“A Vida em Si” se enrola em sua própria bagunça e esquece de contar uma história consistente

[et_pb_section bb_built=”1″][et_pb_row][et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text _builder_version=”3.12.2″]

Para quem já assistiu alguns minutos de This Is Us (2016 -), já sabe como Dan Fogelman controla sua narrativa. Diferentes histórias, com um tema dramático, envolvendo amor e o que mais temos de humano, além do leve toque de humor. Sendo diretor e roteirista, A Vida em Si não poderia ter um tratamento diferente. Contudo, para provar que o amor é a resposta fundamental para todos os nossos traumas e conflitos, Fogelman extrapola em seu tom dramático, para reforçar constantemente uma ideia previsível narrativamente.

Igual a série, a estética do longa traz uma qualidade tremenda. A direção de Fogelman, apesar de exagerada, consegue trazer, esteticamente, bons momentos, incluindo as atuações. Da mesma maneira que This Is Us traz alguns nomes conhecidos, A Vida em Si acerta no elenco, com destaques exclusivos para Antonio Banderas e Oscar Isaac.

Porém, sua escolha narrativa não se segura e não mantém um equilíbrio com seu decorrer. Dividido em quatro capítulos, Fogelman não encontrou um equilíbrio saudável para cada um e que, mesmo se tornando um só na conclusão, seu estilo de direção não conversa entre eles, resultando em diversas e diferentes histórias, mas que ao todo não entrega nenhuma.

O primeiro capítulo foca no personagem de Isaac, que apresenta uma atuação segura em seu personagem psicologicamente afetado, trazendo distintas nuances em diferentes tons. Sua narrativa ganha destaque pela participação curta, mas marcante de Samuel L. Jackson, sendo ele mesmo.

Com isso, o roteiro nos apresenta uma narrativa cinematográfica, trabalhando realmente com metalinguagem. Tanto que as próprias divisões são inspiradas puramente em Tarantino, diretor que o personagem de Isaac e Olivia Wilde tem como ídolo. Dentro da brincadeira de metalinguagem, somos apresentados também ao conceito do narrador não confiável, termo cunhado pelo crítico literário Wayne C. Booth, em 1961.

Ali, Fogelman nos apresenta a linha narrativa de sua trama, porém a mesma se torna previsível pelo uso de uma narração em sua obra. Sobre isso, Fogelman montou um roteiro  bagunçado, com termos e estilos apenas jogados, sendo poucos utilizados no decorrer da história.

O conceito dos capítulos é bem apresentado, no entanto, seu conceito perde forças ao passar para outra trama, que não conversa com esse estilo narrativo. A mesma coisa sobre o narrador. O filme nos apresenta uma narração em off, mas aos poucos, ela perde força, voltando apenas perto da conclusão, servindo, assim, como um apoiador para explicar toda a costura feita. Isso faz com que haja diferentes filmes dentro de um só.

E nesta divisão, quem mais sofreu foi Olivia Cooke, que por mais que ainda não tenha demonstrado seu potencial, consegue estabelecer uma boa personagem. Mas, sem um tempo de tela o bastante para trabalhar da maneira correta. Neste ponto, Fogelman não soube dividir da maneira que está acostumado em This Is Us.

Ainda mais quando a trama passa para a Espanha, com Banderas, Laia Costa, Àlex Monner e Sergio Peris-Mencheta. A partir do terceiro capítulo, o longa ganha um outro rumo. E, ainda que continue trazendo o amor como pauta, ganha diferentes características de direção e controle narrativo. O que faz sentido, porém, torna a costura final artificial.

No entanto, Fogelman se destaca nas terras espanholas. Principalmente ao trabalhar com Banderas, que apresenta um monólogo poderoso em uma atuação no mesmo nível. Sua exploração do ambiente e dos personagens agradam o espectador, que também se encanta com a montagem, outra forte característica do diretor na série dramática. Mas toda beleza é ofuscada pela forçação dramática da mensagem.

Não só a do amor, mas como nossas vidas possuem nossos próprios narradores não confiáveis e sobre como nossas escolhas nos levam para um caminho próprio, conhecendo pessoas específicas e vivendo experiências únicas. O roteiro até brinca com isso. Há momentos de “realidades alternativas”, de situações nas quais agimos, mas adoraríamos voltar e falar de outra forma. Isso é bem montado, dando humanidade na situação e até dando um tom mais leve na trama. Entretanto, como todo o filme, essa mesma característica some a partir de um ponto narrativo.

Toda essa bagunça estrutural de Fogelman faz A Vida em Si perder força na história. Seus personagens são interessantes e a própria trama em si convida o espectador a se interessar, porém, a direção força o drama sem dar a mínima chance para a história funcionar sozinha. Isso resulta em uma construção previsível e excessiva para trazer uma mensagem repetitiva de que o amor é o ciclo de nossas histórias.

[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]

en_US