O Festival de Gramado tem duas mostras competitivas de longas-metragens, uma para filmes brasileiros e outra para latinos. Na ficha técnica, ‘El Mate’ é uma produção nacional, mas poderia ser um esforço conjunto de mais de um país.
“Embora a gente tenha uma conexão entre Brasil e Argentina no filme, só não temos o dinheiro”, brincou o diretor Bruno Kott (No Divã do Dr. Kurtzma) durante coletiva de imprensa no festival. “A gente partilha de muitas referências em comum e se comunica muito bem.”
O longa mostra o encontro entre o capanga argentino Armando (Fabio Marcoff, de ‘O Roubo da Taça’) e o pregador evangélico Fabio (Bruno Kott). Durante uma noite, os dois irão se envolver em uma história maluca com crime, violência e o nascimento de uma relação de improvável amizade entre os dois homens.
‘El Mate’ tem diálogos que mesclam português com espanhol, uma das marcas da anarquia inerente ao filme. “Toda manifestação de comunicação tem ruído porque é da natureza humana a interpretação”, explica Kott. “Quando temos essas línguas primas, usamos o ruído como aliado – para mim, o portunhol é o novo esperanto.”
Nesse caldeirão, as referências são múltiplas. “De acordo com a minha idade e contexto é impossível não esbarrar com Tarantino, mas se for para trazer algo americano, prefiro os irmãos Coen”, comenta o diretor. “Esse filme é uma comédia de erros e traz mais abertura para falar das frustrações internas dos personagens.”
“Trago outras referências latinas para o filme. Tem Tarantino, tem irmãos Coen, mas tem Boca do Lixo também.”
O roteiro é assinado pelos dois atores em cena, um fato que faz sentido em um processo de produção baseado na parceria e na amizade. “Além da gente se conhecer há muito tempo, passamos três anos fazendo um programa de televisão de forma autoral”, relembra Marcoff. “A gente escreveu o roteiro e foi uma soia que me surpreendeu. Cada um escreveu por sua conta e foi rápido porque tínhamos muito material e uma necessidade de fazer algo juntos.”