Mussum, O Filmis
Director
Silvio Guindane
Cast
Yuri Marçal, Ailton Graça, Cacau Protásio
Writer
Paulo Cursino
Company
Downtown Filmes
Runtime
116 minutos
Release date
02 de novembro de 2023
“Mussum, O Filmis” foi o grande premiado no Festival de Gramado desse ano, e foi um prêmio justificado. Dentre as cinebiografias brasileiras já lançadas esse ano, a do Mussum foi a que mais me impactou, embora eu não tenha nenhum tipo de memória afetiva ligada a ele. Tudo que conhecia sobre Mussum é que ele tinha sido um dos trapalhões, prova de que esse filme funciona tanto para os fãs quanto para os leigos. Em vez de pegar apenas um recorte específico no tempo, conhecemos a vida de Mussum desde quando ele ainda era o menino Antônio Carlos e acompanhamos todos os grandes marcos de sua vida, uma decisão acertada para nos conectar com esse homem, que também era um personagem. É também a cinebiografia menos “chapa branca” do ano até agora, Antônio Carlos era um homem com seus defeitos e os conhecemos até certa extensão.
Antônio Carlos veio de uma comunidade pobre, mas amorosa do Rio de Janeiro, desde cedo se sentia atraído pela música, pelo samba, mas sua mãe Malvina (Cacau Protásio) já o reprimia, não por não gostar de música, mas por associar o samba com “vagabundagem” e ela, com poucas oportunidades na vida, queria que seu filho pudesse fazer de tudo e acreditava que o único modo de alcançar isso era através de estudo e carteira de trabalho assinada. A relação de Antônio Carlos e Malvina é a força motriz dessa história, que começa com um momento do “presente”, para depois voltar ao passado e ao início da vida de Antônio Carlos, e que grata surpresa é ver a talentosa Cacau Protásio num papel que exige mais drama, além da veia cômica que permanece presente. As cenas entre Antônio Carlos criança e Malvina estão entre as mais sensíveis e emocionantes de todo o filme e desenvolvem nosso interesse em tudo que ainda está por vir.
Por contar a “vida inteira” de Mussum, temos 3 atores diferentes o interpretando. A fase jovem adulta fica por conta de Yuri Marçal, um comediante que também evidencia seu talento como um ator completo, segurando bem as cenas mais emocionalmente exigentes. É com ele que descobrimos a paixão de Mussum, ou Carlinhos na época, pelo samba – talvez o verdadeiro amor de sua vida, ao mesmo tempo que conhece sua primeira esposa, tem seu primeiro filho e é levado a tomar decisões cruciais para seu futuro enquanto tenta se manter fiel às suas vontades. A direção de Silvio Guindane é objetiva e parece conhecer bem a essência de Mussum, ou pelo menos nos faz acreditar que conhece, com uma frente bem-humorada, mas não calcada inteiramente na comédia, assim como a própria personalidade de Mussum.
As adversidades sempre estiveram presente na vida do sambista que virou humorista, mas é quando entramos em sua fase adulta e Ailton Graça toma as rédeas que ficamos mais próximos do Mussum que se tornou nacionalmente famoso e vemos fases ainda mais complicadas de sua vida. Não conhecemos Mussum intimamente, não é exatamente esse tipo de filme, mas conhecemos nuances de um homem que enfrentava traumas pessoais e nem sempre acertava, principalmente em sua vida familiar, ainda que tivesse o coração no “lugar certo”. A transição de sambista para ator, de desconhecido para famoso, de pai de família para “homem do povo” (e da noite também), tudo é mostrado de forma bem amarrada e com suavidade, nos levando junto a cada momento.
Além da vida de Mussum, vemos diversos grandes nomes da cultura brasileira ao seu redor, desde o Grande Otelo e Chico Anysio à Alcione, um bônus para o espectador. E até mesmo seus percalços com os trapalhões, principalmente o Renato Aragão, fazem uma aparição, ainda que não sejam o foco da narrativa. “Mussum, o Filmis” acerta ao mostrar os altos e baixos, os prós e contras da fama e as dificuldades entre fazer o que é certo e o que é desejado, enquanto entendemos mais dessa figura emblemática que foi Mussum.
Por Júlia Rezende