A ficção científica foi um gênero que se popularizou muito entre os anos 70 e 80, seja por franquias de sucesso como “Star Wars” seja pelo clima de incerteza e desinformação durante os anos da corrida espacial que alimentava todo tipo de teoria conspiratória e o medo constante de uma guerra nuclear.
O mundo real inspirou diversas histórias distópicas nas telas mas, por mais efeitos especiais que elas tivessem, sempre foram ancoradas pelos sentimentos mais humanos possíveis. A Maternidade em “Alien”, a transição da infância para a puberdade em “ET”, as relações familiares em “Star Wars” e a vida na terceira idade em “Cocoon” são alguns exemplos.
O lançamento original do Amazon Prime Video, “A Guerra do Amanhã” não nega que estudou o gênero a fundo. Não só bebe na fonte de tudo que já foi produzido na cultura pop como entende o contexto do mundo atual para construir a sua história. O longa de estreia de Chris Mckay nos live-actions (ele é o responsável pela divertida animação “Lego Batman”) conta a história de Dan Forester (Chris Pratt), um ex-combatente das forças especiais que acabou sendo dispensado pelo governo e enquanto dava aula de biologia para estudantes do ensino médio tentava retornar para as forças armadas, mas era considerado inapto.
A frustração na sua vidinha comum de professor com a sua mulher e filha numa casa num subúrbio o incomodava muito. Até que durante a final da Copa do Mundo de futebol masculino de 2022 um evento mudaria tudo.
Uma tropa de viajantes no tempo do ano de 2050 chegam durante o jogo para pedir ajuda para governantes do mundo todo naquele momento para impedir que os humanos sejam exterminados por uma raça alienígena. Países se unem e decidem convocar e enviar militares e civis para lutarem no futuro e impedirem a extinção que já estava em curso. Inicialmente com pouco êxito e muitas baixas.
Dan é convocado e entre realizar seu sonho de retornar as forças armadas e ir para uma guerra sem garantias de volta para sua família. Ele tenta vencer o orgulho e pedir ajuda ao seu pai, James Forester (J.K. Simmons) com quem não tem uma boa relação, mas sem sucesso. Diante das sanções de uma possível deserção não há escolhas a não ser encarar a guerra no futuro.
O filme estrelado por Chris Pratt, que inclusive depois do sucesso de “Guardiões da Galáxia” tem sido um nome recorrente do gênero, acerta em se assumir como blockbuster e não perde tempo em ficar explicando conceitos e teorias complexas e diminuindo as sequências de ação. Não traz nenhuma novidade ao gênero, mas respeita as referências e foge de erros que deixariam o longa datado como uma exaltação exagerada aos EUA em Independence Day ou ficar refém do clichê do envolvimento amoroso dos personagens como motor da história. A motivação de Dan Forester é genuína e não atrapalha o desenrolar da história.
Os “garras brancas” as ameaças alienígenas do filme são de fato ameaçadores, mas o visual deles, uma mistura de “Cloverfield” com “O Ataque dos Vermes Malditos”, incomoda um pouco, principalmente quando pensamos que nos anos 80, com menos recursos tecnológicos, designers criaram visuais icônicos como o do Xenomorfo ou do Predador, que são inovadores até hoje.
“A Guerra do Amanhã” mostra um apocalipse sem megalomania e acerta ao mostrar que diante do caos a família é nosso mundo, na tentativa de tentar olhar para as diferenças dentro de casa é possível fazer um mundo melhor fora dela. Além disso, a principal viagem no tempo proporcionada pelo longa é perceber que o streaming já é capaz de produzir um filme de verão que em outros tempos estaria em cerca de 50% das salas de cinema do país no seu lançamento.