“À Beira Mar” definitivamente não é um filme para todos os públicos. Seu estilo aparenta ser bastante influenciado pelo cinema europeu dos anos 60, uma época onde os cineastas locais abriram mão da forma narrativa do cinema tradicional e passaram a experimentar novas formas estéticas, tornando os filmes mais artísticos e que expressavam uma visão muito mais pessoal do realizador. Um dos maiores influentes desta época foi o italiano Michelangelo Antonioni, que nos seus primeiros filmes utilizava longas pausas sem diálogo, paisagens e edifícios para informar o estado de espírito das cenas, criando desta forma um estilo próprio de narrativa. Entretanto, diferentemente do diretor italiano, Jolie ainda não demonstra possuir tal capacidade para que possa ser considerada uma diretora “artística” promissora, embora nada a impeça de melhorar com o tempo.
Como um filme envolve em seu processo muitos aspectos, dificilmente ele vai ser “8 ou 80”. “À Beira Mar” não foge à regra, é um filme que tem algumas qualidades, mas o que acaba sobressaindo são seus defeitos, que tornam o filme muito problemático. Apesar da estrutura do roteiro ser bem montada, com pontos de virada claros, alternando os bons e maus momentos do casal, seu roteiro prejudica a atuação do elenco por conta de diálogos que soam artificiais e que deveriam – dentro do que Jolie propõe – carregar grande significado para o drama emocional dos personagens, mas não é o que acontece. Estes diálogos sem sentido (o ápice da falta de noção é já próximo ao final do filme, quando Roland solta um alegórico “temos que para de ser imbecis”…) acabam entediando o espectador, já que outro “problema” é a duração do filme: duas horas e doze minutos, praticamente meia-hora além do necessário – algo que nem a mais bela das paisagens poderia compensar.
São praticamente cinco atores encarregados de todos os diálogos e ações relevantes do filme. Além do casal principal, Mélanie Laurent e Melvil Poupaud interpretam Lea e François, um casal bastante apaixonado e hospedado no quarto ao lado de Roland e Vanessa, comemorando sua lua-de-mel. Completa o elenco Niels Arestrup, que interpreta Michel, o dono do hotel. Quanto à contribuição do elenco, os papéis são muito bem executados dentro do que o roteiro permite. A atuação de Brad Pitt é muito boa, ele consegue passar autenticidade através da dificuldade se comunicar com sua esposa, preferindo fugir e afogar as mágoas “drink” após “drink” no bar do hotel, e é ajudado pela ótima contribuição do francês Arestrup, suas cenas são bem interessantes e a qualidade dos diálogos entre eles é muito melhor, tanto que nem parece que foram escritos pela mesma pessoa. Curiosamente, quem tem a contribuição menos efetiva é Jolie, a atriz que já mostrou algumas vezes que pode atuar em um nível muito bom, aqui tem uma contribuição confusa e apática demais. Com os casais separados por apenas uma parede, fica claro o paradoxo que a diretora tentou mostrar, comparando a fase inicial com a final de um casamento.
Elogios concretos mesmo surgem na parte estética do filme. A fotografia de Christian Berger – apesar do comentário contraditório – preenche a tela com um vazio de uma beleza espetacular. A beleza natural da região é extremamente agradável aos olhos, a água, o céu, o tom poético “rústico” e retrô da cidade, tudo contribui para a criação de um ambiente sóbrio e luxuoso ao mesmo tempo. Podemos criticar Angelina pelo roteiro ou sua presunção na forma como escolheu contar a história, mas temos que admitir que ela realmente saiu da sua “zona de conforto” e arriscou aqui. E todo risco tem seu valor, mas nem o “grande” segredo do casal, revelado no terceiro ato foi capaz de gerar o mínimo de emoção e empatia no espectador.
Concluindo, “À Beira Mar” pode ser chamado de um filme de arte, pois há nele elementos técnicos suficientes que sustentem esta afirmação. Como eu mencionei anteriormente, não é um filme que irá agradar a qualquer gosto cinematográfico. É um filme lento, longo, íntimo e muitas vezes repetitivo que requer paciência para ser apreciado. Infelizmente seu roteiro é sem propósito, com diálogos risíveis e situações triviais. Para os fãs do casal Jolie/Pitt é uma grande chance de acompanhá-los juntos em um projeto mais pessoal, mas o saldo crítico final é de um filme cansativo e que não chega a lugar nenhum. O interessante é que o filme percorre por um caminho “voyeurístico” de muito potencial para ser desenvolvido.
Eu adoraria ver este material nas mãos de um diretor experiente como David Lynch, por exemplo. A forma complexa como ele enxerga a vida, sua interpretação incomum da realidade, o sentido onírico que ele sabe explorar como poucos poderia ter contribuído muito mais para o filme como um todo. Jolie por sua vez, não conseguiu acrescentar camadas de significado para seu projeto, e apesar de ser um filme autoral, passou longe de criar uma obra sequer parecida com o estilo europeu de filme artístico que tentou emular, sem conseguir expressar seu propósito e o pior, concebendo um filme totalmente sem emoção.
Trailer do Filme: