Ator, diretor e produtor, Mel Gibson volta a ser aclamado por Hollywood com o seu mais novo filme, “Até o Último Homem”, que concorre em seis categorias do Oscar 2017, incluindo Melhor Diretor. Esse longa marca o retorno dele aos holofotes da indústria, já que, por causa de uma série de problemas judiciais e midiáticos nos Estados Unidos, foi deixado de lado. Mas isso eu explico mais tarde, vamos partir do princípio.
A história de Mel Columcille Gerard Gibson começou em Nova York, na cidade de Peekskill, onde nasceu em janeiro de 1956. Mel é o sexto de sete irmãos, mas apenas o segundo filho do casal Hutton e Anne Reilly Gibson. Seu curioso nome vem do santo irlandês do século XV, Saint Mel, que também foi fundador da diocese de sua mãe. Seu segundo nome, Columcille, além de ter origem semelhante, é o nome da paróquia que sua mãe nasceu e foi educada, em County Longford.
Aos 12 anos, Mel viu sua vida mudar radicalmente quando foi com sua família para a Austrália, depois de seu pai ganhar U$ 145 mil em ação judicial contra New York Central Railroad. Essa mudança para a Oceania se deu por razões econômicas e por Hutton acreditar que o exército australiano rejeitaria seu filho mais velho, deixando-o longe da Guerra do Vietnã.
Mel estudou na National Institute of Dramatic Art (NIDA), em Sydney, onde se seguia a tradição teatral britânica. Foi lá que, ainda como estudantes, Mel e a atriz Judy Davis atuaram juntos em “Romeu e Julieta”.
Depois de se graduar em 1977, ele estreou nos cinemas em “Mad Max” (1979) e continuou no teatro, fazendo parte da State Theatre Company of South Australia, em Adelaide – cidade onde conheceu a enfermeira Robyn Moore, com quem se casaria e teria sete filhos. Porém, desde que ingressou na indústria cinematográfica, Mel foi muito elogiado pelos críticos, sendo comparado com astros clássicos. Em 1982, por exemplo, depois do ator ter feito “Mad Max 2 – A Caçada Continua” (1981) e “Gallipolli” (1981), o crítico Vincent Canby escreveu que “sr. Gibson lembra o jovem Steve McQueen… Eu não consigo definir a ‘qualidade de estrela’, mas de qualquer maneira, sr. Gibson a tem”. Há também quem tenha escrito que ele é “uma mistura de Clark Gable e Humphrey Bogart”.
Iniciando a carreira em ‘Mad Max’, Mel Gibson fez presença em vários filmes do gênero[/caption]
Devido a sua aparência física, sua presença em filmes de ação se tornou comum, partindo da trilogia “Mad Max” e passando para “O Ano em que Vivemos em Perigo” (1982), “Conspiração Tequila” (1988) e a franquia “Máquina Mortífera” (1987, 1989, 1992 e 1998). Por este mesmo motivo, também marcou presenças em comédias, romances e dramas, como “Mrs. Soffel – Um Amor Proibido” (1984), “Hamlet” (1990) e “Air America – Loucos Pelo Perigo” (1990). Mas o grande sucesso de Mel veio quando o ator decidiu expandir suas habilidades para direção e produção e, em 1993, lançou “O Homem Sem Face”, recebendo muitos elogios da crítica especializada.
Mesmo entrando para o universo da direção, Mel nunca deixou de ser ator: em 1994, estreou na comédia “Maverick” e, no ano seguinte, marcou seu nome de vez em Hollywood com “Coração Valente”. Dirigindo e protagonizando o filme, deslumbrou o cinema com cenas de batalha extremamente bem coreografadas. É claro que, por este trabalho, levou para casa vários prêmios, incluindo cinco Oscars, um Globo de Ouro e três BAFTAs.
Sua terceira direção viria só em 2004 e, dentro desses nove anos, Mel estrelou nos cinemas 14 filmes diferentes, incluindo os sucessos “O Preço de um Resgate” (1996), “O Patriota” (2000), “Do Que as Mulheres Gostam” (2000), “Sinais” (2001), “Fomos Heróis” (2002), além de emprestar sua voz nas animações “Pocahontas – O Encontro de Dois Mundos” (1995), “Os Simpsons” (1999) e “A Fuga das Galinhas” (2000).
