Já se tornou bastante comum novas versões de contos de fadas que tentam reinventar a obra original e conquistar o público com a mesma história, mas execuções diferentes. Algumas podem ser mais coloridas e animadas, como “Cinderela”, do Prime Video, que mesmo chamando atenção, ficou marcada como uma obra fraca e esquecível; já outras, conseguem ser mais rebuscadas e inovadoras, como “Maria e João”, que reconstrói a história com elementos de suspense e terror.
Ainda que o filme Belle, do aclamado diretor japonês Mamoru Hosoda, siga por essa mesma proposta, consegue ir muito além e entregar um conteúdo não só inovador, mas que também consegue surpreender e impressionar o público tanto visualmente quanto narrativamente.
Disto isso, também não é novidade pra ninguém que os animes, as tão faladas animações japonesas, estão conquistando um espaço cada vez mais amplo no ocidente. Indo muito além dos populares “Naruto” e “Dragon Ball”, os animes se tornaram um fenômeno que contempla ótimos filmes, como os aclamados “Your Name” e “Weathering With You”, que trazem histórias tocantes contempladas com ótimas animações, e Belle não é diferente disso.
Na verdade, chamar o novo filme de Hosoda de ótimo chega a ser quase um eufemismo. A obra é deslumbrante não só visualmente, com uma belíssima estética repleta de cores chamativas e encantadoras, mas também no âmbito sonoro. As músicas do filme também são de um encanto sem tamanho, conseguindo emocionar facilmente seus espectadores com letras e melodias cativantes. Dessa forma, a junção de ambas as estéticas, visual e sonora, apresentam uma experiência hipnotizante para o público que se permite seguir com a imersão da obra.
O roteiro de Belle também é um fator tão digno de exaltação quanto seus aspectos visuais e sonoros. A trama acompanha Suzu, uma tímida estudante que vive em uma vila rural, mas que consegue se expressar e mostrar seus talentos musicais quando entra na popular realidade virtual chamada “U”. Em um determinado dia, seu show neste mundo virtual é interrompido por uma criatura monstruosa sendo perseguida por jogadores vigilantes, e Suzu decide investigar para descobrir a identidade por trás dessa persona.
Além das questões mais óbvias, como autoestima e realidades virtuais, a obra se expande para abordar outros temas importantes, como luto e abuso infantil. Entretanto, ainda que se aprofunde em questões tão sérias, o filme não deixa de lado momentos divertidos e descontraídos ao longo das suas duas horas de duração.
A história, executada de forma esplêndida, leva o espectador por um caminho curioso de dúvidas e possíveis suspeitos para se descobrir quem está por trás da persona da Fera, surpreendendo com um final surpreendente e pra lá de emocionante, chocando até os espectadores mais atentos.
Belle é, portanto, uma obra fascinante que prova, mais uma vez, que os filmes de anime merecem muito mais atenção e um espaço maior nos circuitos cinematográficos do ocidente. Traz consigo uma trama que varia entre o leve e o impactante que, ao fazer jus ao nome, é agregada com estéticas deslumbrantes que nos fazem lembrar quão belas animações podem ser.