“Tinha Que Ser Ele?” tem seus momentos, mas no geral decepciona

Você sabia que ‘Destroyer’, quarto álbum da banda KISS, completa 41 anos de seu lançamento essa semana? O álbum alcançou o Top 20 nos EUA, ganhou disco de platina e conta com uma das músicas mais icônicas da banda, o energético hit ‘Detroit Rock City’, que já foi explorado amplamente no cinema. Por que eu estou contando isso? Porque vem aí a comédia ‘Tinha Que Ser Ele?’, um filme que faz uma homenagem bem bacana aos dois integrantes principais da banda, o vocalista Paul Stanley e o baixista Gene Simmons.

‘Tinha Que Ser Ele?’ é escrito e dirigido por John Hamburg. Ele tem muita experiência nas chamadas ‘comédias de situação’, aquele tipo de filme que brinca com situações do cotidiano, elevando as trapalhadas ao extremo. Meu filme favorito dirigido por ele é o hilário ‘Eu Te Amo, Cara’, com Paul Rudd e Jason Segel. Mas, é claro que não dá para esquecer seu brilhante roteiro para o clássico ‘Entrando Numa Fria’, com Ben Stiller e Robert de Niro.

Aproveitando uma história criada por Jonah Hill, Hamburg retorna ao famigerado universo do confronto ‘genro x sogro’ contando a história de Ned Fleming (Bryan Cranston), um pai antiquado e super protetor que descobre que sua filha Stephanie (Zoey Deutch) – vivendo na faculdade – tem um namorado (James Franco) que nunca havia mencionado. Aproveitando as festas de final de ano, a família se reúne para fazer uma visitinha e aproveitar para conhecer o futuro genro. Não demora muito para Ned perceber que o cara não é o modelo exato de parceiro que ele sonhou para sua filha.

O filme aproveita a oportunidade também para fazer leves sátiras ao estilo de vida dos cada vez mais jovens milionários, que ganham a vida através das suas habilidades com tecnologia, criando novos aplicativos, jogos de videogame e, por que não, youtubers e toda essa nova geração de empreendedores que vem fazendo muito sucesso com suas inovações e grandes ideias. Uma frase dita por Laird Mayhew (Franco) a seu futuro sogro, dá a entender o ponto central que o filme quer tocar: ‘Você fica nervoso com os ventos da mudança? ’.

Entretanto, o longa não tem a pretensão em se aprofundar nessa discussão e apresentar respostas plausíveis ao espectador. Na verdade, grande parte do filme é apoiado em um humor de piadas simples, e muitas vezes baseado em situações constrangedoras, como sexo ou palavrões. Nesse sentido, ‘Tinha Que Ser Ele?’ é bem inferior aos outros dois filmes de Hamburg anteriormente citados, que conseguem aliar esse tipo de situação com muito mais sensibilidade e inteligência.

Falando mais sobre o roteiro, Ned tem 55 anos, é dono de uma empresa gráfica (por ser antiquado) que está perdendo muitos clientes para serviços online e outros concorrentes modernos. Ele tem um grande coração e sabe que seus funcionários dependem de seus empregos.

Porém, a ‘ironia do destino’ faz com que o amor da sua filha seja um cara com ideologias totalmente opostas às suas, pois Laird – apesar de não ser tão jovem – é muito mais despreocupado, impulsivo, inconveniente e espontâneo. Hamburg é um roteirista experiente e sabe que esses estereótipos (visões diferentes de mundo que precisam aprender uma com a outra) são bem aceitos dentro do gênero da comédia.

