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Passaram-se quase vinte anos desde o lançamento do primeiro livro da série Harry Potter, escrita por J. K. Rowling, ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’ (1997), que foi acompanhada por toda uma geração, hoje já adulta. Já se vão cerca de dez anos desde a publicação do último livro da saga, ‘Harry Potter e as Relíquias da Morte’ (2007), seguido de ‘Os Contos de Beedle, O Bardo’ (2008). Os leitores que não tinham novas histórias durante todo este tempo, foram contemplados neste ano com o lançamento em livro, da peça de teatro, ‘Harry Potter e a Criança Amaldiçoada’ (2016).

No cinema, foram-se quinze anos desde o primeiro filme ‘Harry Potter e a Pedra Filosofal’ (2001) e cinco desde o último filme ‘Harry Potter e as Relíquias da Morte’ – Parte 2’ (2011). Muitos dos fãs mais jovens na época, sejam leitores ou espectadores, considerando-se que tinham entre cinco e dez anos quando tiveram o primeiro contato com as histórias do bruxinho, hoje são jovens adultos e em alguns casos, já são até pais. Com o lançamento de ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ (2016), agora eles vão ter uma nova experiência, ao levar seus filhos ou irmãos menores, para terem seu primeiro contato dentro da sala de cinema com o “mundo bruxo”.

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Crédito: Divulgação

Só estes fatores já seriam suficientes para garantir o sucesso de ‘Fantastic Beasts and Where to Find Them’, que somados ao sentimento de “nostalgia”, que será proporcionado a um público ansioso em voltar ao mundo de Harry Potter e seus amigos, é um ambiente propício para que o filme se torne um dos mais rentáveis de 2016. David Yates, diretor conhecido pelos quatro últimos filmes da própria franquia “Potter” e que estreou este ano outro longa-metragem, o visualmente exagerado ‘A Lenda de Tarzan’ (2016), retorna na direção. A Warner Bros. demonstra que confia muito no trabalho dele, pois já o escalou para todas as próximas quatro continuações de “Animais Fantásticos”. Isso se justifica pelo fato de que Yates, apesar de não projetar nada de caracteristicamente mais original ou autoral, como os outros diretores das primeiras produções, Chris Columbus e Alfonso Cuarón, pelo menos mantém um trabalho coerente e que ascende em qualidade técnica a cada continuação.

A escolha de Eddie Redmayne para interpretar Newt Scamander certamente foi a mais correta, os próprios produtores revelaram que nunca houve a intenção de escolher outro, senão Redmayne. Conforme relataram, a sua confiança nele foi ainda mais reforçada, com a boa vontade do ator britânico em ensaiar incansavelmente com os demais atores interessados nos outros papéis, o que geralmente nem todo ator recém “oscarizado” se dispõe a fazer. Assim como Eddie se encaixou perfeitamente em personagens anteriores, como em ‘A Teoria de Tudo’ e ‘A Garota Dinamarquesa’, também não conseguimos imaginar outro ator que ficasse tão bem como Scamander. Seus trejeitos delicados e introvertidos nos convencem facilmente que ele é uma espécie de “nerd bicho-grilo”, fascinado com os animais fantásticos e que se identifica mais com eles do que com humanos. Essa versatilidade demonstra ainda mais a qualidade de atuação de Redmayne e confirma que foi acertada a decisão da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de premiá-lo em 2015.

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O ponto forte do “universo Harry Potter” sempre foi sua construção do mundo mágico e os animais de fantasia sempre se apresentaram como uma característica deslumbrante, a mais, em toda a série. Utilizar o livro ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ (2001), escrito por Rowling, sob o pseudônimo de Newt Scamander era a escolha obvia para uma nova franquia mágica, com incontáveis possibilidades para serem exploradas nos próximos filmes. Como esperado, a gama de bichos mágicos apresentada já neste primeiro longa é muito criativa e provavelmente vai encantar os fãs, tanto crianças quanto adultos, principalmente por causa de seu apuro visual, que utiliza os efeitos especiais, mais aprimorados em relação aos primeiros filmes, que a atual tecnologia proporciona. Todos os animais mágicos são muito “reais” e não decepcionam o nosso imaginário.

Inegavelmente este é um filme mais “maduro” com temas mais “sérios”, o que era necessário para uma série que se estende em sua segunda década e planejada para uma terceira. Temas mais políticos, como leis, guerras e proteção da fauna ambiental estão mais desenvolvidos aqui. Entretanto, o roteiro original escrito pela própria autora dos livros, apesar de saber apresentar novos personagens carismáticos, como conhecemos de seus livros, perde um pouco de qualidade, por se obrigar a criar “pontes” para as continuações. Era necessário estabelecer novos elementos mitológicos e lendas, assim como conectar com a franquia original, mas há um excesso de referências neste primeiro filme, que só se desenvolverão na segunda ou terceira continuação. A direção de Yates está mais segura, conseguindo manter um tom narrativo coerente durante os três atos, mesmo que nem sempre pareça estar em consonância com o ritmo cadenciado e de suspense, que Rowling tenta atribuir a sua escrita. Provavelmente isso se dá pela necessidade de que a história seja mais ação do que suspense, para segurar a atenção até do público infantil mais jovem.

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Personagens e seus respectivos atores como Porpentina Goldstein (Katherine Waterston), Jacob Kowalski (Dan Fogler) e Queenie Goldstein (Alison Sudol), conseguem empolgar com suas atuações e carisma. Porém, outros como Percival Graves (Colin Farrell), Credence (Ezra Miller), Mary Lou Barebone (Samantha Morton) e especialmente Gellert Grindelwal (Johnny Depp), estão subutilizados e poderiam ter contribuído muito mais se tivessem mais tempo em tela, infelizmente vamos ter que esperar para ver mais deste último citado só nos próximos longas. ‘Animais Fantásticos e Onde Habitam’ nos transporta de volta para o rico universo da magia, do qual os fãs já estavam com saudade, com competência, e apesar de alguns defeitos característicos de filmes que iniciam uma franquia, empolga e deixa expectativa esperançosas para as suas continuações.

A temática pró-fauna do longa-metragem, que aborda extinção de espécies (ainda que representando animais imaginários), chega em boa hora e até tardia. Vide documentários como o recente ‘O Extermínio do Marfim / The Ivory Game’ (2016) da Netflix, que mostra o extermínio dos elefantes africanos. Esperamos que ‘Fantastic Beasts and Where to Find Them’, sirva para despertar nossas consciências no futuro, sobre a importância de preservarmos nossos verdadeiros “animais fantásticos”, que podem ser extintos mais rápido do imaginamos. Caso isso não ocorra, em poucas gerações, só nos sobrará os animais selvagens de grande porte, “imaginários”.

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