Entrevista com Andy e Barbara Muschietti, diretor e produtora de “IT: Capítulo Dois”

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“A Coisa”, romance de terror de Stephen King lançado em 1986 conta a história de sete crianças, moradoras da fictícia Derry, que, durante as férias de verão, se deparam com uma criatura milenar que reaparece a cada 27 anos para devorar as crianças da cidade. O grupo de crianças que se auto intitula “O Clube dos Perdedores” resolve então enfrentar a criatura que toma a forma de um assustador palhaço chamado Pennywise. O livro de mais de mil páginas já havia sido adaptado para uma série de TV chamada “IT – Uma Obra Prima do Medo” em 1990, que depois foi convertida em um telefilme, onde Tim Curry interpretava Pennywise.

27 anos depois “IT: A Coisa”, trazia mais uma vez a história do terrível palhaço Pennywise, o filme de pouco mais de 2 horas de duração, foca nos eventos que ocorrem enquanto os membros do Clube dos Perdedores são crianças, e logo após seu lançamento bateu recordes de bilheteria e se tornou o filme de terror mais visto de todos os tempos.

O segundo filme será lançado em 2019 e para repetir o sucesso traz Pennywise ainda mais assustador e desta vez conta a história 27 anos depois. Para honrar o pacto que fizeram de destruir o palhaço caso ele voltasse, O Clube dos Perdedores se reúne mais uma vez em Derry para enfrentá-lo após crianças começarem a desaparecer novamente na cidade.

“IT: Capítulo Dois” chega aos cinemas em setembro e tem novamente Andy Muschietti na direção e sua irmã Barbara Muschietti na produção. Eles estiveram em São Paulo para promover o filme e a convite da Warner Bros, o Super Cinema pode participar de uma entrevista onde os irmãos contaram quais foram os desafios do processo de adaptação do romance de Stephen King e da mudança do elenco para a fase adulta.

Confira a seguir a entrevista com Andy e Barbara Muschietti, diretor e produtora de IT: Capítulo Dois:

Vocês que estão familiarizados com filmes de terror, por que vocês acham que esse é um gênero de tanto sucesso no Brasil?

Andy: Sim, nós estamos familiarizados com filmes de terror, mas eu não assisto todo filme que é lançado, eu só vejo os que parecem bons. É um gênero muito lucrativo, então há muita exploração, tem muitos cineastas que fazem filmes de terror só por ser um gênero lucrativo. Eu gosto de pensar que eu tenho um bom faro para perceber qual filme irá se mostrar um genuíno filme de terror feito por um cineasta que ama a história e os personagens e aqueles filmes que são feitos apenas para ganhar dinheiro

Barbara: Eu acredito que é um gênero de sucesso no Brasil do mesmo jeito que é bem-sucedido na América Latina. É um gênero de emoções e nós somos pessoas emotivas, então nós somos atraídos para esse tipo de produção. Nós fazemos os filmes que gostaríamos de assistir, e nós somos latinos, então nesse sentido nós somos muito sortudos porque nós temos uma grande família latina indo ver os filmes que nos amamos assistir e fazer.

Qual foi o maior desafio na adaptação do livro para o segundo filme?

Andy: Bem, é enorme, tem algumas bem maiores do que no primeiro. Então foi desafiador, mas não foi muito, muito difícil, nós apenas tivemos que acompanhar as direções mais importante. O ritmo emocional na história se condensa em um filme que dura menos de quatro horas. Na verdade, meu primeiro corte foi de quatro horas, então é um roteiro bem longo.

O maior desafio na verdade foi porque, a história se passa em mais dias do que no livro. Então nós, a fim de trazer algo a mais tivemos que basicamente entrelaçar todos os eventos e torná-los consequentes, fazer uma cadeia de consequências que levam a outras consequências. É desafiador, mas é divertido. Quando você vê o filme, não há nenhuma gordura sobrando ali, uma coisa leva a outra e outra e a outra, inclusive os flashbacks são grande parte do roteiro porque para que o filme avance eles têm que relembrar e recuperar aquilo.

Barbara: O corte editorial foi de quatro horas, seu primeiro corte foi de 3 horas e 23 minutos, ainda muito generoso.

Parte do desafio foi que nós não tivemos muito tempo, a data de lançamento do Capítulo Dois nós foi dada no dia em que o Capítulo Um foi lançado, então foram apenas dois anos, o que é muito pouco para fazer um filme deste, no sentido prático.