Entretanto, alguns conceitos parecem ótimos no papel, mas acabam não funcionando completamente na tela, e infelizmente, esse é o caso do filme. Mesmo buscando alternativas para mascarar a familiaridade da trama, como o uso bem interessante do conceito de smart home, ou seja, casas com sistema de tecnologia bastante sofisticado, entre uma ou outra risada, fica sempre aquela sensação de saber o que vai acontecer em seguida. E, adivinhem, é exatamente o que acontece…

Alguns dos bons momentos que o conceito smart home proporciona são o computador que administra os comandos da casa (que conta com a voz de Kaley Cuoco, a Penny de ‘The Big Bang Theory’) ou a privada inteligente sem papel, que garante uma das cenas mais engraçadas, contando com a atuação hilária do gerente da casa Gustav (Keegan-Michael Key). Pena que o filme desperdice o tema do boliche, apresentado de forma tão interessante.

Aliás, falando em elenco, James Franco está super à vontade. É bem verdade que esse tipo de papel despojado não é um grande desafio para ele, mas o fato de John Hamburg ter sido seu professor na Universidade de Nova York reforça que essa boa entrega no papel não foi por acaso, eles se conhecem há bastante tempo. Seu personagem Laird, inclusive, é um dos mais sinceros que eu lembro de ter visto em muito tempo, e mesmo que cause confusão, isso acaba sendo uma característica bastante admirável, que gera empatia no espectador.

Bryan Cranston, que ficou marcado como Walter White em ‘Breaking Bad’, faz basicamente o que De Niro fez em ‘Entrando Numa Fria’, entretanto, seu personagem aqui é bem menos interessante, o que acaba prejudicando um maior destaque por parte do ator. Mas ele não compromete. A estrela em ascensão Zoey Deutch (de ‘Jovens, Loucos e Mais Rebeldes’) ainda não conseguiu me convencer. Tenho acompanhado seus últimos trabalhos, mas infelizmente sinto que lhe falta personalidade. Se a substituíssem por alguma outra atriz, receio que não faria a menor diferença.

O restante do elenco cumpre bem suas funções, como Megan Mullally (a mãe) e o jovem Griffin Gluck (o irmão mais novo), mas também passam longe de merecer elogios. Há várias participações de youtubers e até o DJ Steve Aoki discoteca numa festa. Em entrevista, foi divulgado que a direção deixou o elenco improvisar o quanto quisesse nas gravações. Isso pode ter rendido algum momento espontâneo engraçado, mas em outros, como a cena de Bryan e Megan na cama, acaba ficando aquela situação constrangedora (no mau sentido). Algo que te faz pensar: ‘hum, está querendo me fazer rir, não é?’. Isso não é muito legal.

Para fãs de referências, há muitas sobre ‘Breaking Bad’, por exemplo. O sobrenome de Laird, ‘Mayhew’ é o mesmo de um dos traficantes da série. Questionado sobre como conhece maconha em um momento do filme, Bryan solta um irônico ‘eu já experimentei’ para a câmera. E o próprio jeito educado e misterioso de Gustav lembra o estilo de Gus, dono da rede ‘Los Pollos Hermanos’ na série. Pena que apenas isso não seja o suficiente para fazer o espectador cair na gargalhada.

Concluindo, ‘Tinha Que Ser Ele?’ se esforça, mas não consegue evitar que a familiaridade de sua trama atrapalhe um pouco a experiência do espectador. Por mais que haja momentos realmente engraçados, algumas piadas não funcionam ou vão perdendo a força com a repetição. Além de que o filme se passa na época de Natal, mas desperdiça totalmente o clima único que este feriado proporciona (só há uma cena que envolve uma árvore de Natal, e é isso).

Não há nada que se destaque muito tecnicamente ou em termos de direção. Sequer na trilha, que poderia ter caprichado muito mais na homenagem ao KISS. Mesmo com sua leve sátira ao mundo gourmet das bebidas e comidas ou a zoeira com o estagiário saído do MIT, que é um empregado faz-tudo na casa (enquanto Laird nem precisou estudar), dificilmente o filme ficará marcado como uma das grandes comédias dos últimos anos. Entretanto, pode ter pela frente um relativo sucesso no mercado de home vídeo, onde parece ser seu lugar mais adequado.

E você, já assistiu ou está ansioso para ver? Concorda ou discorda da análise? Deixe seu comentário ou crítica (educadamente) e até a próxima!




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