O sonho de ser jogador de futebol se torna muito mais que um simples sonho quando se corre atrás e tem determinação. Para que isso venha se realizar, não basta só almejar. Tem que ter talento. É isso que vemos no filme de Ives Rosenfeld, em seu primeiro longa. O que mais chama a atenção é o jeito realista de como é conduzido por fazer dele uma obra emotiva, focado no desejo de mudar de vida. A pobreza, claro, se faz presente e é mais uma razão para seus protagonistas quererem ter uma vida melhor.
Vencedor do prêmio Carte Blanche no Festival de Locarno na Suíça – que é dedicado a filmes ainda em fase pós-produção feitos por pessoas com aptidões para indústria cinematográfica da América Latina, África, Ásia e da região dos Balcãs. Recebeu um custo de onze mil para auxiliar no custo do projeto em agosto de 2014. Além de vencer nas categorias de direção de ficção, atriz coadjuvante (Júlia Bernart) e melhor ator (Ariclenes Barroso) no Festival do Rio 2015.
‘Aspirantes’ conta a história de Júnior (Ariclenes Barroso do ótimo ‘Tatuagem’’) um jovem proletário que joga num time amador ‘Baxaxá F.C.’. A vida do rapaz não é um mar de rosas fora do campo: vive sob as humilhações do tio alcoólatra com quem mora (não é mencionado nada em relação aos pais dele), trabalha exaustivamente em um armazém e como se não bastasse, recebe a notícia de que sua namorada está grávida e fica sem treinar por uns dias. Júnior tem um amigo, o Bento que é amigo para todas as horas. Os dois jogam no mesmo time e Júnior com todos estes problemas que cercam sua vida, fica com ciúmes quando Bento assina seu primeiro contrato. Mas, o porém é que Bento é mais ágil e talentoso que ele, e Júnior contava com seu esforço nos treinos para conseguir sair do sufoco. A partir daí o espectador presencia uma mudança de personalidade do garoto por ele enxergar seu melhor amigo como um rival dentro e fora do campo.
‘Aspirantes’ nos mostra que um possível sonho pode ser possível quando se tem maturidade suficiente para encarar os obstáculos que a vida se encarrega de pôr e na figura de jovens, tendem a se dar por derrotados. Mas, se a esperança vai por água abaixo, junto a ela vai à motivação como também a vontade de vencer a pobreza. Ives passa isso de maneira precisa e objetiva com a ajuda do elenco que consegue extrair com perspicácia cada um de seus personagens. O motivo de querer fazer um filme sobre o futebol foi a paixão que ele tem pelo jogo esportivo. ‘Aspirantes’ tem dois lados que podem ser percebidos logo de cara: o estudo psicológico de Júnior (na verdade, ele está preparado psicologicamente apenas para o esporte) e a crítica social que se torna o cartão postal do filme.
Apesar de como as coisas fluem, a simplicidade é o que dá um certo charme, como a sequência de primeiro plano com os adultos ofuscados muito bem esquematizadas (é impossível não notar esta referida cena da conversa entre o protagonista e a família de sua namorada – em especial a atuação de Karine Teles que faz a sogra de Júnior). As cenas de futebol, são boas e com um jeitinho bem autêntico e brasileiro de se tratar do assunto – de fato, é ágil e bem cuidado. Apesar de certos desfechos dramáticos que em curto prazo se prevalecem, a atenção é mantida também por que pula de ângulos tanto em atividades esportivas, quanto na tentativa de Júnior superar as dificuldades.