Indicado pela Argentina na corrida pelo Oscar 2020 e dirigido por Sebastián Borensztein, conhecido pelo ‘’Um Conto Chinês’’, a comédia dramática originalmente ‘’Odisea de los Giles’’ é adaptação da obra ‘’La Noche de la Usina’’, de Sacheri. Pela tradução em português talvez não fique claro, mas o ‘’Gile’’, segundo Sebastián, é justamente o trabalhador oprimido pelo sistema, contendo assim a crítica logo no título do longa.
A história se passa em 2001, em uma pequena cidade no interior da Argentina, onde o protagonista Fermín Perlassi (Ricardo Darín) tem a ideia de investir em uma metalúrgica desativada e transformá-la em uma cooperativa agrícola, na intenção de dar novas oportunidades de emprego aos humildes moradores locais. O ex-jogador de futebol se reúne com alguns amigos e o projeto se inicia. Tudo está bem encaminhado, porém da noite para o dia a situação toma um rumo diferente e sem delongas o país começa a enfrentar o ápice da crise econômica.
O desenrolar do longa-metragem acontece baseado na sede de vingança e justiça dos personagens principais e é incrível como cada personalidade se assemelha com as pessoas da vida real.
O diretor desenvolveu a trama de uma maneira que as críticas políticas são acompanhadas de piadas, mas que não se sobressaem em relação à história da vida dos moradores que lutam para não afundarem com a crise.
Em entrevista exclusiva, Sebastián Borensztein e o produtor Federico Posternak contam que sem o humor esse filme seria quase impossível de ser produzido e que foi fundamental para sua realização. ‘’ A crise só se firmou em 2018 e a melhor forma para se processar essa dor social é através da comédia. Sentimos que poderíamos dar uma dose de humor no meio de uma tragédia social, coletiva e também individual’’, diz Sebastián. O diretor ainda complementa da seguinte forma: “Qual a razão para contarmos uma história que já vivemos se não trocarmos seu ponto de vista? ’’
A história original não contém mulheres, mas mesmo assim Sebastián quis adaptar aos dias atuais inserindo personagens como Lidia (Verónica Llinás) e Carmen (Rita Cortese). Ele afirma que essa inserção foi muito pensada com a equipe e que fizeram todo o possível para acrescentá-las. ‘’Na época não existia esses movimentos feministas, a mulher tinha menos espaço na sociedade. Não quisemos trair a história, nem o tempo, então demos espaço a elas, mas de uma maneira crível e não forçada’’, pontua.
Odisea de los Giles muito bem dirigido e produzido que tem como norte retratar os tontos versos os opressores, emociona ao mesmo tempo que diverte o público. O filme ainda conversa com as crises de muitos povos e culturas. ‘’Nosso filme conversa com todo o mundo. Toda sociedade tem suas crises e insatisfações com seus governantes, essa é nossa maneira de dialogar internacionalmente’’, finaliza Sebastián.