filmes (a maioria filmado em Nova Iorque), clássicos como ‘Doze Homens e Uma Sentença’(1957), ‘Um Dia de Cão’(1975), ‘Sérpico’(1973) e ‘o Veredito’(1982). Mas em 1976, uma fábula de humor negro escrita pelo genial roteirista Paddy Chayefsky previu o tipo de mídia predadora e movida pela audiência que se tornaria a TV dos dias atuais.
Faturou 4 das 9 estatuetas a que foi indicado. Uma delas póstuma ao ator principal vivido por Peter Finch, um veterano que assim como Hitch Ledger em ‘O Cavaleiro das Trevas’ imortalizou seu personagem que aqui é um âncora que entra em colapso nervoso após a perda de seu casamento, e uma demissão por baixa audiência do jornal em que trabalha. Após dizer ao vivo os motivos de sua frustração e sua vontade de se matar, torna-se um herói de uma massa de despolitizados e alienados espectadores que acreditam em seu discurso contra o sistema econômico, político e militar.
Mas a beleza do roteiro original que também levou um Oscar, é oque o complexo jogo de poder que envolve a TV, os conglomerados econômicos, e uma produtora ambiciosa vivida por Faye Dunaway (Oscar de melhor atriz), fazem para inverter sua situação de falência, transformando um suposto profeta do povo em joguete para lucros na desgraça e no circo que se torna sua grade de programas.
Uma crítica perfeitamente construída como alegoria de um século XX pessimista que se tornou na segunda metade de seu curso, um total abandono de qualquer ética em função dos louros. Um filme obrigatório.