CAMINHOS DA MEMÓRIA | PASSADO E PRESENTE SE MISTURAM EM FICÇÃO CIENTÍFICA POUCO MEMORÁVEL

Num futuro não tão distante, mudanças climáticas afetaram diretamente o estilo de vida dos cidadãos de Miami. A cidade está quase toda submersa (os ricos vivem na terra seca, enquanto os pobres vivem na iminência de afogar, é claro) e o calor abundante durante o dia fez com que os cidadãos se adaptassem à uma vida noturna. Para completar, guerras pioraram as condições de vida e a cidade segue em decadência.

Nesse contexto, Hugh Jackman é Nick, um veterano de guerra que agora ganha a vida às custas de reviver memórias. Existe uma câmara que, com algum tipo de tecnologia inventada, é capaz de reproduzir as memórias das pessoas como se estivesse acontecendo em tempo real e ainda faz com que a pessoa relembre não somente os acontecimentos, mas também as sensações. Como a vida real vai de mal a pior, muitos encontram refúgios nas lembranças de dias melhores ou daqueles que já se foram. Nick opera essa câmara e guia os clientes por suas memórias, uma vez que mexer com o cérebro dessa forma pode ser perigoso, e quem o ajuda nos negócios é Watts (Thandiwe Newton), uma veterana durona com problemas pessoais e uma paixão nada discreta, mas reprimida por seu chefe.

Tudo ia bem, na medida do possível, até que Nick e Watts são procurados por Mae (Rebecca Ferguson) sob o pretexto de que precisa procurar na sua memória onde é que ela perdeu suas chaves, mas Nick se apaixona por Mae quase que imediatamente, ela faz o tipo femme fatale, meio Jessica Rabbit e logo eles estão vivendo um grande romance, mas de repente Mae desaparece e  desesperado, Nick começa a se utilizar de suas memórias e de outros também, para tentar procurá-la, encontrando no caminho um submundo muito mais sujo e violento do que poderia acreditar.

É impossível assistir a Caminhos da Memória sem lembrar de muitos outros filmes que, claramente, serviram de influência. Escrito e dirigido por Lisa Joy, uma das criadoras da série de sucesso Westworld, da HBO e produzido por Jonathan Nolan, que além de marido da Lisa Joy e co-criador de Westworld, é também irmão de Christopher Nolan, talvez a maior referência desse filme seja “A Origem”, sobretudo quanto à estrutura do roteiro que, assim como em “A Origem” em que as camadas dos sonhos eram usadas para confundir o espectador, aqui as memórias fazem essa papel. Muitas vezes o tempo linear que conhecemos é ignorado e as memórias entram em jogo para que a gente fique sem saber se a cena está acontecendo em ordem cronológica ou se se trata de uma memória revisitada.

Caminhos da Memória é não só uma mistura de referências, mas também uma mistura de gêneros, flertando com a ficção científica, passa também pela ação e por uma versão ou pelo menos uma tentativa, de filme noir, mas alguns problemas impedem que o filme tenha sucesso em qualquer um desses gêneros. A ideia central do filme é apresentada de forma instigante, mas não sem deixar diversas dúvidas que ficam sem respostas até o final, ainda que exista uma tentativa de solucioná-las. Os personagens também começam promissores, principalmente Mae que passa por algumas reviravoltas, mas no final das contas, tanto as tramas quanto os personagens acabam caindo em clichês a todo momento e nem mesmo os atores de alto calibre conseguem salvá-los.

Contando com um elenco de primeira, uma boa ideia e visuais impressionantes, Caminhos da Memória poderia ter sido muito mais do que um filme mediano, mas a execução impediu que ele chegasse lá e se tornasse um filme bom para guardar na memória.

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