Se você perguntar para quase qualquer brasileiro se ele – ou ela – já ouviu falar da Turma da Mônica, é bem provável que a resposta seja ‘sim’. É evidente que a turminha do bairro do Limoeiro já se consagrou como um forte patrimônio cultural de nosso país, conquistando não só o espaço nas bancas de jornal, como também na televisão, nas prateleiras dos supermercados, em roupas e acessórios, no cinema e, o mais importante, no coração de uma imensidade de brasileiros.
Nos últimos anos, a Maurício de Sousa Produções trouxe o projeto Graphic MSP, que convidava artistas diversos a escrever histórias reimaginando personagens clássicos da turminha. Dentre histórias do Penadinho, Chico Bento, Bidu e afins, a trilogia que mais se destacou foi produzida pelos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, que trazia um novo olhar sobre os quatro principais personagens da turminha, Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali.
Anos depois, na CCXP, foi anunciado que a primeira dessas histórias, “Laços”, ia ganhar um live action, e a reação não poderia ser diferente: os fãs foram à loucura. Imaginar que aqueles personagens tão especiais, que marcaram diversas gerações, iriam ganhar uma adaptação com atores reais parecia loucura, mas uma loucura maravilhosa e empolgante. Daniel Rezende dirigiu ótimos atores mirins, transformando-os nos personagens que fizeram parte de tantas infâncias brasileiras, dosando a quantidade certa de nostalgia, maturidade e emoção para fazer um longa-metragem no mínimo espetacular.
Ainda que sejam raras as sequências que superam a obra anterior, alguns anos depois do lançamento de “Laços” é exatamente o que Rezende nos entrega: um filme surpreendentemente melhor, ainda mais divertido e com muito mais emoção.
Em Lições, um acidente acaba fazendo com que os pais de Mônica a mudem de escola, afastando a dona da rua de seus melhores amigos. Ao mesmo tempo, os pais de Cebolinha o colocam para passar com uma fonoaudióloga, e os pais de Cascão o colocam na natação. Para completar, o filme se aprofunda mais na comilança de Magali, retratando tal problema como uma consequência da ansiedade.
Não é novidade pra ninguém que os quatro personagens estão juntos há anos, protagonizando o que conhecemos como “Turma da Mônica”. Dessa forma, ao afastar a personagem principal do resto da turma, cada um dos demais é obrigado a repensar seu papel no grupo, tentando preencher um vazio que só poderia ser preenchido pela presença da amiga. Não só isso, o espectador também é levado a se sentir como se uma parte de sua infância estivesse sido arrancada de si, pois não são apenas amigos sendo separados, mas sim 60 anos de histórias que se quebram e são remontadas em cima de dois sentimentos: amor e saudade.
Este pontapé inicial – a separação dos amigos de longa data – abre espaço para a introdução de personagens clássicos do vasto universo criado por Maurício de Souza. Marina, Humberto e Milena, por exemplo, são introduzidos nas novas rotinas de Mônica, Cebolinha e Magali, respectivamente. Para aqueles que cresceram lendo as histórias da turminha, é certamente revigorante ver tais personagens tão bem representados. Vale citar também a presença de Isabelle Drummond, que brilha no papel de Tina, em uma adição que complementou muito bem a adaptação do quadrinho para as telonas.
Dentre os novos personagens, entretanto, destaca-se o Do Contra. Para os bons entendedores, o personagem é horrível, sem graça e uma péssima adição ao filme (ba dum ts). Em outras palavras, Do Contra é, de longe, o personagem secundário mais divertido de todo o longa-metragem, encantando facilmente o público com sequências muito bem escritas e muito bom humor. Assim, ainda que tenha sido o primeiro papel do ator mirim Vinícius Higo, o personagem rouba a cena com extrema naturalidade.
O elenco principal também não deixa nada a desejar. Com Giulia Benite como Mônica, Laura Rauseo como Magali e Kevin Vechiatto como Cebolinha, o público novamente consegue enxergar os clássicos personagens sendo representados em tela com exímia perfeição. Já com relação ao Cascão, fica claro que é o personagem mais distante com relação aos quadrinhos, mas o carisma de Gabriel Moreira torna o personagem ainda mais fofo e divertido do que o original, fazendo com que o público queira ver mais e mais deste talentoso ator mirim.
Ainda assim, o que mais encanta em Lições não são seus personagens e atores, mas toda a emoção que consegue transpassar para o público. Com uma mistura brilhante entre trilha sonora, direção e uma pitada bem servida de nostalgia, o novo filme da Turma da Mônica consegue facilmente emocionar aqueles que cresceram lendo as histórias de Maurício de Sousa, indiferente da idade em que se encontram.
Com tamanha emoção apresentada, se torna quase impossível não derramar uma lágrima sequer durante os momentos de tristeza, coragem e amadurecimento compartilhados entre estes personagens tão queridos pelo público. Para aqueles que acreditam que a adaptação perfeita não existe, certamente vão se surpreender com o resultado final entregue por Daniel Rezende.
Com paletas de cor sublimes, movimentos de câmera muito bem pensados para agregar à narrativa e um roteiro impecável, Turma da Mônica: Lições não é só mais um filme, é uma experiência. Acima de tudo, é um delicioso presente para aqueles que tiveram a honra de crescer com as histórias do Bairro do Limoeiro, que traz consigo também uma importante lição para seus espectadores: é possível crescer sem deixar de ser criança.