Laureado este último sábado (26) com o prêmio Espiga de Prata – na semana Internacional de Cinema na Espanha e o prêmio da mostra paralela Un Certain Regard (Um Certo Olhar) – a segunda mais importante no Festival de Cannes – A Vida Invisível é poeticamente admirável. É um grande filme, de fortes sentimentos, que deixa qualquer brasileiro orgulhoso do nosso cinema. Ainda mais que o longa está cotado para representar o país no Oscar 2020.

A Vida Invisível não se limita apenas a sua beleza como um todo, atingindo uma amarga crítica a um Brasil machista e conservador. A fascinante obra tem como prólogo o amor entre irmãs e a trajetória de seus rumos, com um epílogo que dará motivos de sobra para te levar aos prantos. Isso, sem mencionar os diálogos impactantes contíguos a majestosas cenas.

Baseado no livro homônimo de Martha Batalha, o filme nos leva ao Rio de Janeiro no início da década de 1950, nos apresentando duas irmãs com personalidades diferentes: Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler). Eurídice, de 18 anos, é doce e tem um sonho em ser pianista e entrar para um conservatório em Viena, na Áustria. Enquanto Guida, de 20 anos, é imoderada, sem muitos planos para o futuro e resolve fugir para a Atenas com um grego bonitão. Eurídice é quem encobre as saídas matinas de Guida a quem confidencia suas aventuras sexuais com o grego. Guida, que se sente presa em uma casa chefiada por um pai autoritário e uma mãe que obedece à suas rígidas regras, decide se eximir para sair daquela situação, deixando apenas uma carta.

Porém, o futuro que Guida achara que teria com o grego, toma um rumo totalmente diferente. Separadas, as duas irmãs traçam destinos  diferentes, carregando a mesma dor de angústia e saudade uma da outra.

O cearense Karim Aïnouz apresenta um sutil retrato de um Brasil totalitário masculino, que se permeia desde a antiguidade e permanece presente, adaptando uma história linear sobre este tema, que resulta numa satisfatória crônica familiar, descrita por ele mesmo de ‘’melodrama tropical’’.

Karim faz um retrato honesto sobre o mundo feminino com duas irmãs como o foco da história, algo já visto em As Duas Irenes. O roteiro discute abertamente temas poderosos, com diálogos afiados sem cair no melodramatismo barato. Contrário disto é o modo como o filme se apoia no carisma do elenco refinado – em especial Fernanda Montenegro que, sem muito esforço, dá um show nos momentos finais.

Drama sensível que nos prova, através das dificuldades de suas protagonistas e suas tramas paralelas, que quando amamos, não esquecemos. Dentre estas reviravoltas que o filme tem de mostrar que mulheres podem tomar seu lugar em um mundo machista, A Vida Invisível é uma agradável ode à alma feminina reprimida imposta por uma tradicional sociedade opressora pelo machismo. Imperdível.

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