Mel Gibson dirigindo James Caviezel em ‘A Paixão de Cristo’[/caption]
Em 2004, Mel Gibson voltaria a ser muito falado em Hollywood, positiva e negativamente, com o lançamento de “A Paixão de Cristo”, longa em que decidiu tratar sobre as últimas 12 horas de Cristo. E, é claro que deu o que falar. Seu filme foi censurado na Malásia e não foi distribuído em Israel, mas mesmo assim conseguiu arrecadar mais de U$ 611 milhões mundialmente e é, até hoje, o filme restrito com maior bilheteria nos Estados Unidos. Marcado pela violência, “A Paixão de Cristo” divide opiniões entre críticos e público, que não ficou muito satisfeito com os detalhes gráficos de tortura. O longa foi classificado como o mais controverso de todos os tempos e foi indicado a três Oscars, mas não levou nenhum. Porém, Mel ganhou o Satellite Awards na categoria de Melhor Diretor, o filme arrecadou prêmios do Sindacato Nazionale Giornalisti Cinematografici Italiani 2005 (Itália) nas categorias de Melhor Fotografia e Melhor Cenografia e também venceu o prêmio do Premios del Círculo de Escritores Cinematográficos (Espanha) na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
Após “A Paixão de Cristo”, Mel atuou e dirigiu alguns episódios de “Complete Savages” (2004 – 2005) e deu uma pequena parada. Voltou apenas em 2006, quando dirigiu o filme “Apocalypto”, muito bem falado tanto por críticos quanto pelo público. Mas justamente nesse ano que a vida de Mel começou a mudar.
Tudo começou em julho de 2006, quando Mel e Robyn começaram a sentir os primeiros sinais do fim do relacionamento de 31 anos. Tempos depois, Mel Gibson foi preso por dirigir embriagado e ofender os policiais judeus que o prenderam, dizendo que a raça deles era “responsável por todas as guerras do mundo”. O ator pediu desculpas a comunidade judaica, admitindo que tinha problemas de alcoolismo e anunciou que iniciaria tratamento para tratar do vício. Em um comunicado enviado ao TV Access Hollywood, admitiu: “agi como uma pessoa completamente fora de controle quando fui detido e disse coisas infames, que não são verdadeiras”. Em abril de 2009, Mel e Robyn finalmente anunciaram o divórcio. Um mês depois, em maio de 2009, o ator anunciou que sua nova namorada, a russa Oksana Grigorieva, estava grávida. E em outubro, nasceu Lucia Gibson, tornando-o pai pela oitava vez.
Com o tempo, Mel Gibson foi chamado de racista, sexista, antissemita e foi acusado de violência doméstica por Oksana. Nesse período, Mel teve uma longa disputa judicial com a russa pela guarda da filha, em que ela também o acusou de deixar mensagens ofensivas em sua secretária eletrônica. As confusões na vida pessoal contaminaram também o lado profissional do ator. Condenado a cumprir liberdade condicional de três anos por dirigir sob efeito de álcool, Gibson teve sua participação no filme “Se Beber Não Case 2” cancelada em 2010.
Desde então, Mel Gibson não se deu bem nos cinemas. Retornou às telonas em 2010 e foi só fracasso: “O Fim da Escuridão” (2010), “Um Novo Despertar” (2011), “Plano de Fuga” (2012) e participações como vilão em “Machete Mata” (2013) e “Os Mercenários 3” (2014). Depois deste último filme, voltou aos cinemas com “Herança de Sangue”, em 2016.
Mesmo sem muitos contatos e poucos amigos na indústria, Mel caminhou para mudar sua imagem em Hollywood com novos projetos de ator e diretor. “Senti muita falta de filmar. É uma das coisas mais divertidas que consigo fazer em pé (…) Como me sinto aos 60 anos? Melhor que aos 70”, disse o ator durante entrevista no Festival de Cannes, para promover o longa “Herança de Sangue”.
Em entrevista para a IstoÉ, em 2016, o ator revelou que sente um pouco de falta da sua fase gloriosa nos filmes de ação. “Sou um cara nostálgico por natureza (…) Quando piloto uma moto, recordo o que já fui capaz de fazer”, disse. O ator também comentou sobre os novos nomes dos filmes de ação e disse que atualmente é mais difícil para um ator chamar bilheteria só com seu nome. Comentou ainda que Hollywood se tornou um negócio diferente: “havia mais diversidade nos roteiros e nas performances. A chance de uma experiência significativa no set era maior. Hoje só o cinema independente oferece isso. Mas é feito duas vezes mais rápido e com metade do dinheiro”, finalizou.
Mel Gibson durante as gravações de ‘Até O Ultimo Homem’, trabalho que lhe rendeu indicação ao Oscar de Melhor Direção