“A Luz no Fim do Mundo”, longa de estreia na direção do ator Casey Affleck, é, antes de ser um filme genérico de temática pós-apocalíptica, um filme sobre amor. Não o amor romântico ou algo que o valha, mas o amor entre um pai preocupado e sua filha questionadora. Em um mundo cujas mulheres foram dizimadas por uma doença não detalhada pela trama, o personagem de Affleck, que além de dirigir o filme é o protagonista, faz de tudo para proteger sua filha Rag.

Essa proteção do pai sobre sua filha aparece de duas formas essenciais: mantendo sua inocência, sua infância, diante das adversidades, algo como em “A Vida é Bela” (1997, dir. Roberto Benigni) e salvando sua vida, seja elaborando estratégias de fuga, encontrando lugares seguros ou dizendo a outras pessoas que tem um filho, afinal Rag é uma das poucas mulheres que restaram nesse mundo. A questão de gênero, por causa disso, percorre o filme. A instabilidade social, ou a própria existência de um perigo iminente, no ponto de vista do pai, é consequência de uma sociedade que não conseguiu se reestabelecer após a morte da maioria de suas mulheres. As que restaram possuem apenas uma função reprodutiva ou sexual. Isso é uma boa aplicação de um elemento geralmente presente em ficções científicas ou em filmes de terror que é a extrapolação de um conceito para tratar de questões materiais e atuais, ou seja, somos levados a um extremo para melhor entender o que acontece em momento anterior. Dessa forma, “A Luz no Fim do Mundo” consegue tratar de questões relevantes, mesmo que sutil e até despropositadamente, através desse tipo de narrativa.

Apesar de conter uma premissa interessante e momentos muito bonitos, o filme tem suas falhas. Parece ser mal resolvido se a direção queria que este fosse um filme intimista, sobre paternidade e superação ou um filme pós-apocalíptico genérico com cenas de ação entediantes. Mas fosse a intenção ser o primeiro, que é o melhor elemento do filme, seu ritmo, ou seja, sua montagem, não acompanharia esse caráter, afinal constantemente se espera algum conflito e quando ele acontece acrescenta pouco ou nada à trama. O filme merecia mais momentos de ternura entre pai e filha. E, por outro lado, fosse a intenção ser o segundo, a trama é pouco detalhista sobre os elementos que tornam aquele mundo pós-apocalíptico, deixando o filme em um limbo entre essas duas caracterizações.

“A Luz no Fim do Mundo” é, desta forma, um filme que agrega diversos fatores bons, mas que os conjuga de forma não correspondente. As atuações, os cenários, o figurino e a fotografia são impecáveis, mas as escolhas da direção e do roteiro especificamente no segundo ato da trama são questionáveis. No entanto, trata, à sua maneira, de questões interessantes e de forma sensível e bonita, cujo desfecho representa o crescimento conjunto dos personagens ao longo do filme, separados por traumas, mas unidos pelo amor.

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