O terror Army of Dead da Netflix se mostra confuso e sem propósito.
No cinema, alguns diretores marcaram sua carreira por encontrar um estilo e assim deixar um legado da sua obra cinematográfica. Nomes como Alfred Hitchcock e Sergio Leone ficaram marcados para sempre no gênero Suspense e Western, respectivamente, por renovarem o gênero e trazerem um estilo próprio aos seus filmes. Ser autoral é um desejo legítimo de grandes artistas e diretores de cinema.
Mas, fica claro que na obra desses grandes diretores não havia o desejo exclusivo de deixar apenas uma marca de estilo e sim de contar grandes histórias. Dessa mesma forma, despretensiosamente, George A. Romero conseguiu em 1968 em seu primeiro filme “A noite dos mortos vivos” não só criar um estilo, mas um gênero: filmes de zumbi.
Em busca do seu estilo próprio, o diretor Zack Snyder lançou o seu autoral “Army of Dead – Invasão em Las Vegas” na Netflix. Os mortos vivos não são novidade para o cineasta que estreou como diretor numa refilmagem de um clássico de Romero chamado “Madrugada dos Mortos” em 2004
Seu retorno aos zumbis não parece um reencontro com o início da carreira. Pelo contrário, parece uma sucessão de ressentimentos dos fracassos recentes. No filme, Scott Ward (Dave Bautista) é convidado a retornar a uma Las Vegas isolada por uma infestação de zumbis com um grupo de mercenários para resgatar uma fortuna em dinheiro.
A premissa rasa se soma há quase 40 minutos de takes exaustivos e repetitivos em slow motion, esse sim um estilo do diretor, e não se sustenta em 148 minutos de filme. O roteiro tem plots preguiçosos que se resolvem rapidamente e personagens sem carisma nenhum em diálogos inúteis quase que o tempo inteiro.
Os zumbis são um capítulo à parte do filme. Se em “Madrugada dos Mortos” ele conseguiu a atenção da crítica com um arco interessante e uma caracterização boa dos mortos, neste longa, Zack Snyder parece ter aproveitado o visual dos parademônios de Liga da Justiça (tentando criar um novo tipo de zumbis chamados de Alfa). Ao mesmo tempo, estabelece regras confusas para os mortos, como mantê-los numa espécie de transe e um jogo onde os vivos podem trocar reféns com mortos. Sim, eu sei que não faz sentido se objetivo dos mortos é se alimentar dos vivos. Mas, pra ele fez.
A fotografia, também assinada por Snyder, explora pouco os cenários naturais de Nevada e aposta no CGI e em planos pouco inventivos. O filme termina sem fazer muito sentido e parecendo ter durado mais do que o encontro de heróis da DC. Nos resta torcer para que nenhuma petição de internet motive alguém a lançar mais 3 horas de cenas deletadas desse longa que passou longe do legado de Romero e não foi bem sucedido tentando copiar “Eu sou a Lenda”.