A Teoria do Caos é uma das leis mais importantes da natureza, presente em quase tudo que nos cerca. Mas ao ler a palavra “caos”, logo nos remete a ideia de desordem, não é mesmo? Nem sempre. A ideia central desta teoria é que uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam praticamente imprevisíveis, tornando-se caóticos.
O mais interessante é como esta teoria se adaptou de tal forma ao nosso cotidiano. Quantas vezes pensamos que queríamos permanecer na cama e esquecer que lá fora muitas coisas acontecem e não podemos mudá-las? Com roteiros baseados na imprevisibilidade e nos comportamentos aleatórios, o tema é abordado no Cinema a fim de confundir as nossas cabeças e nos fazer refletir se toda a ação tem mesmo uma reação.
Ashton Kutcher em cena do filme ‘Efeito Borboleta’, de 2004, dirigido por Eric Bress e J. Mackye Gruber
Inicialmente, o norte-americano Edward Lorenz, um matemático e especialista em meteorologia, elaborou a Teoria do Caos, se referindo a eventos meteorológicos que, mesmo modestos, poderiam desencadear grandes fenômenos climáticos imprevisíveis, o qual denominou “efeito borboleta”, sugerindo que “um simples revoar das asas de uma borboleta em Nova York poderia gerar um verdadeiro tufão no Japão”.
O filme ‘Efeito Borboleta’ explica claramente essa teoria, baseando-se na frase acima. Usando os princípios das leis de causa e efeito, cada indivíduo opta por seus caminhos, já que a cada ação escolhida, sofrerá com alguma reação correspondente. O personagem de Ashton Kutcher, o jovem Evan Treborn, sofre “apagões”, geralmente em momentos de muito estresse, e quando acorda se vê em uma situação totalmente diferente daquela que vivera momentos antes.
É possível ver que pequenas atitudes podem desencadear consequências posteriormente astronômicas e realmente fora de qualquer previsibilidade. O estudo do Efeito Borboleta deixa explícitas as irregularidades das formas e o roteiro do filme explica de forma simples todo o processo apontado anteriormente por Lorenz.
Richard Jones tenta salvar a esposa Susan em ‘Babel’, de 2006, dirigido por Alejandro González Iñárritu
Seguindo a mesma linha do filme citado acima, o longa ‘Babel’ é, além de um exemplo da teoria, uma verdadeira aula de antropologia. No filme, dirigido por Alejandro González Iñárritu, a verdadeira consequência é o tiro de um rifle que atinge Susan Jones (Cate Blanchet) durante um passeio ao Marrocos com seu esposo Richard Jones (Brad Pitt).
Ao ser alvejada, todo o caos é instalado naquele momento. Descobre-se que a arma que estava sob o poder de dois adolescentes marroquinos foi doada ao seu pai por um japonês que vive em crise com a filha. O pai dos garotos se entristece e o causador do disparo acaba por se render e confessar todos os crimes, implorando clemência para sua família e assistência médica para seu irmão. Este passa a ser um exemplo de que você pode estar na hora e no local errado, e, assim, mudar toda a sua história de vida.
‘De Volta Para o Futuro’, estrelado por Michael J. Fox e Christopher Lloyd, é um bom exemplo da teoria
Em ‘De Volta Para o Futuro’ não é diferente. Ao entrar na máquina do tempo de Dr. Emmett Brown (Christopher Llyod), o jovem Marty McFly (Michael J. Fox) altera o passado de seus pais sem saber quais danos poderiam acarretar em seu futuro. Durante toda a semana, Marty tenta consertar o paradoxo temporal e salvar seu futuro com seus pais, porém ele só consegue que o interesse de sua mãe Lorraine por ele vá gradativamente aumentando.
Desta forma, uma série de fatores continua acontecendo para que Marty se afaste cada vez mais do conserto do futuro que fora modificado. Neste evento, a lei da causa e efeito é notória, pois o jovem, por meio de um invento, torna-se o agente causador da alteração de uma realidade que talvez não fosse conquistada. O roteiro de Robert Zemericks não possui falhas e foi um dos primeiros exemplos lançados no Cinema de que a Teoria do Caos pode influenciar as escolhas e decisões tomadas por cada um de nós.
Em ‘O Fabuloso Destino de Amélie Poulain’, de 2001, o diretor Jean-Pierre Jeunet usou a teoria como tema
Uma espécie de experimentação da teoria fez o diretor Jean-Pierre Jeunet introduz no filme ‘O Fabuloso Destino de Amélie Poulain’ o evento da morte de Lady Di. A personagem principal não era uma fã da princesa, mas a notícia pela TV fez com que ela se distraísse e derrubasse uma tampa que segurava. O objeto bate na parede e solta um dos azulejos, revelando um compartimento secreto. Ali estava o responsável pela mudança da vida da moça, transformando-a na responsável por modificar eventos na vida de todos que a cercam.
Por meio de diálogos simples e profundos, Amélie (Audrey Tautou) escolheu ser diferente e mudar sua vida, gerando a felicidade em pessoas desconhecidas e modificando seu futuro, de forma agradável. Neste caso, a Teoria do Caos foi positiva, pois influenciou a mudança de perspectiva da moça.
Cena de ‘Corra, Lola, Corra’, de 1998, dirigido por Tom Tykwer
De fato, não sabemos se essa teoria está correta, mas ela nos mostra caminhos e formas de pensar sobre o cotidiano. Em ‘Corra, Lola, Corra!’, a protagonista passa por três situações em que os desfechos são resultados de suas escolhas. No longa, Lola (Franka Potente) passa o tempo inteiro correndo em busca de encontrar a solução para salvar o namorado Manni (Moritz Bleibtreu) de uma encrenca. O detalhe é que a moça só tem 20 minutos para salvar o namorado de ser executado por mafiosos.
A cada vez o diretor Tom Tykwer conta a história com pequenas diferenças que podem alterar por completo o destino de todos os que cruzam o caminho de Lola e o namorado. Como em um jogo de videogame, o casal possui apenas três tentativas distintas. Se fracassarem, terão que começar tudo de novo e você nunca sabe quando o filme realmente vai terminar. É claro que a vida é bem mais complexa, mas o diretor soube aplicar muito bem a teoria neste contexto.
Agora, imagine que da noite para o dia, um terço de uma população simplesmente sumiu. No longa ‘Um Dia Sem Mexicanos’, 14 milhões de desaparecidos têm em comum as raízes hispânicas: são policiais, médicos, operários e babás que garantiam o bem-estar da população americana. Enquanto as autoridades procuram explicações para o caso, sendo cogitada abdução alienígena, terrorismo ou até mesmo causas sobrenaturais, os californianos começam a perceber a importância dos antes desvalorizados estrangeiros.
‘Um Dia sem Meixanos’, de 2004, mostra que nossas atitudes são determinantes para que a Teoria do Caos exista
O filme passa a nos “questionar” as nossas atitudes e afirma que a Teoria do Caos vai além de pequenas escolhas. Grosseria, destrato e descaso são exemplos de atitudes tomadas por uma decisão ou escolha do indivíduo. E por que esta escolha não pode gerar um caos? O filme tem por objetivo mostrar de forma simples e, em alguns momentos cômica, que uma má índole ou falta de caráter pode gerar consequências catastróficas no futuro.