Fale seu nome 5 vezes na frente do espelho para invocar sua presença. Candyman é uma lenda urbana que apareceu nos cinemas pela primeira vez em 1992, num filme de terror de mesmo nome que contava a história de uma estudante que começa a investigar a lenda originária de Cabrini-Green, um conjunto habitacional de Chicago. Agora, A Lenda de Candyman traz uma espécie de reboot escrito por Jordan Peele (Corra e Nós) e dirigido por Nia DaCosta (diretora da sequência de Capitã Marvel), focando em Anthony McCoy.
Anthony (Yahya Abdul-Mateen II), o protagonista da vez, é um artista negro atualmente com bloqueio criativo, mas encontra a solução e inspiração para suas novas obras quando descobre a lenda do Candyman no que sobrou da comunidade de Cabrini-Green. Enquanto no filme de 1992 Candyman era um artista negro, torturado (cortaram uma de suas mãos que foi substituída por um gancho, o encheram de mel e entregaram às abelhas) assassinado brutalmente por se apaixonar por uma mulher negra, agora Candyman é mais como uma entidade que toma uma identidade diferente através do tempo. Anthony ouve sobre a lenda por William Burke (Colman Domingo), um comerciante local que lhe conta a história de Sherman Fields, um homem que, na década de 70, em Cabrini-Green, distribuía doces para as crianças, até que apareceram doces com lâminas dentro. A criança que achou a lâmina era branca, Sherman Fields era um homem negro, ele foi espancado e morto pela polícia sem qualquer chance de se defender e, conforme a lenda, tornou-se o Candyman.
Durante seu passeio pela decadente Cabrini-Green, Anthony fica fascinado pela história por se sentir conectado a ela de alguma forma e tudo começa a mudar quando ele é picado por uma abelha que deixa uma ferida insistente em sua mão. A partir daí, as histórias de Anthony e de Candyman se fundem, criando situações aterrorizantes.
Uma das questões mais presentes na trama é a gentrificação, ou seja, quando um bairro passa por um processo de urbanização e se transforma numa área nobre, prejudicando a população de baixa renda que é obrigada a se mudar, população essa que, em sua grande maioria, é negra. Tanto o original quanto o novo filme são, em sua essência, voltados para a comunidade negra, trazendo diversas críticas sociais, sobretudo em relação ao racismo e violência policial, ainda que no original o fantasma do Candyman tenha feito muitas vítimas negras (o que foi corrigido no atual).
Embora escrito, dirigido e protagonizado por pessoas negras, e traga, de fato, uma visão crítica e relevante de discussões de cunho racial, muitas vezes o filme parece não ter em mente o público negro, fazendo explicações desnecessárias e excessivas sobre coisas que tópicos que seriam facilmente compreendidos por pessoas minimamente engajadas com a causa, o que traz um tom didático em cenas que poderiam se valer mais da emoção do que da explicação.
As cenas de terror são brilhantemente dirigidas por Nia DaCosta (que com esse filme se tornou a primeira diretora negra a dirigir um filme líder de bilheteria nos EUA), nos atos mais violentos é criado um suspense ocultando o ato em si e partindo para as consequências dele, e o mistério é criado de forma tão inteligente que consegue criar mais tensão do que a violência explícita faria. O elenco também contribui para o sucesso do filme, apesar de não ser a melhor atuação de Yahya Abdul-Mateen II, ele ainda entrega um protagonista cativante para a trama.
A Lenda de Candyman não chega a superar seu predecessor, mas faz jus à lenda e é capaz de agradar tanto os fãs antigos quanto os que estão chegando agora, trazendo uma roupagem atual e original sem manchar o clássico.