Mesmo crítico, “Vox Lux – O Preço da Fama” não conquista com narrativa tediosa

[et_pb_section bb_built=”1″][et_pb_row][et_pb_column type=”4_4″][et_pb_text _builder_version=”3.12.2″]

É inconcebível não relacionar arte e indústria, que juntas, estabelecem um cenário ardiloso e uma relação não muito saudável de produção. Artistas, celebridades e qualquer um que escolha ingressar precisa fazer parte daquela realidade e aceitar o que ela é. Diante esse cenário, o resultado, muitas vezes, estabelece saldos negativos de construção de marca, como a Disney já desenvolveu com artistas como Demi Lovato, Miley Cyrus e Selena Gomez, desde a infância. Algo que também ocorreu com o próprio Michael Jackson.

Por sua vez, a arte pode ser provocadora de uma realidade que ela mesma vive. Pelo menos essa foi a aparente intenção de Brady Corbet com o roteiro e direção de Vox Lux – O Preço da Fama.

No cenário geral, Corbet realiza um belíssimo trabalho crítico em cima do aproveitamento industrial. O americano foi feliz em realizar o triste retrato violento dos Estados Unidos – que acabou sendo recentemente refletido também aqui no Brasil – de maneira brutal e do abuso sobre acontecimentos traumáticos.  É comum vermos explorações da fragilidade na arte, ao pegar um acontecimento dramático e grandioso e ainda conseguir criar algo em cima daquilo – realidade que o Brasil também testemunhou após a tragédia em Brumadinho.

A representação aqui, por mais específica que seja, consegue tomar um tom muito generalizado e que consegue ser encaixado em outras situações artísticas. Corbet, com o objetivo de ser provocativo em sua dura crítica, adota características remetentes a Lars Von Trier, o que combina perfeitamente com sua intenção na obra. A comparação, por sua vez, encaixa também com a escolha do roteiro dividir a trajetória de Celeste em capítulos com tons bíblicos, estratégia que Von Trier também aproveita em suas obras. A própria direção de Corbet toma rumos parecidos, com uma câmera mais dura sobre seus personagens, além de técnicas que possuem a intenção única de intrigar, seja através de uma steadcam ou planos longos feitos justamente para sair do cômodo.

A narração como artefato narrativo é outro aproveitamento da filmografia de Von Trier. Porém, mesmo com a presença significativa de Willem Dafoe como seu narrador, Vox Lux – O Preço da Fama não consegue manter sua narrativa intacta, na qual, mesmo com suas críticas provocantes, beira muito perto do tédio. O principal fator para isso está no texto maçante de Corbet. O cineasta entrega diversos questionamentos e realidades, mas sem caminhar de forma natural com aquilo, estendendo constantemente diálogos vazios e que, no fim, só expõe em palavras aquilo que já é claro visualmente. 

O que consegue segurar essas cenas é justamente o elenco, não só muito bem selecionado, como também muito bem dirigido por Corbet, que explora constantes planos longos, dando mais tempo para a as interpretações. Ao todo, o elenco não entrega atuações primorosas, apenas o necessário. Porém, cada um foi escolhido para seus personagens certos, principalmente no caso da jovem Raffey Cassidy, que, no fim, acaba entregando a mesma interpretação de O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017).

Quem realmente se destaca é Natalie Portman. Todos os elogios internacionais envolta da atriz se provaram verdadeiros, deixando ainda mais o questionamento do porquê não houve espaço em premiações. Apesar do filme não conseguir estar no mesmo nível da interpretação de Natalie, a americana encanta com seu ar jovial diante uma rebeldia moderna o suficiente para encantar o espectador. Ela se deleita das características mais padronizadas de artistas pop, porém que fazem parte da realidade proposta por Corbet. O objetivo crítico do cineasta é impresso apenas na performance da atriz, que, infelizmente, ganha menos tempo de tela do que merecia. Inclusive, as discussões ganham mais relevância com Natalie em tela, apesar de seus momentos trazerem constantes exposições através do roteiro.

No entanto, todo esse encanto já está enfraquecido pela narrativa desnecessariamente arrastada que Corbet explorou com Raffey. No ponto de entrada de Natalie em cena, o espectador já não tem mais o encanto. Por sua vez, esse mesmo recurso pode se apresentar como uma visão crítica do próprio Corbet, dando a entender que, de tanto sermos forçados por uma artista, ela desgasta com o tempo. Por não ficar muito claro e nem conversar com a narrativa do filme, mantém-se como uma mera teoria.

Esses pontos não só fazem Vox Lux – O Preço da Fama uma decepção, como em certos pontos, um desperdício. Principalmente no sentido de trazer uma visão intrigante sobre algo que conhecemos e que consumimos, mas que, no fim, não nos importamos. Todo o exagero das extensões trabalhadas por Corbet fazem o belíssimo trabalho de Natalie ser ofuscado dentro de uma narrativa cansativa e nem tão reflexiva quanto deveria. A direção até consegue intrigar em seus momentos fortes, porém nada que realmente deixe a marca do cineasta reluzente.

[/et_pb_text][/et_pb_column][/et_pb_row][/et_pb_section]

en_US