Talvez nos dias de hoje não seja nenhuma novidade ou um escândalo satirizar os horrores da Segunda Guerra Mundial – algo já feito por Charles Chaplin em O Grande Ditador (1940), com seu discurso que entrou para a história do cinema. Com isso, é perceptível que, se um bom diretor sabe tirar proveito de um roteiro cômico, o filme cumpre sua função. Este é o caso de Jojo Rabbit (com data de estreia prevista para fevereiro de 2020), grande vencedor do principal prêmio do Festival de Cinema de Toronto e indicado ao Globo de Ouro nas categorias de Melhor Filme Comédia ou Musical e Melhor Ator para o novato Roman Griffin Davis –  o que só reforça a possibilidade de indicações no Oscar do ano que vem.

O diretor neozelandês Taika Waititi não apenas conduz esta sátira mordaz, como também assina o roteiro (baseado no livro Caging Skies, de Christine Leunens, publicado em 2008), a produção e, de quebra, interpreta um Adolf Hitler afrescalhado, idiota e infantil, visto sob o olhar de um garoto de dez anos na fictícia cidade alemã de Falkenheim.

Johannes Betzler (Davis) é um garotinho de dez anos que cresceu numa Alemanha fascista, e vive como aspirante a nazista. Em seu subconsciente, possui a ideia de que Hitler teria de se juntar a ele para encarar a guerra ao lado de seus amigos compatriotas. Jojo, como é chamado, faz uma breve alusão de como ele o auxiliaria durante os treinamentos. O porém disso tudo é que Adolf é um medroso e inofensivo, sem muito colaborar.

Prestes a acabar a Segunda Guerra, Jojo recebe a tarefa de matar um coelho quebrando-lhe o pescoço. Ao recusar, é humilhado e apelidado com o termo que dá nome ao longa. Aconselhado por seu amigo imaginário em provar sua força, toma uma atitude que resulta em sua suspensão. Retornando para casa, descobre que sua mãe abriga uma jovem judia.

Esta sátira nada benévola do universo nazista lida perfeitamente com horrores ocorridos da época e a inocência de crianças aprendendo a repugnar judeus e guardar ensinamentos, tais como o machismo – em uma icônica cena de Sam Rockwell. Porém, o sarcasmo vai muito além de figurar um Hitler néscio ou um garoto com uma figura totalitária como definição de moral. A maior qualidade de Jojo Rabbit está em sua narrativa. Todos os personagens que rodeiam o garoto – em especial sua mãe (Scarlett Johansson) – mostram exatamente o lado oposto do que lhe foi lecionado durante a Segunda Guerra.

Jojo Rabbit é um filme requintado com uma deslumbrante fotografia em tons pastéis – dirigida por Mihai Malaimare Jr – que lembra muito o fofo e gracioso Moonrise Kingdom (2012), de Wes Anderson e uma gostosa trilha sonora. O filme tem um ritmo frenético quando precisa ser, assentando perfeitamente os momentos de tensão, com os momentos carinhosos, dramáticos e claro, os jocosos que zombam de Hitler.

Divertido e sagaz, Jojo Rabbit também é um retrato da manipulação pueril em um conturbado cenário de guerra, abordando assuntos polêmicos. Com muito a dizer sobre o regime de terror, apesar de parecer ser um filme aparvalhado, é uma obra madura que agrada pelo seu simpático bom humor corrosivo, mas ao mesmo tempo amorável.

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