Como você lidou com a história que já existia da série de TV, você a usou como referência em alguma parte ou utilizou somente o livro?

Andy: Eu amava a série, mas não foi uma referência para mim, essa é a minha visão emocional do livro que eu li e teve um impacto em mim. Eu li pela primeira vez quando eu tinha 14 anos e então, reli 30 anos depois com 40 anos de idade. É engraçado como faz um paralelo entre a minha idade e a idade dos personagens, o intervalo entre eles é aproximadamente 30 anos, é o mesmo período. A série eu vi quando era mais velho com 16 ou 17 anos, e na Argentina ela já saiu em VHS. É claro que todos foram correndo alugar para assistir, mas não teve tanto impacto em mim quanto nas gerações mais novas, que se assustaram tanto com filme a ponto de não conseguir vê-lo inteiro. Este não foi o meu caso, eu tive uma experiência muito mais impactante com o livro do que com a série. E os Capítulo 1 e 2 não são refilmagens, são adaptações diretas do livro.

Qual a maior dificuldade de dirigir um filme com uma essência clássica de narrativas dos anos 80/90 e como ele se encaixo no cenário atual, no qual o terror está passando por uma nova fase?

Andy: Eu não usei a série dos anos 90 como referência. Para mim foi uma adaptação de algo que li quando mais novo e de alguma forma traduzi toda aquela experiência emocional em um filme. O desafio foi esse, transferir para a tela algo que eu tinha sentido.

Eu não acho que nosso filme tenha algum laço com o cenário atual, ele não se mistura com nenhuma tendência dos filmes de terror. Na verdade, ele vai muito mais para a combinação de humor com horror e drama que se combinam em uma única categoria, que é algo que eu reconheço mais nos anos 80. Eu cresci nos anos 80 e fui muito impressionado por filmes como “Evil Dead”, “A Hora do Espanto” e “Um Lobisomem Americano em Londres”, que são filmes de terror, mas que também tem muito humor, então para mim esse foi um processo natural.

Comediantes tem na risada um termômetro para o que está dando certo. No terror como você sente essa mesma energia, como dizer que algo está funcionando com a plateia?

Andy: O screening, quando você está vendo o filme pela primeira vez com uma audiência é o melhor termômetro. Ali nós conseguimos ver se eles estão rindo quando tem que rir o que mostra que eles realmente estão prestando atenção e não estão entediados. E quando se trata de terror, ao ver a plateia do fundo você percebe as cabeças mexendo como quando nós tomamos um susto. Quando se faz parte da plateia você nem sempre presta atenção a isso, porque você está entretido, mas como cineasta que já viu o filme 200 vezes, você não se assusta mais e pode prestar atenção a todas as cabeças chacoalhando.

Barbara: É incrível quando estamos vendo o filme com uma plateia e de repente eles tem uma reação de medo com algo que não planejamos ser assustador. Mas como as pessoas estão envolvidas com o filme, com adrenalina em seus corpos, elas se assustam e reagem a coisas como alguém movendo uma cadeira.

Andy: No Capítulo Um tivemos um desses momentos, quando eles estão todos nadando e uma das crianças diz “Oh, tem algo na água, é um tartaruga, é uma tartaruga!” e eles vão para debaixo d’água e a câmera vai para debaixo d’água, as pessoas estavam tensas, e nós podíamos sentir naqueles três segundos em que a câmera desce sob a água, e então corta para a cena em que Beverly está tomando sol. Isso foi completamente não intencional, mas podíamos ouvir a conversa das pessoas achando que algo iria acontecer.

Sobre o elenco, Jessica Chastain sempre foi sua primeira escolha para interpretar a fase adulta de Beverly? E quais outros nomes vocês já tinham em mente para as versões adultas?

Barbara: Nos amamos Jessica desde o filme “Mama”. E é claro que quando lembramos de “seu cabelo é fogo de inverno” o nome dela logo veio à mente, e acredito que subconscientemente quando escalamos Sophia Lillis para o primeiro filme já estávamos pensando que ela era uma mini Jessica. Então ela sempre foi Beverly para nós, era só uma questão de fazer as agendas funcionarem, porque ela é sempre muito ocupada.

Andy: Sim, Jessica foi a primeira a fazer parte do filme. Bill Hader e James Ransone foram outros nomes que eu já tinha em mente. Eu já conhecia James socialmente e percebi que ele tinha algo muito similar com Jack Dylan Grazer, poucas pessoas falam e pensam na velocidade que eles, além disso eles também são parecidos fisicamente, então eu estava curioso para vê-lo como Eddie. E Hader é a escolha obvia para Richie, não existe pessoa mais engraçada além disso ele também é um ótimo ator dramático. McAvoy é um dos meus atores favoritos de todos os tempos e ele também tem algumas similaridades com Jaeden Martell, que interpreta Bill quando criança.

Nos tivemos muita sorte, porque quando se está fazendo um filme existem muitas dificuldades, e uma das maiores é o elenco. Às vezes você não consegue escalar os atores que você deseja, porque você quer aquele ator, mas ele não quer seu filme, e um outro ator quer o filme, mas você não quer aquele ator. Existe sempre esse equilíbrio em Los Angeles, esta dança horrível, mas não foi esse o caso, todos eles queriam participar do filme por terem gostado tanto do primeiro, e os outros atores foram escolhidos através de audições.

O filme tem bastante sequencias voltadas para o terror, mas também se aprofunda nas emoções e jornada dos personagens. Como foi esse processo de trabalhar estes aspectos com os atores?

Andy: Para mim os valores emocionais da história são muito importantes. Houve muita conversa individual com os atores e depois também nos ensaios em grupo, e então o dia a dia da gravação. Foi um processo de três passos, e eles todos adicionam uma nova camada a atuação. É essencial que eu faça tudo ao meu alcance para ajudá-los a chegar lá, mas no final são eles que constroem seus personagens, que efetivamente atuam.

Barbara: Eles foram todos muito generosos entre si, o que foi muito importante para que eles criassem um laço estreito e eles estavam sempre elevando um ao outro.

Andy: O que foi muito diferente quando comparado ao primeiro filme, com as crianças. As crianças instantaneamente criaram laços de maneira muita espontânea. E essa é uma semelhança com a própria história, dessas crianças virando adultos e tudo que se perde nesse processo, a espontaneidade, a habilidade de imaginar coisas e o frescor, todas essas coisas ficam no limbo quando se é adulto.

Como foi convidar Stephen King para participar do filme? Ele fez algum pedido sobre o roteiro ou alguma cena específica?

Andy: Eu realmente queria que ele estivesse pelo menos ciente do que nós estávamos fazendo mais do que quando fizemos o Capítulo Um. No Capítulo Um tenho que confessar que estava um pouco nervoso em conhecê-lo ou até compartilhar as coisas com ele, porque eu estava seguindo meu caminho a partir da minha visão do livro, então entrar em contato com ele poderia quebrar isso de alguma maneira. Eventualmente ele assistiu ao primeiro filme e gostou muito, e então nós começamos a nos falar e temos um ótimo relacionamento até hoje, então quando começamos a trabalhar no Capítulo Dois eu realmente queria que ele ficasse sabendo sobre o que estávamos fazendo e, claro, ter o feedback dele. Ele é um escritor que sabe abraçar a ideia da adaptação, adaptações são diferentes, elas não devem nada ao trabalho original, é claro que ele gosta quando os filmes são bons e as vezes eles são ruins, mas mesmo assim ele não quer interferir com o que quer que seja que o cineasta esteja fazendo.

Barbara: Ele nos explicou que esta foi uma decisão consciente, “eu sou um escritor, o que eu gosto de fazer é escrever e se eu ficar checando o que outras pessoas estão fazendo isso vai me afastar da escrita. então eu tive que construir um muro e decidir que eu continuarei escrevendo e as pessoas podem continuar adaptando meu trabalho”.

Andy: Mas, de qualquer maneira, eu perguntei se ele tinha ideias que gostaria de ver no filme. E ele tinha essa lista fofa de ideias, ele queria que a estátua de Paul Bunyan estivesse no filme e uma ou outra cena específica. Algumas delas já estavam no filme, mas quando você está montando uma história você tem que decidir quanto dinheiro deseja gastar com cada coisa e o peso dessas cenas no drama e na narrativa. No livro, vemos a destruição de Derry, e é tão espetacular e tão grande que precisaríamos gastar metade do orçamento de efeitos visuais para aquela cena entrar no filme, além de ela não ter tanto impacto no objetivo dos personagens, então tentamos trazer de uma maneira diferente.

“IT: Capítulo Dois” estreia 5 de setembro de 2019 nos cinemas brasileiros e além de Jessica Chastain, Bill Hader e James McAvoy o filme traz novamente Bill Skarsgård como o assustador palhaço Pennywise.

 
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